29 novembro, 2021

Memórias de Né Marinho e Ester Pires - por Vanise Rezende

 



Por: Vanise Rezende
Texto atualizado em setembro - 2021


Para que eu viesse ao mundo, deu-se uma história muito singela.

EsterPires (1910-1998), de cerca de 20 anos, era uma moça cordial e simpática, de olhar terno e rosto vivaz – contornado de cabelos lisos, pretos e curtos. Levava modos educados e simplicidade no vestir. Era hóspede de Tio Pordeus, que residia em Custódia, situada na microrregião do Moxotó, sertão de Pernambuco. A família Pires Ferreira, a que pertenciam, tem raízes em Tabira, região do Pajeú no alto sertão.

Né Marinho (1902-2002), um jovem tabelião da comarca de Custódia, nascido nas terras do Tamboril, filho de Izaura e de Serapião Domingos de Rezende, o primeiro tabelião da cidade. Há notícias de que ele vivera em Quitimbu, antes de se instalar no Tamboril, que ficava logo após o cemitério, em direção ao Carvalho. Posteriormente, o Tamboril pertenceu a José Rodrigues, filho de Nemézio Rodrigues, o primeiro prefeito de Custódia.

Seu Né – como era chamado – era um rapaz elegante, de estatura mediana, sorriso maneiro e olhos verdes sagazes. Um partido e tanto para as moças do lugar. Usava sempre um terno de linho branco e não dispensava a gravata, mesmo durante os tempos mais quentes do verão.

Aconteceu no início dos anos 30 – Seu Né,que era oito anos mais velho do que a jovem Ester, notou a sua presença, quando ela passeava com o Tio Pordeus para conhecer a cidade. Parando para cumprimentá-los, logo a convidou para mostrar-lhe a feira da cidade no dia seguinte.

No passeio pelas barracas da feira – que se estendia no quadro da rua, diante da Matriz de São José – Ester, com seu jeito gracioso, deteve-se para observar artigos finos de porcelana, com desenhos de figuras japonesas, e copos de vidro com monogramas dourados. Ainda hoje me pergunto como essas peças chegavam a Custódia, na época, para vender na feira.

Seu Né, ágil e ousado, escolheu um copo gravado com a letra “E”, com frisos dourados, e o ofereceu à jovem visitante. Abria-se, assim, o diálogo de um afeto que resultou na formação de uma família de sete filhos. Casaram-se no início dos anos 30. E tiveram sete filhos: Leny, Vanise, Laíse, Hélio, Herbert, Marilda e Manoel, conhecido por Cecéu.


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Rua Padre Leão, nº 49


Ainda guardo a imagem do meu pai assinando livros enormes, nos quais fazia-se o registro das escrituras, tudo cuidadosamente manuscrito por seus auxiliares. Um deles era o Sr. Manoel Rodrigues, que não sei se era custodiense, mas residia na cidade.

Meu pai tinha uma atenciosa relação com os trabalhadores rurais do município, e muito os ajudou a resolver questões atinentes às suas propriedades ou aos seus contratos como rendeiros. Lembro que muitos deles apeavam seus jumentos no Ficus diante da nossa casa, e nos deixavam os frutos da terra, conforme a bondade da chuva– um gesto de gratidão pela atenção que meu pai lhes dispensava. Quando Seu Né deixou o cartório, apresentou o Sr. Manoel Rodrigues ao amigo tabelião João Roma, no Recife. Foi Manoel Rodrigue que terminou assumindo o cargo de seu substituto.

O meu interesse pela escrita deve ter suas raízes ali, enquanto via meu pai no cartório, sempre ocupado com textos, registros e escrituras. Ainda tenho comigo a sua caneta tinteiro, uma Parker com tampa dourada – desgastada pelo tempo – pois ele a usara por anos e anos! Seus traços biográficos foram descritos, de forma irretocável, pelo consultor e escritor custodiense José Melo, neste blog.

Aprendi a gostar de música ouvindo as canções entoadas por minha mãe, Ester, enquanto pedalava a sua máquina Singer, costurando as roupas dos filhos. Lembro que, na época, além de costurar as nossas roupas, ela também cortava toalhas de banho e lençóis, finalizados com bicos bordados, pois ainda não eram encontrados já prontos.

Do seu lugar de trabalho, em casa, minha mãe acompanhava tudo. Quem não obedecia ficava no quarto, de castigo, sem doce de leite nem cocada, sem pirulito nem bolo de goma. Ela gostava muito de cantar, enquanto trabalhava, e era amiga de toda a vizinhança, com o seu jeito simpático e colaborador. Sabia receber bem os amigos do meu pai, ou alguma visita como a do juiz de direito, do médico ou do procurador da vez, que vinham de Sertânia ou Arcoverde para dar expediente em Custódia. Também lembro as novelas de rádio que ouvia, com ela, e ficava imaginando os personagens, seus semblantes e suas roupas. Não tenho dúvidas de que aquelas novelas foram a minha iniciação para imaginar fatos, episódios e personagens, que me inspiram hoje as crônicas, poesias e novelas que escrevo.

Nos cuidados da casa, éramos apoiados por duas Marias.

Maria Grande era introvertida, não gostava de adulações e costumava ser atenciosa e calma. O seu espaço era a grande cozinha, com um fogão de lenha no centro, tendo ao lado uma despensa. Talvez se possa afirmar que Maria Grande viera de um dos Quilombolas da região. Eu gostava de me aconchegar aos seus cuidados. Vez por outra ia à cozinha, na hora que ela almoçava. Ela oferecia-me um bolinho de feijão com farofa, amaciado em suas mãos, a coisa mais gostosa que eu experimentava da sua ternura.

A outra – que chamávamos Maria Pequena –, viera dos sítios do entorno e coadjuvava minha mãe botando sentido nas crianças, como se usava dizer entre nós. Dela, me recordo quando nos chamava para o lava-pés, na varanda interna da casa que se abria para o quintal. Era lá que ficava o “lavatório” – , a bacia e a jarra de ágata com desenhos coloridos. Dado que não havia água encanada, o lavatório nos servia para o ritual diário de quando acordávamos, antes das refeições e quando íamos dormir.

Na memória espacial da minha infância, nossa casa era imensa, com vários quartos e duas salas grandes, a de estar e a das refeições, ligadas por um corredor que ladeava os quartos. Quando fui para o internato, aos 11 anos, eu só ia a Custódia no período das férias escolares. À época, houve uma reforma na casa, fez-se uma nova fachada, e foram comprados móveis novos, no Recife, para torná-la mais moderna.

Em suas idas ao Recife, meu pai parava em Pesqueira, para me visitar. Queria sempre saber das minhas notas, de como eu me comportava e se estava bem de saúde. Conversávamos no “parlatório” do internato. Eu me sentia muito amada com o afeto que ele me dedicava. A saudade da minha mãe era amenizada com as guloseimas que ela me mandava: bolos de goma, caixinhas de Todd, ameixas secas, uvas-passas e Leite Moça, para misturar com o chocolate. Eram os primeiros produtos industrializados que conhecíamos, além do Guaraná Fratelli Vita.

No ano em que completei 15 anos (1953),iniciei os meus primeiros passos para a tão sonhada liberdade. Fora convidada a atuar na JEC - Juventude Estudantil Católica, Região Nordeste. No Recife, meu pai entrara em contato com o professor e filósofo Zeferino Rocha, então sacerdote,assistente da JEC, na região. E só permitiu que eu fosse estudar no Recife, sob a sua tutela. O padre Zeferino conseguira que eu ficasse hospedada numa residência da Ação Católica para universitárias. Ali fiz excelentes amizades, e aprendi muito, pois tínhamos cozinheira, mas devíamos fazer turnos para dar conta da limpeza da casa. Depois, mudei para um pensionato, para ficar com Leny e Laíse, que tinham vindo para a capital. Meu pai continuava a nos visitar mensalmente, trazendo-nos os sabores de Custódia e as notícias de Ester. Foi nesse período que fiz o Curso Normal, embora o meu sonho fosse fazer o Clássico - eu já pensava em estudar algo ligado às letras. Mas meu pai me orientou a fazer o Normal - dizia que era um curso mais adequado para as mulheres se prepararem para o casamento. Eu não podia fazer mais do que assentir.

Em 1959, com apenas 57 anos, Seu Né decidiu vir morar no Recife, com minha mãe. Os filhos menores foram matriculados em colégios locais. Ele ainda esteve trabalhando um período em Custódia, como rábula, em defesa de pessoas menos favorecidas.

Fiquei pouco tempo com a família, no Recife. Em 1961 fui para a Itália, a convite do Movimento dos Focolares. Ao autorizar a minha viagem, papai me fez assumir o compromisso de que lá deveria entrar na universidade. A sua aquiescência me fez entender o quanto ele me amava e confiava em mim, deixando-me viajar, aos 21 anos, em busca dos meus sonhos.

Fiquei distante de Custódia e dos custodienses por muito tempo, por ter ido residir muito cedo no Recife, e, depois, no exterior. Muitos anos depois, quando eu já estava casada, viajei com Luiz Carlos e nossas três filhas, para fazê-los conhecer a saudosa paisagem da minha cidade natal. Se bem me lembro, na ocasião visitamos a fazenda da família de Teté – minha amiga de infância –, e chegamos a ir ao Sabá. As fotos que tiramos são pouco ilustrativas, como eram as fotos de então. Mas a velha casa da Rua Padre Leão, nº 49, ainda estava intacta, e assim ficou, até hoje, na minha memória.

Como tudo muda em nossa vida, mais tarde a nossa casa foi transformada numa nova construção. Hoje, nas fotos da Rua Padre Leão, não mais encontro o pé de fícus na frente do que era a velha casa, nem mais o chão precioso em que fomos tão felizes, na nossa cidade natal.


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No livro A Baraúna, do escritor custodiense José Carneiro e Souza, ele descreve Né Marinho como “um homem de personalidade marcante, como serventuário da justiça e empreendedor. Tabelião de competência reconhecida como Oficial do Registro Geral de Imóveis da comarca e proprietário do Bar Fênix, que fez história como o centro social de maior importância da cidade por longo tempo.”

