14 fevereiro, 2014

[Opinião] O Povo, a Igreja e a Biblioteca Municipal - Autora Leônia Pinto Simões

“A vida é um conjunto de possibilidades que devem ser construídas dia a dia”

No intuito de contribuir com a discussão em torno da reforma da casa paroquial, da escadaria da Igreja e do fechamento da biblioteca pública, também vou entrar no debate. Antes, porém, é preciso lembrar que as opiniões partilhadas no facebook e no blog “Custódia Terra Querida”, são legítimas e não devem ser desconsideradas, pois não se trata de conspiração, perseguições, alienação ou falta do que fazer, mas de buscar argumentos e evidências que possam conduzir o debate a uma solução racional, onde não existirá vencido, nem vencedores. 

Não podemos esquecer também, que as pessoas que o acenderam são nossos concidadãos, alguns, embora distantes, não deixaram de ser custodienses. São filhos e filhas de pessoas queridas de nossa terra que já deram sua cota de contribuição a igreja, direta ou indiretamente. 

No decorrer de nossa trajetória de vida, assimilamos crenças, valores e verdades que precisam ser analisados, questionados e criticados, independentes da posição social que ocupamos, da profissão que exercemos ou do lugar que moramos. Quando lemos ou escutamos alguma coisa podemos interpretá-lo com base em nossos preconceitos, o que nos impede de obter uma verdadeira compreensão sobre ela. Mas, à medida que amadurecemos e ampliamos o nosso entendimento, fica mais fácil respeitar a opinião do outro e olhar o mundo com outras perspectivas.

Somos o que somos graças à comunicação com nossos semelhantes. Todos nós podemos expressar, acumular e transmitir o que vemos, sentimos e conhecemos, por meio de palavras, gestos, e ações. Esse direito a liberdade, resultado de muitas lutas e conquistas históricas, está expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos e reforçado pela nossa Constituição Federal, no seu Artigo 5º. 

Embora o debate não seja religioso, no que se refere aos dogmas de fé, não posso deixar de falar da minha experiência como igreja, componente essencial nos meus posicionamentos. Afinal, como negar a participação efetiva da minha família na igreja? Como não lembrar os serviços prestados por mim e por minha família a nossa cidade, todos, assumidos com responsabilidade e coerência? Tenho contribuições dadas na área da Educação, no Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, na Equipe Interprofissional do Fórum, entre outras. Portanto, falo como filha e cidadã de Custódia, com os mesmos direitos, deveres e lealdades que disso se deriva. 

Como dizia, anteriormente, a igreja faz parte da minha história de vida e continua fazendo através da nova geração. Na infância e, ao longo de mais de 17 anos, desde o momento da fundação da Comunidade de Jovens Cristãos – CJC, em 1980, estive presente na catequese, no conselho paroquial e nas missas dos domingos e festas de guarda. Nesse tempo, Roberto Luciano já estava despertando em sua vocação sacerdotal, assim como Givaldo, Lélia , Maria Helena e Fábio. Somos todos contemporâneos. A CJC teve um papel fundamental na formação de muitos jovens de nossa cidade. Pois, os temas eram discutidos a luz do evangelho, em favor da fraternidade, da paz, da justiça social, do perdão e da concórdia como regras básicas da convivência na familia e na sociedade. Foi com grande alegria que participamos da ordenação do Padre Luciano. Guardo este dia, até hoje, na memória. Diante da igreja e de todos os presentes, dei testemunho de sua boa conduta no grupo de jovens. Quando assumiu a Igreja de Custódia eu também estive lá para dá boas vindas, entregar a bandeira da CJC e prestar minha homenagem, cantando o mesmo salmo que cantei no dia de sua ordenação. 

Diante do impasse envolvendo o seu nome, acredito no seu bom senso, na sua capacidade de ouvir e de lidar com as diferenças. Todavia, de maneira precípua, o próprio debate já apontou algumas ações que devem ser tomadas. Uma delas é cobrar um posicionamento por parte da Prefeitura de Custódia quanto a sua responsabilidade na preservação e conservação de patrimônio histórico e cultural, requisitar uma reunião com o Padre Luciano para melhores esclarecimentos sobre a reforma da casa paroquial. Além disso, os participantes também questionam o fechamento da biblioteca pública e sugerem o tombamento da matriz de São José.

Pelo que pude perceber, o debate também não é partidário uma vez que, a classe política não se manifestou a respeito de nenhum dos temas, nem mesmo com o fechamento da biblioteca que, a meu ver, não é menos importante que os outros temas. Em suma, o seu fechamento inverte a lógica da maioria das cidades do Brasil que hoje busca condições apropriadas para firmar seu papel enquanto fomentadora da cultura na sociedade. 

Por fim, cumpre esclarecer que, minha opinião mais que um sentimento de pertencimento a minha terra natal, expressa a necessidade de se pensar criticamente em virtude dos acontecimentos. 

Atenciosamente, 

Leônia Pinto Simões

(*) Todo e qualquer texto publicado não reflete necessariamente a opinião deste blog. Refletem apenas a opinião do autor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário