29 maio, 2023

Na estrada - por Juliana Marinho Pires


Eu e minha prima Cibele na entrada da Feira

No caminho para Custódia passamos por Caruaru e fui ver com meus próprios olhos a famosa feira de Caruaru, das bandas de pífano e dos artesanatos de barro. Nada disso. Tornou-se uma grande feira de roupas, apetrechos e Cds piratas de música brega e sertaneja. A cidade cresce e junto com ela todos os vícios de cidades desordenadas.

Aquela Caruaru onde papai estudou em colégio interno e onde mais tarde ficou hospedado em pensão com cidadãos ilustres, como Paulo Freire e Luiz Gonzaga já era. Perguntamos ao vendedor da banquinha onde ficava o ginásio de Caruaru e ele disse “vixe! esse negócio aí foi há muito tempo atrás, acho que nem existe mais”.  A minha expectativa de conhecer pelo menos a fachada do prédio onde papai aprendeu a comer carne de fígado a força – “porque uma semana precisaram economizar e serviram todos os dias no almoço carne de fígado” - e também onde aprendeu latim, se acabou naquele momento. Tinha uma visão meio idílica e desatualizada da cidade, mas minha decepção não invalida o fato da cidade ter um dos melhores, senão o melhor, São João do país.

Depois de passar pela casa de Mestre Vitalino, e por lá comer um carneiro (ou será que foi bode?), chegamos em Custódia. Quase 500 km de viagem. Uma cidade típica do interior do nordeste, cheia de vida, com carros de som rodando as ruas vendendo de tudo e algo mais, pessoas de um lado pro outro. E aquele calor úmido intenso. A casa de Dondon, prima de papai, ainda era a mesma da época de papai, na rua principal de Custódia. Dondon tem a idade do município, 83 anos, e é a única prima viva de papai que ainda mora por lá.


Rua principal de Custódia

Entramos na sua casa, onde ficaríamos hospedados por aqueles dias, e era como se eu tivesse me transportado no tempo. Aqueles móveis, o piso antigo, a disposição da casa: comprida, longa e cheia de quartos, salas e antessalas. Imaginei o papai comendo naquela cozinha e falando aquelas histórias engraçadas dele. Não haveria melhor anfitriã no mundo que Dondon. Uma pessoa extremamente sensível, terna e carinhosa. E que amava papai como um irmão.

Dondon e seu santuário particular

A linda passagem que tive por Custódia e a experiência com Dondon terão que ficar prá mais tarde. Esses relatos ainda serão escritos, a seu tempo, em breve. Essa história foi atropelada por outra que está por acontecer e também precisa ser contada.

Postado Originalmente em: Blog Raio da Cerebrina

Um comentário:

  1. Bela história! Quando aconteceu a viagem de CARUARU até CUSTÓDIA?

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