Não deve ter sido fácil para o meu pai transferir-se para o Recife, com a família, deixando a cidade que ele tanto amava e que viu nascer, ainda na época em que era uma pequena vila. Por mais de 50 anos ele dirigiu o cartório e fez muitos amigos. Sem dúvida, a sua única motivação para vir residir no Recife, fora a de querer acompanhar de perto os filhos, que, em sua visão, deviam estudar em boas escolas e se preparar para fazer a faculdade. O seu maior empenho era o de nos oferecer a oportunidade de escolhermos uma profissão que desse prazer e segurança às nossas vidas.

Também no Recife meu pai cultivou vários amigos. Encontrava-os no antigo Bar Savoy, um conhecido bar situado na Av. Guararapes, no centro da cidade. O Savoy era muito frequentado por escritores, políticos da atualidade e poetas como o inesquecível Carlos Pena Filho.

Em sua vida, meu pai sofreu três golpes de imensa dor: a trágica morte de Cecéu, em Custódia, ainda criança, que o deixou muitíssimo abalado, a perda de Hélio, nosso irmão muito amado, que se foi de repente, aos 31 anos, pouco tempo depois do seu casamento, e a partida de Ester, minha mãe, aos 88 anos, também de repente, em razão de um problema cardíaco.

Depois de uma vida longeva e saudável, Seu Né nos deixou, pouco meses antes de completar 100 anos. O médico que o acompanhava costumava entretê-lo, dizendo-lhe que estivera em Custódia, que chovera em todo o município e que a política seguia cada vez mais animada. E, cada vez, meu pai o ouvia com um largo sorriso de satisfação. A sua cidade natal ainda era motivo de boas lembranças e alegrias.

Quando eu estava com ele – que, então, vivia sob cuidados médicos, no sistema Home Care, em Olinda –, sempre me perguntava por cada um dos filhos e filhas. Embora tivesse seguido as nossas conquistas pessoais, com o interesse que lhe era peculiar, alegrava-se de me ouvir contar, repetidamente, sobre as nossas conquistas e as chances que se abriam para o nosso futuro. Confesso que eu chegava a enfeitar um pouco as nossas conquistas, para alegrá-lo. Nessas ocasiões, ele acendia o seu olhar sereno, com a alegria de quem havia cumprido a sua missão. Estava pronto para fazer a grande viagem.


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28 novembro, 2021

Nosso Zezito Sanfoneiro - por Marcos Silva



Custódia no meu sertão
No Nordeste brasileiro
Puxando a sua sanfona
Tinha forró e piseiro
Que saia suor da testa
E quem animava a festa?
O Zezito sanfoneiro!

Numa sala de reboco
Sobre a luz do candeeiro
Começava logo cedo
Aquele forró maneiro
Tinha farra de valor
E quem era o tocador?
O Zezito sanfoneiro!

O Guilherme na zabumba
Era exímio zabumbeiro
O outro irmão Seba, era
Bom demais no seu pandeiro
Pois a farra, era grandona
E quem puxava a sanfona?
O Zezito sanfoneiro!

O Zezé também tocava
E no bombo, era ligeiro
Antes do Zezé puxar
O fole bem verdadeiro
Essa lembrança não sai
Quem tocava era seu pai
O Zezito sanfoneiro!

Sua sanfona calou- se
Lá pelo sertão inteiro
Foi para outra dimensão  
O nordestino guerreiro
No forró tinha cartaz
Agora descansa em paz
O Zezito sanfoneiro!

Marcos Silva.
Lá de Custódia PE.
São Paulo, 28/11/2021.


 

Reportagem de sertaneja é reconhecida em Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo


Géssica Amorim
Comunicação - UFPE
Letras - FECLE - SP


A estudante de Jornalismo Géssica Amorim, 27 anos, foi uma das vencedoras do 26º Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo (link: https://www.youtube.com/watch?v=_ytEmzGe99s). Promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco (Sinjope) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), no Recife, o certame é a principal premiação da categoria em Pernambuco.

Nesta quinta-feira (25), a estudante conquistou a distinção na categoria Estudante Texto com a reportagem “Francisca dos Santos, a última umbandista do Quilombo Teixeira”, publicada pela Marco Zero Conteúdo (https://marcozero.org/).

Radicada em Sítio dos Nunes, distrito de Flores, no Sertão do Pajeú, Géssica nasceu em Custódia. No município, ela também cursou parte do ensino básico na Escola de Referência do Ensino Médio José Pereira Burgos (a antiga Escola Polivalente). Neste trabalho premiado, a futura jornalista conta a história da agricultora aposentada Francisca Maria dos Santos, 71. Moradora do Quilombo do Teixeira, na zona rural do município de Betânia, ela vê o futuro de sua prática religiosa ameaçada pela onda neopentecostal que invade o povoado.






Nos últimos meses, Géssica Amorim tem visibilizado histórias da nossa região na Marco Zero Conteúdo, coletivo de mídia independente do Recife. Em sua conta pessoal no Instagram (http://instagram.com/gescamorim), ela revela ainda a paixão pela fotografia e o lugar que desde sempre entendeu como seu.  São objetos de uma iconografia bastante particular: imagens de santos populares, fachadas de casas, fotopinturas. Mas, também, o cotidiano de Sítio dos Nunes, de peladas e pegas-de-boi a personagens comuns à pequena vila.

