30 setembro, 2020

[Causos] Pão quentinho da padaria do João Miro

 
Irone Santos
Recife-PE
Maio/2020


Por volta de 1964 eu tinha de oito para nove anos e meu pai, que era militar, destacava em Serra Talhada (Cabo Pedro). Enquanto minha mãe ficava em Custódia, na Rua João Veríssimo, chamada de Rua da Várzea.

Toda tarde ela pedia para eu ir comprar o pão na panificadora do Sr. João Miro e dona Jovelina, nem sempre eu queria ir.

Certa vez, fui andando e brincando, pulando de academia até a venda do casal, situada na Praça Padre Leão. 

Eu super empolgada, pulando, peguei o dinheiro do pão e rasguei todo no dente.

Pior não poderia chegar em casa sem os pães e muito menos sem o dinheiro.

Então segui a viagem, chegando na venda encontrei Dona Jovelina, de cara fechada e eu tinha que falar com ela, sobre o acontecido, rapidamente contei o que houve com o dinheiro.

Ela prestou a atenção e disse se virando para João Miro: 

- Fale com ele.

Eu perguntei a dona Jovelina:

Como? Ele não Escuta?

Ela disse: - Fale baixo

Eu fui falar bem baixinho e ele me ouviu, dizendo:

Vá pegar o pão com ela. 

Cheguei em casa com os pães.

Um amor nos anos 30 - por Vanise Rezende


Como Né Marinho conheceu Ester Pires
Por: Vanise Rezende 
    
     Para que eu viesse ao mundo deu-se uma história muito singela.

    Ester Pires (*1910/+1989), tinha cerca de vinte anos. Era uma jovem simpática e gentil, de olhar terno num rosto vivaz, contornado de cabelos lisos pretos e curtos. Levava modos educados e simplicidade no vestir. Era hóspede de Tio Pordeus, na cidade de Custódia, situada na microrregião do Moxotó, sertão de Pernambuco. A família Pires a que pertenciam, tem raízes em Tabira, região do Pajeú no alto sertão. 

    Né Marinho (*1902/+2002) era um jovem tabelião da cidade  oito anos mais velho do que Ester. Havia herdado o cartório que fora do seu pai, desde a fundação da cidade. Rapaz elegante de baixa estatura, sorriso maneiro e olhos verdes sagazes. Um partido e tanto para as moças do lugar. Vestia sempre um terno de linho branco e não dispensava a gravata, mesmo durante os tempos mais quentes do verão.

    Aconteceu no início dos anos ’30 - Seu Né teria conhecido a jovem Ester num quando ela tomava um café com seu tio, num bar. Convidou-a para mostrar-lhe a feira da cidade no dia seguinte. Caminhando ao seu lado, com jeito gracioso, Ester se deteve a observar artigos finos de porcelana e copos de vidro com monogramas dourados. Ainda me pergunto como essas peças chegavam a Custódia, para serem vendidas na feira. Além dos copos, minha mãe tinha um serviço de chá japonês, de porcelana com alto relevos, possivelmente importado. 

    Voltando ao passeio na feira, Seu Né, ágil e ousado, escolheu um copo gravado com a letra “E”, com frisos dourados, e o ofereceu à jovem visitante. Abria-se, assim, o diálogo de um afeto que resultou na formação de uma família de sete filhos. Casaram-se no início dos anos 30.

     O casal teve sete filhos. Somente Herbert ainda não está aposentado. Vou apresentá-los: Leny foi professora nos colégios Israelita e São Luís, no Recife; Vanise - graduada em Comunicação e Jornalismo, na Itália, trabalhou na Rádio Vaticana por 5 anos. De volta ao Brasil, em 1968, realizou diversas atividades – ver seu perfil em: www.vaniserezende.com.brLaíse - graduada em Direito e Jornalismo, no Recife, é Técnica Fazendária aposentada, da Sec. da Fazenda de Pernambuco, e fundadora do Integrarte - uma organização que oferece  de aprendizado e arte para pessoas com Síndrome de Dawn, no Recife. 

   Marilda foi secretária do Iter (Instituto de Teologia do Recife) e, em seguida, do Centro Luís Freire, em Olinda; Hélio era advogado. Deixou-nos de improviso, aos 33 anos, três meses após o seu casamento; Herbert é Engenheiro de Minas e empresário em Araraquara/SP. Manuel, nosso irmão caçula, morreu ainda criança.
ALAÍDE




            Alaíde era uma figura bastante popular em Custódia. Alto, forte, preto, tinha no sangue a ginga da raça negra. Seu jeito de andar, o trato nas unhas, o falar - um misto de carioquês com sertanejês eram notas marcantes nessa figura de muitas histórias pitorescas da Custódia de ontem.

