Por Helena Conserva
Por toda parte do Brasil no dia 8 de março houve uma movimentação em reconhecimento à luta que travamos ao longo desses 100 anos para demarcar nosso território e conquistar nosso papel na sociedade. Apesar de 100 anos ter se passado, a luta continua.
O Jornal Hoje noticiou, no centenário da comemoração do Dia Internacional da Mulher, um estudo dizendo que no trabalho rude da terra, as mulheres ainda são discriminadas, rejeitadas e esquecidas. A elas não são oferecidas as mesmas chances que são dadas aos homens. As mulheres no campo não são apenas mal pagas, mas também são aproveitadas em trabalhos temporários, as suas áreas de cultivo são menores e elas têm muito menos acesso aos insumos do que eles.
Em Serra Talhada as trabalhadoras rurais não tinham o direito nem de participar das reuniões nos sindicatos. Vanete foi contratada para assumir a coordenação da FETAPE – Federação dos Trabalhadores na Agricultura em Pernambuco, em 1980. Em reuniões com mais de 100 homens, as mulheres apesar de trabalhadoras rurais, eram ausentes. Então ela deu início a reuniões na intenção de organizar um movimento em prol das mulheres e conseguiu.
Nas primeiras reuniões, lembra Vanete, elas não falavam e ainda traziam nos seus nomes a dominação dos maridos ou pais. Assim se chamavam Leonor de Zé Madeiro, Inez de Liro, Júlia de Zé Marques, Alzira de João Tico, Dora de Antonio Novo, Adalgisa de Expedito Torres, Maria de Osmá, Zuza de Antonio Maceno, Luzinete de Zé Alejado, Nenzinha de Alcido e Ana de Zé Nequinho.
Durante as reuniões, Vanete percebeu que elas conviviam com inúmeros problemas e dificuldades, como o preconceito, como educar os filhos, de como enfrentar a violência doméstica. Então iniciou um trabalho de palestras tentando fortalecê-las para enfrentar as adversidades.
No decurso do tempo as mulheres se fortaleceram, o movimento cresceu e na década de 90 foram eleitas as primeiras diretoras de Sindicatos de Trabalhadores Rurais e inda em torno dos anos 90, se construiu a comissão municipal de Mulheres Trabalhadoras Rurais em Serra Talhada.
Esse movimento chegou até o Sertão central – que abrange de Custódia a Terra Nova – e atualmente se consolida numa rede de mulheres rurais que abrange a América Central e o Caribe, contando atualmente com 15 grupos de mulheres na base. É um avanço considerável para quem antes nem participava como associadas hoje na condição de liderança. Graças a Vanete Almeida. Uma mulher de visão. Seu trabalho com as mulheres ao longo desses 25 anos é reconhecido pelo mundo a fora. Vanete recebe homenagens, incentivo, convites e tudo a estimula a prosseguir pois, que venha mais cem anos.
Parabéns Vanete por sua determinação, parabéns a todas nós que travamos as nossas lutas intimas, pequenas por nosso reconhecimento no mundo ainda machista.
* Helena Conserva é escritora, poeta e jornalista.
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