Por Guto Moraes

Confira a reportagem premiada (https://marcozero.org/francisca-dos-santos-a-ultima-umbandista-do-quilombo-teixeira/)

27 novembro, 2021

Luizinho Tenório - por Fernando Florêncio



É gratificante para qualquer um nós – custodiense – que, por motivos diversos (pela sobrevivência digna principalmente,) teve que deixar suas raízes em busca de novos horizontes, e encontrar “lá na frente” com seus semelhantes em situação econômica e cultural bem diferente de outrora. Vitoriosos e bem sucedidos.

Desta família TENÓRIO DE MELO, tenho guardada na memória a silhueta de um cidadão que volta e meia, às segundas feiras “fazia uma feirinha” na bodega de Zé Daniel, meu pai.

DODÔ TENORIO era seu nome. Idade indefinida, pois aqueles sulcos a marcar-lhe as faces, obra indefectível produzida pelo sol inclemente do sertão, maquiava-lhe os anos já vividos.

Eu era menino de calças curtas, provavelmente antes dos 15 anos (hoje com 65) e via naquele homem de compleição franzina um exemplo a ser seguido. Parecendo-me que; ouvindo mais que falando, voz pausada com palavras moderadas, timbre equilibrado e encostado no balcão da bodega, atendia uma plêiade de pessoas originariamente humilde, com solicitude de um bom político.

Um bom político. Este era DODÔ TENÓRIO. Lá pelas plagas do Quitimbu, mantinha uma adversidade partidária e amistosa, (até porque eram visinhos de fazendas), com uma “raposa” chamada OZÓRIO VALERIANO. Contrastando com DODÔ, OZÓRIO tinha um corpanzil beirando os 150 kg. Pele avermelhada pelo sol, a obesidade não permitia que o astro-rei lhe sulcasse o rosto, como fizera com DODÔ. Portanto, idade também indefinida. Como diz o matuto, fiz este “leriado” todo para que a Família Tenório tire a dúvida:

TERIA SIDO DODÔ TENORIO O PATRIARCA DESTA FAMILIA QUE LEVOU COM TODO O ORGULHO DE UM CUSTODIENSE O NOME DA NOSSA TERRA A DISTANCIA QUASE INFINITA.??

Fernando Florêncio
Ilhéus/Ba

Sanfona livra réus em Custódia da cadeia



O promotor Diego Reis defende que réus de processos de crimes leves comprem o instrumento musical em vez de cumprir pena. A sanfona é usada para ensinar aos jovens a tocar forró.

Em vez de cumprir a pena, comprar uma sanfona. Essa é a inusitada proposta de pena alternativa do promotor público Diego Reis, que vem repercutindo positivamente e despertando as atenções para a Comarca de Custódia, Sertão Moxotó, a 340 quilômetros do Recife. Sua iniciativa atinge pessoas que cometem crimes leves e a pena já foi aplicada pela Justiça em processos de dois réus. O juiz determina que o sentenciado compre o instrumento musical (que é caro) e extingue o processo. A sanfona é usada em aulas de música que ensinam os moradores da cidade a tocar o autêntico forro pé-de-serra.

O projeto é pioneiro e ganha maior importância porque a sanfona é usada em processo educacional voltado para menores em situação de risco. Até agora a Comarca de Custódia recebeu três sanfonas, duas através das sentenças e uma doada pelo Ministério Público, que aplaude a iniciativa do promotor Diego Reis. Mesmo acumulando a Comarca de Betânia, ele encontra uma brecha na sua concorrida agenda para ensinar música gratuitamente aos meninos.

Os ‘alunos’ têm entre nove e 17 anos e já provaram que levam jeito para o negócio. Os garotos, que assistem às aulas há quase um ano, vêm participando de apresentações públicas. Na festa de São José (o padroeiro da cidade), que teve início neste fim de semana, foram uma das atrações. Além dos três sanfoneiros, mais dois jovens se incorporaram ao trio e formaram o quinteto Fuleiros do Forró.

CULTURA VIVA - Pelo fato de o promotor ser músico profissional, o projeto decolou fácil. E por que forró? Diego Reis explica: “Além de ser nossa cultura, estamos profissionalizando os jovens e ensinando a eles o autêntico forró pé-de-serra mostrando a diferença em relação ao estilizado”, justifica.

A idéia de aplicar esse tipo de pena surgiu na promotoria em acordo com o Conselho Tutelar. Além de Custódia ser a sua primeira comarca, o promotor tem certeza de que plantou uma semente muito boa no Sertão. “Esses três jovens daqui a pouco vão estar ensinando os outros e assim por diante. E o forró pé-de-serra, tocado no melhor estilo de Luiz Gonzaga, jamais desaparecerá na cidade”, comemora.

Diego é recifense, 30 anos, e começou a tocar sanfona ainda na adolescência. Criou o conjunto musical de forró Quenga de Coco (1994), mais tarde chamado Lampiões e Maria Bonita, que já tem dois CDs gravados e se prepara para gravar o terceiro. Esse último, com apoio da Associação do Ministério Público. O seu gosto pelo forró nasceu em casa, pois seu pai é de Campina Grande e a mãe, de Caruaru.

