Em “O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta” (1971) do escritor paraibano Ariano Suassuna, nosso município é citado na página 100 do livreto, com as seguintes palavras:
“Naquela
noite, ceamos canja de rolinhas, pato assado, carne-de-sol com farofa,
jerimum com leite, e, coroando tudo, uma umbuzada. Depois do jantar,
sentados em espreguiçadeiras no copiar da “Carnaúba”, ficamos a
conversar coisas vagas, enquanto as estrelas piscavam em cima, e lá
longe, para os lados da Vila de Custódia, relâmpagos cortavam o
céu. A terra e o fresco ar noturno cheiravam a mato e a chuva, e foi ali
que eu, tendo como pretexto a caçada da tarde, puxei a conversa para
esse assunto. Narrei todos os meus insucessos, exagerando e mesmo
inventarìdo o que podia. Por fim, a modo de conclusão, lancei a frase
que tinha preparado como centro do meu plano.”
O
romance é inspirado em um episódio ocorrido no século XIX, no município
sertanejo de São José do Belmonte, a 470 quilômetros do Recife, onde
uma seita, em 1836, tentou fazer ressurgir o rei Dom Sebastião –
transformado em lenda em Portugal depois de desaparecer na África
(Batalha de Alcácer-Quibir): sob domínio espanhol, os portugueses
sonhavam com a volta do rei que restituiria a nação tomada à força. O
sentimento sebastianista ainda hoje é lembrado em Pernambuco, durante a
Cavalgada da Pedra do Reino, por manifestação popular que acontece
anualmente no local onde inocentes foram sacrificados pela volta do rei.
Suassuna
iniciou o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do
Vai-e-Volta, seu nome completo, em 1958 para concluí-lo somente uma
década depois, quando o autor percebeu o que o levou a escrever o
romance: a morte do pai, quando tinha apenas três anos de idade –
tragédia pessoal presente na literatura de Suassuna, e a redenção do seu
“rei” – uma reação contra o conceito vigente na época, segundo o qual
as forças rurais eram o obscurantismo (o mal) e o urbano o progresso (o
bem).
A
história, baseada na cultura popular nordestina e inspirada na
literatura de cordel, nos repentes e nas emboladas, é dedicada ao pai do
autor e a mais doze “cavaleiros”, entre eles Euclides da Cunha, Antônio
Conselheiro e José Lins do Rego.
Material enviado por: José Soares de Melo
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