01 fevereiro, 2025

[Exclusivo] Custódia - A verdade histórica sobre o nome do município


Saudo de Tárcio Duarte
Advogado e Escritor
(Site oficial do Autor)

Sob a direção do advogado pernambucano Saulo de Tarcio Duarte, a TVM (TV Visão Municipal) se dedica a ser uma fonte confiável e acessível de conhecimento, com o compromisso de melhorar a gestão pública e contribuir para o desenvolvimento sustentável de todas as cidades do Brasil.

Nesta edição especial o articulista demonstra através de documentos e fatos históricos relevantes a origem do nome de Custódia para a próxima edição do Anuário dos Municípios Pernambucanos.

O nome que veio a ser a denominação do município de Custódia remonta com doses bem fundadas na década de 1830. Quanto a esta afirmativa todos os prognósticos, indícios e fontes que direta ou indiretamente apontam para esta assertiva. Entretanto, creio ser esta a data da origem do nome, mas não da povoação como núcleo urbano. O núcleo urbano começou a se formar somente nos finais do século XIX. A prova disto é que o próprio Distrito de Alagoa de Baixo, ao qual Custódia foi desmembrado, somente foi criado em 1842 e a vila e município data de 1873, hoje Sertânia. Em 1908 Quitimbu ainda era a sede do 2º distrito. Mas, como a questão aqui é sobre a origem do nome “Custódia”, vejamos:

Na década de 1830 havia apenas duas povoações que já possuíam certa importância no interior mais adentro da jovem Província de Pernambuco. Era Flores do Pajeú e Cimbres, está menos importante, pois Flores detinha a cabeça da Comarca do Sertão e mais adiante no alto sertão ainda havia mais duas povoações importantes que eram Cabrobó e Boa Vista, esta emancipada em 1838. Era o período regencial instalado logo após a abdicação de Dom Pedro I. Naquela década o Brasil passava, talvez, pelas maiores turbulências deste rio pertenciam outrora a Casa da Torre (BA) por carta de sesmaria de 1658. (*)

(*) Sampaio, Yony, Livro de Vinculo do Morgado da Casa da Torre Centro de Estudos de História Municipal - CEHM, Recife - 2012 - páginas 20,21,22.


A ORIGEM DO NOME

Nos arquivos do IBGE que datam das décadas de 1940/50 os pesquisadores descrevem sobre Custódia: “Diz a tradição que uma das origens do nome Custódia viria do fato dos jesuítas estarem "sob custódia" da população local que os acolheu, já que estavam sendo perseguidos e naquele local ficaram protegidos. Esta versão não tem sido aceita por falta absoluta de lógica e de documentos que corroborem com a verdade dos fatos. Outrossim, na primeira metade do século XIX não há registro que certifique a existência, nas cercanias da hoje cidade Custódia, fazenda com esse nome. Muito menos há registro de mosteiro, convento, abrigo ou até capela que abrigasse jesuítas ou outra congregação religiosa.

Contudo, entretanto, a versão mais aceita é que o nome seria uma homenagem a uma mulher conhecida por Dona Custódia, proprietária de uma pousada/barracão que hospedava e alimentava tropeiros e viajantes. Esta versão sim tem comprovações lógicas e documentais fartas e certamente eliminam quaisquer outras pela força das formalidades. Dito local seria certamente nas imediações do centro da cidade por onde passa um riacho e que aos poucos os transeuntes foram referenciando como o negócio de Dona Custódia e assim por diante até batizá-lo pelo direito consuetudinário. Fui buscar essa história e encontrei.

QUEM ERA DONA CUSTÓDIA?


Litografia de Maria Custódia Osório de Campos baseada em traços familiares. 
Por Karoba N. Salvi



Dona Custódia chamava-se na verdade Maria Custódia Osório de Campos, nascida na Fazenda Conceição, Flores do Pajeú, hoje Betânia, a 5 quilômetros de Sítio dos Nunes, em 1800, filha de Firmiana Barbosa de Aragão e do capitão de ordenanças Manoel José de Campos (marinheiro).

Dona Custódia foi a filha primogênita do casal que deixou uma das maiores descendências do sertão pernambucano. Foram 12 filhos, entre eles o Monsenhor Joaquim Pinto de Campos que foi sem sombras de dúvidas o mais poderoso e maior escritor sertanejo do século XIX. Pinto de Campos, o padre irmão de Dona Custódia chegou a ser tão influente que se tornou amigo do Imperador Dom Pedro II, Duque de Caxias, Machado de Assis, entre tantos escritores europeus a exemplo de Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco e obteve o título de Protonotário Apostólico de dois papas, (Pio IX e Leão XII).