Diego representa o perfil do novo promotor de justiça, que é o de se integrar à comunidade, cooperando, participando, e não agindo isoladamente no campo da justiça.

Fonte: UOL (2006)

Programa Forró Verso e Viola em Custódia (1994)


Ivan Ferraz e equipe foram até a cidade de Custódia, onde gravou o programa “Forró Verso e Viola“, que será exibido, neste domingo, às 9h, pela TV Pernambuco, Canal 9, aproveitando a tradicional Festa de São José, padroeiro daquela comunidade.

No programa, além da reportagem sobre a vida do município, suas atividades produtivas, o estilo de vida de seus habitantes, haverá entrevista com o prefeito Luiz Epaminondas Filho, Hugo Gonçalves (proprietário da fabrica de doces Tambaú) e com o artesão Raimundo Santeiro.

A parte musical fica por conta de Jorge de Altinho e de um show realizado por Asas da América em praça pública.

O programa encerra com a procissão percorrendo as principais ruas da cidade, finalizando com sua chegada a Igreja Matriz de São José, com uma mensagem do vigário Padre Mauro.

Publicado no Diário de Pernambuco do dia 03 de Abril de 1994.

26 novembro, 2021

Ponto de Cultura Grupo de danças Luar do Sertão se apresenta hoje na Feira Literária de Serra Talhada (FLIST)

 


Unindo Literatura, Música, Dança, Cinema e Teatro, a FESTA LITERÁRIA DE SERRA TALHADA (FLIST) esta sendo realizada deste de terça feira (dia 23) e vai até hoje (dia 26), na Estação do Forró daquela cidade. Nesta quarta edição o evento buscou contemplar as expressões artísticas em torno de elementos culturais do Sertã de Pernambuco.

A literatura foi a base da produção, com nomes como o escritor serratalhadense Marcos Godoy, e artistas como o repentista Ivandildo Vila Nova. O evento foi realizado de forma presencial e virtual através dos sites Fundação Cabras de Lampião e da Prefeitura de Serra Talhada.

Durante o encontro, houve Palestras, mesas de diálogos, conferências, contações de histórias, lançamento de livros, além de apresentações com artistas local e nacional, como Jorge Filó, Vera Ferreira, Anildomá Willians, Ferreira Júnior, Sebastião Dias e Zé Carlos do Pajeú.

Contou ainda com shows de Assissão, As Severinas, Jéssica Caitano e Coco Trupé de Arcoverde. Grupos de danças como Filhos do Sol, Grupo de Xaxado Cabras de Lampião. E durante o evento foi exibido filmes produzidos na região, com artistas e técnicos do Sertão.

Além de ser um ambiente para vivenciar arte, a FLIST abriu espaço para a cultura do livro, e da leitura, da Biblioteca, escutando em alguns momentos a sociedade e com entendidas envolvidas na área. Durante o evento, a organização espalhou obras literárias pela cidade para incentivo a leitura. Depois os livros serão entregues a Biblioteca Municipal.

Representando a Cultura Custodiense, o Ponto de Cultura Grupo de Danças Luar do Sertão se apresenta dia 26 (hoje), às 16h, na Estação do Forró em Serra Talhada. 

Segundo Ubira Queiroz, Diretora do Grupo de Danças, apresentação envolve ritmos onde mostra a musicalidade e a caracterização dos dançarinos tem ligação entre a música e interpretação corporal. Será mencionado nomes de autores e músicos, relacionados com a apresentação. Um repente misturado, que envolve coco e maracatu, mostrando também a história da feira de nossa região.

Uma novidade para esta apresentação, será a relação da dança popular com a dança contemporânea. Através da interpretação corporal, e música instrumental.

Ubira ainda informa que, espera com essa apresentação, se aproximar novamente ao publico mostrando a valorização do trabalho através da dança. Mostrando a identidade dos jovens integrantes do grupo, onde os mesmo apresentarão seus talentos, estudo e pesquisa.

Informação: Produção do evento
Informação sobre P.C.G. de Danças Luar do Sertão: Ubira Queiroz

25 novembro, 2021

Memória de uma custodiense - por Vanise Rezende

Vanise Rezende
Recife-PE


Quando alguém se aposenta, após um longo período de trabalho profissional, são recorrentes as oportunidades de repassar na memória os tempos em que são feitas as primeiras escolhas da vida.

Desde os passos iniciais já se começa a desbravar empecilhos e aprender como se equilibrar nos pedregulhos ou superar veredas espinhosas.

Nas caminhadas é possível descobrir a exuberância de uma paisagem à subida da serra, contemplar vales verdejantes ou ouvir o sussurro das águas que arrebentam nas pedras. Também é possível observar a singela beleza de um estreito corredor sertanejo ladeado de avelós   ou  cercado de arame farpado e cipós ressequidos.

Os diferentes momentos da vida oferecem paisagens diversas que enchem a vista de emoções únicas. Ao contemplar essas paisagens, os caminhantes podem, até,  não se dar conta de quando estão a chegar ou, mesmo, a se perder do seu destino.