            Manteve por longos anos, uma das mais vivas tradições do carnaval em Custódia: o bloco do Cariri, misto de troça e bloco, que saía toda meia noite do sábado de Zé Pereira, acordando a pacata população dorminhoca da cidade. A meninada fazia de um tudo para não dormir antes do Cariri passar, com sua música característica:

                        Lá vem o cariri aí,
                        Com o saco de pegar criança
                        Pegando as moças solteiras,
                        Pega tudo quanto a vista alcança.

            No bloco, as meninas de Carí, a respeitável  chefe do Sipitinga, apelido dado  à zona do chamado Baixo Meretrício. Carí comandava o bloco das meninas,  auxiliada por sua fiel escudeira Hozana, mulher calma, baixinha, que iniciou tantos jovens na vida mundana do sexo.

            Nem por isso o Cariri ficava restrito aquele mundo: naquela ocasião, democraticamente toda a respeitável sociedade custodiense estava representada no Cariri. Jovens de todas as idades, senhores respeitosos, crianças, enfim, ao sexo masculino era permitida a participação plena naquele evento, que ocorria sem nenhum problema, sem excessos e sem exageros, pois a única obrigação de quem participava era brincar ordeira e alegremente.

            Com um megafone, Alaíde fazia as vezes de mestre de cerimônia, determinando o roteiro, o ritmo, os passos, enfim, coordenando todo o desfile do bloco, que saía do Alto da Cadeia, passava pela Rua da Remela, descia a Avenida Manoel Borba, circundava o Quadro –  como era chamada a Praça Padre Leão, sempre cantando e dançando ao som de sanfona, zabumba, violão e tudo o mais que produzisse barulho.

            Ao raiar do dia, o bloco retornava ao ponto de origem e se dispersava tranquilamente, cada um seguindo a sua rotina de sempre, e aguardando o carnaval do próximo ano, para mais uma vez alegar a madrugada dos domingos de carnaval de Custódia.

28 setembro, 2020

Cifrinha disponibiliza Panorama FM pelo seu aplicativo sem complicações

 


Agora você poderá ouvir a Panorama FM em um aplicativo, sem complicações de busca em navegadores, sem instalações de plugins ou outras burocracias. 

Apenas com um toque você vai poder ouvir a Pan FM, com uma excelente qualidade de transmissão. 

Dentro do App você poderá ouvir também a Rádio Cifrinha com uma programação voltada aos Artistas Independentes. 

Tanto o Cifrinha, quanto a Panorama FM, vão disponibilizar o link na Playstore para vocês.

27 setembro, 2020

[Causo] A carona com Chico Macaco

Texto:
Paulo Peterson
Custódia-PE
Agosto/2020

Na década 80’, o futebol custodiense tinha times que se destacavam no cenário regional. Entre eles o Tambaú, o Vasco, e a Portuguesa, de Silvio Jader, esse último chegou a participar do Campeonato Arcoverdense de Futebol. 

Num determinado final de semana de 1986, foi anunciado que haveria um ônibus disponível para torcedores locais assistirem a uma partida decisiva em Arcoverde. 

Sempre ia fielmente aos jogos realizados no Carneirinho nos finais de semana. O clima criado durante a semana com as chamadas, aumentou minha expectativa e vontade de assistir esta partida. A questão era minha pouca idade, tinha 15 anos, só poderia ir se fosse com meu pai ou algum responsável

No domingo, ônibus posicionado cedo na Praça Padre Leão, a saída estava programada para as 13h. Meu pai decidiu não ir, e não achava uma pessoa para me fazer companhia. 

Pontualmente no horário o ônibus partiu rumo a Arcoverde com uma festiva torcida. Fiquei desapontado por não ter embarcado nessa viagem. Meu pai percebendo minha tristeza insistiu na busca de uma pessoa, pouco tempo depois, soube que seu amigo Luiz Ferreira Gomes, vulgo Chico Macaco, iria à Arcoverde, ficando assim responsável por mim. 

Chico tinha um Opala cor vinho, que era a coisa mais linda, era o famoso espinhaço de pão de doce. Brilhava como nunca. 

Chegamos a tempo de assistir ao jogo preliminar, entre os aspirantes, também da Portuguesa contra o Vasco. Estádio cheio, clima de festa e decisão. Nosso esquadrão aspirante ganhou de 5x2, nossa torcida já começou a incomodar tamanha era a folia nas arquibancadas. E eu lá curtindo, nem observava o clima tenso que estava formando. 

