A comida honesta no Dnocs ¹
Em “Redescobrindo Custódia”, o jornalista Guto Moraes narra experiências pessoais vividas no cotidiano de sua cidade natal. A sessão será publicada, quinzenalmente, no Blog Custódia: Terra Querida.
Às margens do Açude do Dnocs moram Fátima e Gilberto Cordeiro. O reservatório de água instalado no Sítio Marrecas, área rural de Custódia, atrai o público pela pesca e pelo mergulho. Como alternativa à sobrevivência, o casal mantém no local um humilde bar e restaurante, sem nome. Uma das melhores descobertas que fiz nas saídas para tomar banho de barragem e sol, aos fins de semana. O ambiente é cinematográfico.
O bar remete aos empreendimentos improvisados e tão característicos dos interiores brasileiros. No terreiro, a sombra de uma algaroba e o sopro de uma brisa fresca fazem o tempo escorrer manso. Nas ocasiões em que ali estive, fui brindado com aboios e toadas. Coisa cada vez mais rara, infelizmente. Se a vaquejada é cultura nossa, sua música raiz tem perdido espaço nos bares custodienses.
Ali, os primeiros clientes — e os mais espertos — podem pedir a caixinha portátil do lugar, uma réplica da JBL, e definir o repertório. Seu Gilberto é desenrolado, está sempre atento ao cliente e, com isso, proporciona aquela experiência calorosa típica de casa de vó. Outros familiares do casal auxiliam. Como é o caso de Maria, que sai do distrito da Maravilha para ajudar a irmã Fátima na cozinha.
Comida honesta e afetiva, que exige respeito. Lá, o prato de xerém com galinha de capoeira custa R$ 10. Serve bem duas pessoas. Igualmente a buchada e feijoada, preparadas com todo o cuidado e satisfação para os poucos que chegam, seja pela localização ou pela pandemia. Logo que der, conto mais sobre eles, que descobri algum grau de parentesco no Dia das Mães, quando almoçava com minha Dona Adeilda.
Na minha cidade, a gente sempre é primo ou parente de alguém em algum grau ou “por traz de alguma serra”, como brincamos. Minha amiga e futura contadora Raianny Freitas diz que sou primo de todo mundo. Respondo que conheço pouco minha família. Para se ter ideia: da parte de mãe, são duas. Até onde sei, só não tem gente no Sul do Brasil. Uma história que começa na Paraíba, no município de Juru, mas que fica para outra hora.
¹ Texto ampliado. Publicado originalmente no dia 9 de maio de 2021, em instagram.com/gutomrs
ɢᴜᴛᴏ ᴍᴏʀᴀᴇs é ᴊᴏʀɴᴀʟɪsᴛᴀ.
Cria do município de Custódia, no Sertão de Pernambuco, atua como repórter e redator na Assessoria de Comunicação da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Interessado em indústria cultural, sobretudo, música, cinema e publicações independentes nacionais. É criador da Revista Dona Custódia. Passou pelas editorias de Cotidiano e Online, da Folha de Pernambuco, e colaborou com Diario de Pernambuco, Catraca Livre e Revista O Grito!.
OFERECIMENTO
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