Comigo não foi diferente. Meu primeiro trabalho, ao terminar o magistério, foi o de enfrentar uma sala de pivetes assanhados que eu nem sabia conduzir. O magistério não era bem o que gostaria de escolher. Meu pai, cuidadoso com o futuro das filhas, não me permitiu seguir o curso clássico da época, como eu teria desejado. Sertanejo de rígidos princípios, pensava que as filhas mulheres devessem cursar o magistério, pois assim estariam preparadas para o casamento e a maternidade. Quanto aos dois rapazes, meus irmãos, ah, estes sim, puderam escolher advocacia e engenharia como desejavam, pois seriam futuros doutores e chefes de família. Esse foi o meu inevitável roteiro de iniciação.   

Assim, quando estava por completar onze anos fui acompanhada por meu pai a Pesqueira, cidade agreste das primeiras fábricas de doces, com seus altos bueiros, cuja fumaça anunciava aos viajantes a proximidade da chegada. Era a minha primeira viagem de trem e a primeira viagem a lugares fora dos ares do sertão.
         
Não obstante a rigidez do internato havia algumas alegres compensações: a saída nos finais de semana, quando eu era acolhida pelos parentes, na cidade, sempre que conseguisse manter qualidade no estudo e um bom comportamento.  Assim, podia ir ao cinema, a grande novidade da época, quando via o seriado de Tarzan ou mesmo um filme com Beth Davis. Seu Né Marinho, meu pai, me visitava a cada mês trazendo guloseimas com os sabores de Custódia e as notícias de minha mãe, Ester, cuidadosa e terna, na época ainda ocupada com os filhos menores.

A vida, no internato, era bem diferente dos dias da infância, em Custódia. Lá aprendi a cuidar da minha voz participando do canto coral que me trazia muitas alegrias e suscitava novas descobertas sobre a arte da convivência humana. Nos ensaios do coral aprendi a ouvir a voz dos outros com atenção, a levantar ou baixar o tom da minha voz para harmonizá-la com o solfejo coletivo, a esperar o momento de cantar e saber quando, de súbito, silenciar.

Os sonhos se abriam para o mundo ao tempo em que aprendia a localizar-me no colorido labirinto do Mapa Mundi. Sonhos ingênuos de então que se tornavam sempre mais espaçosos e cheios de desejos.
         
Foi no internato que aprendi melhor a arte de pensar, nos longos momentos de silêncio impostos na sala de estudo das estudantes internas. Era um espaço apropriado para que, entre as ingênuas adolescentes do internato, as mais ousadas se iniciassem nos emocionantes momentos de transgressão: ali, escrevíamos cartas aos jovens estudantes do Colégio Diocesano ou das cidades onde havíamos deixado a nossa infância. Pois o coração da mulher, ainda que criança, já começa a entrever, embora com certo desassossego, as suas escolhas e os seus afetos.
  
O silêncio e a quase imobilidade exigidos por cerca de três horas para o estudo das internas, também serviam para a leitura de cartas que chegavam dos correios, sem a intervenção das cuidadosas  mestras protetoras. Também preparávamos bilhetes para os amigos e amigas da cidade. Era um espaço em que podíamos sonhar os sonhos mais reclusos, enquanto fosse possível alcançar o desejo que tínhamos de ser grandes.

No internato também aprendi a preparar as famosas filas para o êxito nas provas mais difíceis. As provas de bordado e tricô eram, para mim, mais temidas do que as chatas operações de matemática. Sempre me reconheci limitada às artes manuais, tão criativas e práticas, mas para mim dificílimas de executar. Havia sempre uma colega que aceitava, em troca de alguns “sopros” nas provas de história ou geografia, preparar um arremedo que fosse do trabalho em causa, a fim de que eu conseguisse, no máximo, o mínimo da nota necessária.

Aos quinze anos iniciei os primeiros passos da tão sonhada libertação dos pais.  Consegui que Seu Né entrasse em contato, em Recife, com o hoje grande filósofo e professor Zeferino Rocha, então sacerdote responsável pela Ação Católica da Juventude Estudantil (JEC) da Região Nordeste. Sob a sua tutela, papai me permitiu residir em Recife, numa casa estudantil da Ação Católica. Mais tarde mudei para outro pensionato com mais duas irmãs que também estavam vivendo  em Recife.

A convivência saudável e solidária com outros jovens da Ação Católica promoveu o meu interesse por novos projetos. Assim, fui descobrindo novas oportunidades a medida que participava dos fóruns de cinema, de encontros de literatura e, até, da reuniões de poesia e dança que fazíamos para nos divertir. Foram os melhores tempos da cultura francesa na formação dos estudantes da época.

Aos 21 anos fui convidada a participar de um congresso religioso, na Europa (Frankfurt), o que contribuiu para que aquela matuta lá do sertão alargasse mais o seu olhar sobre o mundo e se ocupasse de questões, desta vez trazidas por outro movimento que também privilegiava a fraternidade universal: o Movimento dos Focolares.

Foi a oportunidade que tive de, então, estudar e residir em Roma, trabalhar para complementar a bolsa de estudos que consegui na Universidade, e manter contato permantente com pessoas de outros países, seja na comunidade onde vivia, seja com os colegas universitários - provenientes do então chamado “terceiro mundo”.

Tudo isso me levou a formar uma consciência crítica razoável diante das já então gravíssimas diferenças entre povos, países e pessoas da comunidade universal. Foram nove anos de trabalho social, como também de muito aprendizado e vivências de momentos gratificantes na minha vida pessoal e profissional, na Itália e, posteriormente, no Brasil.