Quando começou uma brincadeira entre as torcidas. Guerra com casca e bagaço de laranja. Custódia x Arcoverde. Pense numa lapada quando batia na cabeça ou no cangote do sujeito. 

Portuguesa 1986
Em pé: Derni, Nem, Jorge Amador, Jailson Simões, Gerson do Bandepe, Nadilson Santos, Marquinho de Dr. Orlando, Marco Ramalho e o treinador Maurício.

Agachados: Luciano, Neto, Valdemir, Damião, Jailson da Sucam, Franciélhio Sobreira e Silvio Jader.

Encerrando a partida preliminar, os ânimos se acalmaram, e ai começou o jogo principal: Portuguesa x Vasco de Arcoverde. Jogo tenso. Sem gols. Quem fizesse um gol primeiro ganharia fatalmente aquela partida. 

Houve um tumulto entre jogadores no gramado, a confusão aumentou se estendendo para fora de campo. Foi o pavio que faltava para as torcidas voltarem a se hostilizar. E ai meu sossego pela partida acabaram.

Vi um burburinho entre um torcedor de Custódia com um torcedor adversário, era briga dentro e fora de campo. 

Quando percebi quem era o torcedor brigão do nosso lado, bateu um nervosismo, era justamente Chico Macaco. Ele, provocado por um torcedor arcoverdense, não resistiu e pulou dentro de uma área reservada do estádio destinado a torcida local, pegando o provocador e dando-lhe vários socos. Tempo fechou. Camburão foi chamado, entrando no estádio e levando presos os dois brigões. 

Enquanto isso, em Custódia, meu pai jogava baralho em casa, ouvia pelo rádio a transmissão do jogo, quando escutou o locutor falando “é briga no campo e na arquibancada”. Depois de muita confusão, a partida foi reiniciada, e o clima voltou a ficar menos tenso.

Jogo acabou 0x0, público foi saindo do estádio, nisso procuro o ônibus, para saber se tinha vaga, infelizmente não cabia nem um palito de fósforo de tão lotado. E eu sem saber como voltaria para casa. Voltei para dentro do Estádio para procurar alguém conhecido e saber noticias de Chico. Foi quando Pedro marido de Sara, que havia vindo conosco, me segurou pelo braço e disse:

- Fique tranqüilo, que eu te levo de volta para Custódia.

Foi um alívio ouvir aquilo.

Partimos do estádio para uma delegacia local para saber como estava a situação de Chico Macaco. Chegando ao local, encontramos o ônibus que tinha saído antes, torcedores que foram em seus carros particulares, além de jogadores. A frente da delegacia ficou lotada. 

O agente que nos atendeu, era um conhecido nosso. A negociação demorava, e os torcedores gritavam:

- Solta, Solta, Solta

Até parecia que a Portuguesa havia sido campeão. kkkk 

Já beirava quase 20h, e meus pais em casa sem ter noticias do meu retorno para casa. Tempos em que telefone era apenas em casa. 

Para felicidade geral, Chico foi solto, sob aplausos, gritos que mais pareciam um gol da Portuguesa. Finalmente pudemos retornar a nossa cidade, sem antes termos mais um empecilho, um pneu furado. Nada ruim para o que aconteceu naquela tarde. 

Um jogo inesquecível!!!

Agradecer as pessoas que colaboraram: Josélia, Raimundo e Kleber.


Missa AO VIVO - Igreja Matriz de São José

 


Dia Nacional da Bíblia

24 setembro, 2020

Servidores Municipais (1977-1983)

Foto cedida por Linalva Simoes

Servidores Municipais durante a primeira Gestão do 
Prefeito Luiz Epaminondas Filhos. (31.01.1977 à 31.01.1983)

Linalva Simões, Noemia Burgos, Hiran Burgos, Claudio Moisés, Zé Melo, Ozório Batista, Luizito (Prefeito), Gracinha de Geni, Maze Rezende, Neli Aleixo, Zilda Simões e Nerice Santos.


 

23 setembro, 2020

[Causo] Minha vizinha mexiriqueira

Texto: Jussara Burgos
Luziania-GO
Setembro/2020

Sou dos Pereiras de Serra Talhada,  família com propensão a problema de tireoide. Sempre digo que seria ótimo herdar somente inteligência, beleza e talentos artísticos. O DNA  podia vir sem diabetes, glaucoma e outras mazelas. 

Fui premiada com hipotiroidismo dos Pereiras e aumentei vinte quilos rapidamente. Fato que me incomodou muito e uma vizinha cruel fazia questão de me lembrar que engordei. 

Ela vivia tomando conta da vida dos outros, determinada ocasião teve a capacidade de me dizer: "ontem você chegou as duas e quarenta e cinco da madrugada".

Falei para ela: "a senhora não precisa ficar preocupada porque eu estava junto com meu marido". Mas ela não tinha jeito. 

A criatura parecia  que tinha sexto sentido. Quando eu ia levar lixo no contêiner da esquina, procurava não fazer o menor ruído na hora de abrir o portão  para não ter que falar ela, não adiantava, na volta a bruxa estava na janela.

Bom dia dona Maria! 

- Bom dia. Como você engordou!

Boa tarde vizinha!

- Nossa, você está gorda. 

E aquilo foi me irritando. Comecei a fazer caminhada e emagreci dezessete quilos.

A prosa mudou .

Bom dia dona Maria.

Você está mais magra?

Não aguentei e dei-lhe  um coice bem dado:

Pois é, cansei de ouvir vizinho me chamar de gorda.  

Foi  bem assim ....

22 setembro, 2020

O Caminhão misto de Deusinho - Canal Gandavos

 


Publicação do Canal Gandavos, para acessar e se inscrever: CLIQUE AQUI

[Fato Histórico] Acidente com a professora de Belmonte (1918)

 

Foto: 
“A jovem professora Dona Rosalina”. 
Do álbum de recordações da professora Maria de Lourdes Pires de Alencar.

Texto: Valdir José Nogueira de Moura


ACIDENTE COM A PROFESSORA DE BELMONTE

(Memórias da Educação do Município de São José do Belmonte)

Na próspera cidade de Belmonte, antes que se construísse na década de 1940, o Grupo Escolar Professor Manoel de Queiroz, existiam na localidade as Escolas Públicas Estaduais e a Escola Municipal. Para as respectivas escolas as professoras, naquela época, em sua maioria, vinham de Recife, e quase sempre, se faziam acompanhar por alguém da família para não virem sozinhas, o que em muitas vezes onerava o salário. 

Quando chegavam, às vezes se hospedavam na casa de Seu Terto Donato, às vezes no hotel de dona Manú, ou então em casas de pessoas conhecidas, destinadas quase sempre pelo prefeito, sendo que algumas alugavam casa. Vindas de meio adiantado, gozavam de grande prestígio social e movimentavam a comunidade com festas, piqueniques, dramas, ginásticas, canto, etc. Naquele tempo, funcionando as escolas em armazéns alugados ou casas de família, as professoras desempenhavam um bom trabalho com seus alunos.

Durante todo o período imperial e início do período republicano, a maior parte das escolas brasileiras eram separadas por sexo. Nesse período, a reunião de meninos e meninas em uma mesma sala de aula era uma prática muito pouco comum nas instituições de ensino do país. O costume e a lei determinavam a separação das escolas, tanto públicas quanto particulares, em femininas ou masculinas.

A cadeira da instrução primária do sexo masculino da Povoação de Belmonte, Comarca de Vila Bela, foi criada no período imperial, através da lei nº 598 de 13 de maio de 1864. Em seguida, através de portaria, o presidente da Província de Pernambuco nomeou como primeiro professor da dita cadeira o Sr. João Batista de Oliveira, mediante gratificação anual de R$600:000 (seiscentos mil réis). 

Porém, 25 anos depois, a Lei Provincial nº 2079, de 25 de outubro de 1889, no seu artigo 1º, “estabelece a cadeira de ensino do sexo feminino na Freguesia de São José de Belmonte”, sendo nomeada através de portaria, em maio de 1890, como primeira professora dona Leopoldina Maria Teixeira Jacobina.

Por ato do governo de Pernambuco, no dia 27 de novembro de 1916, foi nomeada professora da cadeira de ensino do sexo feminino da cidade de Belmonte, que se encontrava vaga há dois meses, dona Rosalina Maria da Conceição, jovem, recém formada na Escola Normal de Recife.

Porém, como chegar a Belmonte se só havia trem até Rio Branco (Arcoverde)? Naquela época, o automóvel não havia chegado ainda por estas bandas do nosso vasto sertão. Rio Branco até então era o ponto final da Estrada de Ferro Central de Pernambuco; desta estação para as demais localidades sertanejas, o trajeto comumente era feitos em carros de bois e animais de sela. 

E foi em um carro de boi que dona Rosalina chegou, em finais do mês de janeiro de 1917 na cidade de Belmonte. O carreeiro havia deixado uma carga de borracha de maniçoba do coronel Gonzaga Ferraz, de Belmonte, em Rio Branco, para ser escoada até o Porto do Recife através do trem. Dona Rosalina, cheia de medos e apreensões, aproveitou a oportunidade do carro de boi, e embarcou para Belmonte, no sertão do Pajeú, continuando assim a sua longa viagem. 