Capitão - mor Aniceto Nunes da Silva
Terras do Sabá até lado do Sertão do Pajeú de Flores


Mestre de Campo Pantaleão de Siqueira Barbosa
Terras do lado lestre ao Sabá até léguas dos dois lados do Rio Moxotó


Dona Custódia, segundo o historiador Nelson Barbalho, citando Ulisses Lins de Albuquerque (em Moxotó Brabo) casou-se com José Joaquim de Siqueira que era neto do mestre de campo e maior latifundiário do Moxotó, Pantaleão de Siqueira Barbosa e não tiveram filhos. Vejam bem, Dona Custódia por um lado era casada com o neto do famoso mestre de campo e do seu lado era neta do sargento-mor Fellipe de Aragão Osório, este cunhado do Capitão-mor Aniceto Nunes, o maior latifundiário do seu tempo no sertão. A irmã de Aniceto, Bibiana Matildes, mulher muito rica, criou a mãe de Dona Custódia e deixou-lhe quase toda a herança em testamente que ainda hoje encontra- se intacto na Igreja Católica de Flores.

Dona Custódia, além de comerciante foi herdeira de terras intermináveis, especialmente para as bandas do pajeú sem contar com as terras deixadas pelo seu esposo. Seu espólio, como dito, certamente abocanhava terras tanto do lado maior proprietário de terras do pajeú como do Moxotó.

Seu estabelecimento em Custódia devia ter um movimento estupendo pois pegava a rota da estradas das boiadas que ia de Olinda até Cabrobó como era rota entre o médio pajeú de Flores, Baixa Verde e Serra Talhada rumo à capital.


VEIO DA EUROPA


O avô português de Dona Custódia era Custódio José de Campos (**), natural de Penedo da Comarca de Penafiel, sua mãe chamava-se Ana da Silva. Naqueles tempos era ainda mais comum homenagear ancestrais e certamente o pai de Custódia, Manoel José de Campos, saudoso do seu pai resolveu batizar a sua primogênita em solo brasileiro com o nome do avô paterno do rebento. Vale salientar que o pai de Custódia, Manoel José de Campos chegou ao Brasil no ano de 1792 precisamente no Porto do Recife. Não se sabe se sequestrado pelos marujos, segundo relato de Pinto de Campos, que merece crédito, ou se veio fugido de sua casa fraterna em busca de aventuras. Acredito na primeira versão, pois Pinto de Campos relatou ao Jornal Ilustrado em 1880 e era comum raptar crianças naquele tempo para servir de grumetes ou pajens(***) nos porões dos navios. Ditos raptos eram tão importantes que eram tratados até de forma comum e ignorados pelas autoridades constituídas.

(**) Certidão de Batismo de Manoel José Campos de 1780.

(***) Grumetes e Pajens: Adolescentes que faziam serviço de embarcações

Sobre documentos que atestam a existência inconteste de Dona Custódia há uma infinidade de citações em sites, livros, jornais e escritos de Pinto de Campos. Mas, registro oficial encontra-se seu nome na página 42 do testamento de Bibiana Matildes da Silva, arquivado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Flores (PE) e no batistério de Pinto de Campos quando ela foi a sua madrinha de batismo ao lado de Manoel Francisco da Silva, este o filho mais velho do Capitão Aniceto Nunes.

Custódia tornou-se a filha prendada do casal, maior herdeira de Bibiana Matildes, casou-se com um neto de Pantaleão Siqueira Barbosa que, segundo Nelson Barbalho em Cronologia Pernambucana (2688), livro 11, página 129 que morava ali nas terras onde hoje fica a cidade de Custódia onde certamente Dona Custódia fez o seu hotel, seu armazém, seu negócio, seu comércio que se tornou um ponto de parada obrigatória por todos aqueles transeuntes que circulavam pelos sertões adentro. Daí a expressão “vamos fazer uma parada descansar, se alimentar e alimentar os animais lá em Dona Custódia”.

Ela faleceu e o lugar ficou batizado: Custódia.até hoje.

AGRADECIMENTOS:

Quero agradecer imensamente a SAULO DE TARCIO DUARTE pelo envio desse trabalho ao BLOG CUSTÓDIA TERRA QUERIDA. Ambos temos compromisso de levar até a população informações importantes, esse material, de grande relevância histórica.

LEMBRETE

Peço encarecidamente as pessoas que puderem divulgar esse material, compartilhem com todos. E claro, deêm crédito ao autor do material, Saulo de Tárcio Duarte. 

Complementando, citem também o Blog Custódia Terra Querida e seu colaborador JORGE REMIGIO, outro grande incentivador, colaborador e pesquisador sobre o tema. 

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