Na Itália estudei Comunicação Social e Jornalismo e, de volta ao Brasil cheguei a me tornar educadora, pela urgência das necessidades dos empobrecidos. Com o aprendizado do trabalho em  diferentes programas e projetos estaduais e federais que coordenei,  na região Nordeste, exerci, mais tarde, a profissão de consultora de centros universitários, secretarias de educação estaduais, organizações não governamentais e outras instituições. Meu último trabalho formal foi o de consultora de dois programas do Ministério da Educação, na região metropolitana do Recife. 

Nesse percurso, o casamento, a maternidade e, posteriormente,   a convivência com minhas três filhas, já adultas, me ensinaram a estar atenta aos sinais dos tempos, às extraordinárias e rápidas mudanças por que passou a minha geração e ao grande salto percebido, também, na geração de minhas filhas. Nesses tantos anos, tão rico de parcerias e excelentes experiências sociais, a vida me ensinou a enxergar, com mais clareza, como as grandes mudanças influenciaram positivamente e profundamente o meu modo de pensar e de agir, até agora,  com os  setenta e mais anos que carrego com tanto prazer.

Hoje, ao manter a partilha com pessoas de idades e condições de vida diferentes, enriqueço-me e amplio o meu aprendizado e o exercício do bom senso, o que me ajuda a continuar a fazer novos projetos, a acreditar na beleza da vida e a estar aberta a novas aventuras como esta de brincar de escrever, que gosta tanto!


24 novembro, 2021

Dona Helena: A rezadeira do sertão do Moxotó que atrai gente de todo o Brasil à procura de bençãos, orações e proteção.


Crédito: Géssica Amorim/MZ Conteúdo

Publicado originalmente no site Marco Zero, texto de Géssica Amorim


Dona Helena Alves de Siqueira, 77, é uma das rezadeiras mais famosas do sertão do Moxotó. Moradora do povoado Mulungu, zona rural de Custódia, há mais de 50 anos, ela recebe em sua casa, todos os dias, pessoas que recorrem aos seus conhecimentos espirituais, buscando cura e proteção para o corpo e o espírito.

Segundo dona Helena, o seu dom foi revelado em sonho, quando ela completou 22 anos. “Eu vi uma luz muito forte onde eu estava dormindo com meus filhos. E nesse tempo, não tinha energia, não tinha iluminação. Eu pensei que o candeeiro tinha caído e queimado a casa. Uma mulher muito bonita apareceu em meu sonho e me disse que eu tinha esse dom. Que eu tinha a missão de receber em minha casa pelo menos seis pessoas para rezar, benzer. Eu não sei ler, mas, graças a Deus, sei passar a palavra”.

Os visitantes de dona Helena, que ela costuma chamar de “pacientes”, são fiéis. Fazem visitas frequentes e chegam de toda parte. O povoado Mulungu recebe pessoas de outras cidades, de outros estados e até de outras regiões. “ Vem gente de Recife, Serra Talhada, Juazeiro do Norte, de Minas Gerais e também São Paulo. Se eu for dizer a você o tanto de gente que frequenta aqui, você não vai acreditar ”, conta a rezadeira.

Essa não é primeira vez que visito a casa de orações de dona Helena. Quem primeiro me levou até lá foi o meu amigo e conterrâneo Augusto Moraes, jornalista de sensibilidade admirável. Desde a nossa última visita, muita coisa mudou. O local onde acontecem as reuniões, que, no início, era improvisado num pequeno quarto pegado à casa de dona Helena, foi reformado e ganhou mais espaço. As fotografias de fiéis que tomavam as paredes do antigo quartinho – agora todo pintado de branco – foram retiradas e guardadas.

Parece uma casa nova, onde, inclusive, dona Helena se prepara para encerrar a sua missão. Ela pretende passar o seu posto para José Mateus, um de seus 17 netos. Dos descendentes da rezadeira, ele é o único que, segundo ela, demonstra ter nascido com o mesmo dom. “Ela me descobriu quando eu tinha 12 anos. Eu via e escutava muitas coisas, quando era pequeno. Cansava de ver. Era vulto, voz. Sonhava com muitas coisas. A minha mãe dizia que era coisa da minha cabeça, até eu contar a vó Helena. Quando comecei a frequentar as reuniões, os guias espirituais dela me revelaram como o sucessor”, conta Mateus.


 


O neto José Mateus, de 17 anos, é o herdeiro espiritual de dona Helena.
Crédito: Géssica Amorim/MZ Conteúdo

Quando conversamos, Mateus estava se preparando para ir até Custódia, fazer a primeira prova do Enem deste ano. Ele quer ser psicólogo e deseja manter a casa de orações ativa mesmo depois de se formar. “Acredito que eu não poderei atender todos os dias, como minha vó atende, mas quero manter a casa aberta. E ela também vai continuar rezando de olhado, benzendo as pessoas. Só não vai poder mais fazer os trabalhos com os seus guias espirituais”.

