20 abril, 2022

Alaíde do Bloco do Cariri - por José Melo

Filha de Alaide recebendo placa em homenagem 
a um dos foliões mais antigos de Custódia, 
durante o I Baile Municipal em 2009 no CLRC.

Alaíde era uma figura bastante popular em Custódia. Alto, forte, preto, tinha no sangue a ginga da raça negra. Seu jeito de andar, o trato nas unhas, o falar – um misto de carioquês com sertanejês eram notas marcantes nessa figura de muitas histórias pitorescas da Custódia de ontem.

Manteve por longos anos, uma das mais vivas tradições do carnaval em Custódia: o bloco do Cariri, misto de troça e bloco, que saía toda meia noite do sábado de Zé Pereira, acordando a pacata população dorminhoca da cidade. A meninada fazia de um tudo para não dormir antes do Cariri passar, com sua música característica:

Lá vem o cariri aí,
Com o saco de pegar criança
Pegando as moças solteiras,
Pega tudo quanto a vista alcança.

No bloco, as meninas de Carí, a respeitável chefe do Sipitinga, apelido dado à zona do chamado Baixo Meretrício. Carí comandava o bloco das meninas, auxiliada por sua fiel escudeira Hozana, mulher calma, baixinha, que iniciou tantos jovens na vida mundana do sexo.

Nem por isso o Cariri ficava restrito aquele mundo: naquela ocasião, democraticamente toda a respeitável sociedade custodiense estava representada no Cariri. Jovens de todas as idades, senhores respeitosos, crianças, enfim, ao sexo masculino era permitida a participação plena naquele evento, que ocorria sem nenhum problema, sem excessos e sem exageros, pois a única obrigação de quem participava era brincar ordeira e alegremente.

Com um megafone, Alaíde fazia as vezes de mestre de cerimônia, determinando o roteiro, o ritmo, os passos, enfim, coordenando todo o desfile do bloco, que saía do Alto da Cadeia, passava pela Rua da Remela, descia a Avenida Manoel Borba, circundava o Quadro – como era chamada a Praça Padre Leão, sempre cantando e dançando ao som de sanfona, zabumba, violão e tudo o mais que produzisse barulho.

Ao raiar do dia, o bloco retornava ao ponto de origem e se dispersava tranquilamente, cada um seguindo a sua rotina de sempre, e aguardando o carnaval do próximo ano, para mais uma vez alegar a madrugada dos domingos de carnaval de Custódia.

Texto: José Soares Mélo (jotamelo@exatta.com)

5 comentários:

  1. Paulo.
    Organiza uma ginkana aí na cidade.
    Aquele que conseguir uma foto do Alaíde Silva Carvalho para enriquecer (mais?) este texto do Zé Melo, ganhará um brinde especial que mandarei daqui da Bahia.
    Fernando Florencio
    Ilheus/Ba
    Em tempo: Alaide já devia ter seu nome gravado em placa numa rua de Custódia

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  2. Que bons tempos! Em que a alegria imperava sem desordem, sem excesso de álcool e sem essa violência dos dia atuais.

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  3. Eu sou de lá também, sou filha de José Severino. Muita saudade dos bons tempo, me chamo Maria do Carmo moro em Juazeiro Bh

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  4. Que maravilha de texto, Zé Melo! Você recompõe incrivelmente, no que escreve, fatos e figiras que caracterizam bem e com precisão nossa Custódia de ontem. Penso que reunir num livro esse rico material, produzido e a produzir, seria uma bela forma de preservar a história de nossa terra. Para o bem de todos, considere essa possibilidade.
    Laíse Rezende

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    1. Venho pensando nisso ultimamente, e quem sabe, quando voltarmos a normalidade total - ainda temos resquícios da pandemia que leva algum tempo para superar, a gente possa voltar a tentar fazer isso?

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