18 maio, 2022

Comunidade Quilombolas - por Elyadja Barbalho



O calor escaldante e a estrada de terra é a paisagem que nos foi apresentada. O cenário é o sertão do Moxotó, onde encontrei uma comunidade quilombola. Um povo forte e corajoso, que carrega em suas veias a miscigenação de raças, mantendo suas raízes culturais, preservando e passando de geração a geração a sua identidade.

A comunidade quilombola está situada em Custódia, no sítio Buenos Aires. O munícipio fica a 350km da capital pernambucana. Quando falamos em quilombo, logo pensamos num lugar isolado formado por escravos fugidos. Esse conceito está atrelado exclusivamente a um passado remoto. A classificação de uma comunidade quilombola não se baseia em provas do passado, mas de como aquele grupo se define.



A professora Maria Yolanda do Amaral Santos, 51 anos, é representante da Comissão Estadual do Movimento Quilombola. No sertão atua como presidente da Associação da comunidade de Buenos Aires, que tem o objetivo de trazer benefícios para os moradores quilombolas. “Foram desenvolvidos vários projetos, entre eles “Saberes da Terra” que tem como prioridade ensinar pessoas que deixaram de estudar há muito tempo, de 5º a 8º série do ensino fundamental. O nosso maior orgulho é Dona Maria Elvira de Lima (foto), 73 anos, que voltou a estudar, e é um exemplo para os jovens que estão desestimulados“, explica.



O outro projeto é o “Saber da minha cultura“, onde os jovens e crianças participam da valorização e divulgação da sua cultura, da sua gente. Nele o samba de coco está presente. O coordenador é João Batista, 18 anos, que leva a animação e estimula os outros jovens a querer aprender a cultura dos seus antepassados. “O grupo foi formado por causa do incentivo da escola, dos nosso pais e também da nossa força de vontade. Hoje estamos com 18 pessoas, incluindo jovens e crianças. Através desse projeto aprendi a tocar sozinho o ganzá, um instrumento usado no samba de coco“, conclui.

Na comunidade a musicalidade que está mais arraigada é o samba de coco, que de modo geral apresenta uma coreografia básica: os participantes formam filas ou rodas, realizando o sapateado característico, e batem palmas caracterizando o ritmo. A dança tem a presença do “cantadó” que puxa os cantos, conhecido pelos participantes ou não. Quando o som do coco embala não importa se está calçado ou descalço, o importante não é o vestuário próprio, mas a preservação de influências indígenas, negras e africanas.




Os maiores desafios e lutas dos descendentes de quilombos que residem no sítio Buenos Aires, são garantir a sua própria subsistência. Pois a terra nessa época do ano é imprópria para o plantio, por causa da pouca quantidade de água na região.

Mas, mesmo sem condições, eles procuram produzir meios para seu sustento, como por exemplo, a produção de esculturas de barro, a fabricação de vassouras, balaios e outros objetos.

O projeto Biblioteca Rurais Arca das Letras chegou à comunidade quilombola com a parceria da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura. Todo o Estado Pernambucano recebeu 160 arcas, beneficiando 18.100 famílias.

O programa foi desenvolvido especialmente para comunidades rurais e remanescentes de quilombos, com o intuito de incentivar a leitura. Os moradores indicam a instalação das arcas e quais serão agentes de leitura, que ficarão responsáveis pelo incentivo à leitura e empréstimos dos livros.

A realização do projeto contou a colaboração da FETAPE (Federação dos Trabalhadores de Agricultura de Pernambuco), do Incra-PE, do Sesc-PE e Sebrae-PE. O programa Arca das Letras integra ações do Ministério da Educação, da Cultura e da Justiça. Recebeu apoio também do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste.

A Fundação Palmares, do Ministério da Cultura, reconheceu o sítio Buenos Aires como comunidade quilombolas em 2003. É bom deixar claro que, a identidade desses grupos sociais não se reduz apenas a elementos biológicos distintos, como por exemplo, a cor da pele, mas, a um processo de auto-identificação mais diligente, como a organização política e social.

(*) A publicação desse texto, saiu em um trabalho interdisciplinar da FAVIP (Faculdade do Vale do Ipojuca). A disciplina era REDAÇÃO JORNALÍSTICA IV na epóca, onde os alunos eram responsáveis pela produção de uma revista com o tema livre. Os textos produzidos pela turma de jornalismo circula também dentro da instituição por um jornal laboratório A NOTÍCIA, com orientação dos professores. Essa matéria foi publicada em uma revista cultural batizada de EXPRESSÃO. Mas, só teve circulação dentro da faculdade em um encontro de jornalismo e publicidade, que proporcionou a amostra do nosso trabalho!! 

Texto: Elyadja Barbalho

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