O sol nem havia clareado, e, com o silêncio da caatinga, se ouvia, a uma légua de distância, um cantar choroso, deprimente e triste. Era o carro de boi levando dona Rosalina com destino a Belmonte. Enfim, depois de uma exaustiva viagem, entra a nova professora de forma triunfante na acolhedora cidade. Na “rua da Igreja”, o coronel Sá Moraes, prefeito da localidade, que mobilizou o povo do lugar para receber de forma calorosa, a professora Rosalina, tão esperada por pais e filhos quanto uma rainha por seus súditos.

No dia 2 de fevereiro de 1917, dona Rosalina iniciou o ano letivo apenas para as meninas. Nos primeiros dias de aulas, observando as crianças sentadas ainda em bancos e cadeiras, realizando as tarefas e deveres feitos na perna, a professora procurou o prefeito e solicitou que o mesmo providenciasse algumas carteiras para a escola. Mas que de repente, o prefeito solicitamente atendeu ao pedido, trazendo-lhe logo uma dúzia de carteiras em seis burros encangalhados, duas em cada lombo.

O tempo enfim foi passado, até que chegou o mês de novembro com os exames do fim do ano e em seguida a festa de encerramento das atividades da escola do ano de 1917. O evento reuniu várias pessoas da comunidade entre pais, alunas e autoridades convidadas. Para abrilhantar o fim da solenidade, a professora entoou um belo canto natalino, sob os acordes de um violão tocado pelo jovem Sinhozinho Alencar, fechando tudo com chave de ouro. No dia seguinte a professora seguiu então para férias na sua cidade Recife.

Rompeu-se algures alvissareiro o ano de 1918. Decorria o mês de janeiro, quando uma estarrecedora notícia estampou a primeira página do Diário de Pernambuco, edição 22, de 23/01/1918:

“ACIDENTE COM A PROFESSORA DE BELMONTE

No dia 16 do corrente, na fazenda Umburanas, do município de Alagoa de Baixo, a professora estadual de Belmonte, dona Rosalina, foi vítima de uma lamentável queda de um burro, recebendo vários coices.

Dona Rosalina, em conseqüência desse desastre, sofreu feridas contusas pelo corpo vindo a falecer pouco depois.

A polícia local tomou conhecimento do fato que causou ali geral consternação.

Ao senhor desembargador, chefe de polícia, foi comunicado o ocorrido.”

Causou profunda desolação em Belmonte, a notícia quando chegou através do telégrafo, da morte trágica da professora estadual da localidade dona Rosalina Maria da Conceição. A mesma tinha ido passar as férias do Natal com a família em Recife. Todavia, depois que desceu do trem na estação de Rio Branco, seguiu seu itinerário de regresso para Belmonte, sede de sua cadeira de instrução primária, montada em um burro. Ao chegar no lugar Umburanas, próximo a povoação de Custódia, o animal de sua montaria espantou-se, disparando em vertiginosa carreira. 

Dona Rosalina, que nenhuma prática tinha de montaria, perdeu o equilíbrio, e, caindo, ficou dependurada pelo estribo que era uma laçada de corda. Na queda o laço apertou-se no tornozelo ficando a desventurada vítima tolhida de se desembaraçar de pronto. Arrastada cerca de quatrocentos metros por cima de paus e pedras, recebendo além disso, coices mortais do animal desenfreado, que foi a custo contido; a professora apenas arquejava ao ser encontrada, vindo a falecer momentos depois. 

O Diário de Pernambuco em outra edição sobre o ocorrido detalhou: “Era horroroso o cadáver da professora Rosalina, de Belmonte, osso frontal fraturado, olhos fora das órbitas, membros desarticulados e completamente despidos, dava a impressão de um ser disforme, sendo difícil conhecer-lhe a identidade”.

Em sufrágio da finada professora, o Delegado de Ensino de Belmonte, Dr. Felisberto Pereira e o Padre Joaquim de Alencar Peixoto, fizeram celebrar uma missa no dia 16 de fevereiro, trigésimo dia do falecimento de dona Rosalina, em cujo ato religioso, além da presença maciça de suas alunas, a comunidade belmontense muitíssimo abalada compareceu em peso.

Ainda como homenagem, na década de 1930, dona Umbelina Menezes, professora leiga municipal colocou na sua escola o nome da inesquecível professora Dona Rosalina.

Enviado por Jorge Remígio