Os guias espirituais a que Mateus se refere seriam os espíritos de duas das oito beatas que viviam em torno do padre Cícero Romão, Maria de Araújo e Joanna Tertulina de Jesus (a beata Mocinha), frequentemente citadas como testemunhas dos supostos milagres do padre do Juazeiro. Dona Helena “trabalhou” com a beata Maria Araújo durante 18 anos e, depois, seguiu com a beata Mocinha, com quem “trabalha” até hoje. Quanto aos guias espirituais de Mateus, que são outros, o rapaz diz que só poderá revelá-los quando assumir o lugar de sua avó.

Mateus não demonstra insegurança quando perguntado se está pronto para levar adiante a missão, o prestígio e a confiança que dona Helena conquistou. “Na verdade, eu não acho que estou pronto. Eu tenho certeza. Como a minha avó Helena sempre fala, eu nasci pronto pra isso. Eu também já não tenho escolha, tenho que estar preparado”.

Mesmo com o sol forte e as condições precárias das estradas de terra que dão acesso à casa da rezadeira, o seu espaço de oração nunca está vazio. Há mais de dez anos, o agricultor Manoel Oliveira, 58, morador de Rio da Barra, distrito do município de Sertânia, visita dona Helena com frequência. “Quem vem pra cá, tem que ter fé, mesmo. As estradas do jeito que estão, fica ruim pra passar carro baixo. Além da necessidade, tem que acreditar. Hoje eu vim do Rio da Barra trazendo o meu neto para fechar o corpo. Com dona Helena, tudo sempre dá certo”.

Dona Helena não cobra nenhum valor pelas consultas espirituais que oferece a quem lhe procura. Cada um retribui como quer ou como pode. “Nunca cobrei um centavo de ninguém. Já vi várias pessoas chegando aqui amarradas até com corrente de arado. Quem me deu a missão não me permite fazer isso e eu também não quero cobrar. Eu vivo pra ajudar as pessoas”.



Dona Helena preparou sua casa para “encerrar sua missão”.
Crédito: Géssica Amorim/MZ Conteúdo

 Todos os Direitos Reservados desta matéria ao Marco Zero, e a autora Géssica Amorim.

Matéria Publicada em: https://marcozero.org/a-rezadeira-do-sertao-do-moxoto-que-atrai-gente-de-todo-o-brasil-a-procura-de-bencaos-oracoes-e-protecao/

Como é ficar cego? - por Aírton Araújo





Algumas vezes, indagaram-me: Como é ficar cego? Ou, afirmaram ficar cego deve ser muito difícil... E, a resposta mais coerente que encontrei foi à seguinte: 

A pessoa vidente que se torna cega é como uma árvore exuberante que foi ceifada no tronco, tornando-se apenas um toco. Aí dependerá da capacidade de regeneração de cada indivíduo para cicatrizar e calejar as feridas, através da perseverança, insistência, luta e enfrentamento dos mais variados obstáculos, bem como, do lugar e do meio em que está inserido, pois se o solo for fértil e receber os cuidados necessários para sua adaptação e reabilitação, o resultado poderá ser uma moita frondosa, deixando de viver a sombra de outras árvores para ganhar a independência, passando a sentir os prazeres da liberdade. Mas, se o lugar em que está localizado o solo for infértil e não receber as devidas correções, que possa oferecer condições de desenvolvimento de suas competências e potencialidades, poderá apenas se transformar em um toco, que viverá para sempre a sombra de pequenas árvores se tornando em muitos casos um incômodo ou um fardo e, em outros, a galinha dos ovos de ouro para o sustento de seus familiares. Por outro lado, se a árvore foi cortada, o solo não é fértil e o toco não recebeu as devidas oportunidades, necessárias para formação de uma moita viçosa. Aí o indivíduo precisa ser muito forte, teimoso e persistente, semelhante a um toco de catingueira, que mesmo diante da hostilidade climática do sertão, além de ser castigado, pisoteado, marginalizado, tripudiado, esfolado, chibancado, queimado, renasce das cinzas para se transformar em uma moita frondejante. O seu crescimento calcado nos alicerces das dificuldades e desafios durante o prolongamento de seu caule,que contará com um ponto positivo, devido suas inúmeras ramificações, que certamente servirão de base para sustentação na desafiante escalada da vida. Mas, mesmo tendo se tornado uma árvore vigorosa e dá bons frutos, para muitas cabeças pequenas, não passará de uma moita. No entanto, outras incontáveis mentes abertas, o respeitarão e compartilharão a alegria da vitória e reinarão juntos, o triunfo da superação, atuando como nutrientes da igualdade e valorização das diferenças. 

Autor: Airton A. Araújo - 10/10/2010.

Acredite em você - por Silmara Feitosa


ACREDITE EM VOCÊ

Não importa o que o mundo lhe oferece
Importante mesmo é o que você oferece ao mundo…
Não importa o que você têm
Importante mesmo é o que você é…
Não importa onde você esteve
Importante mesmo é onde você está…
Não importa as lágrimas choradas
Importante mesmo é a doçura que compõe o seu sorriso…
Não importa onde nem quando você parou
Lembre-se somente que continuar é preciso…
Buscar se faz necessário às realizações dos sonhos e objetivos
Lembre-se à força necessária ao seu crescimento está dentro de você
O universo devolve tudo que lhe é ofertado …

Portanto, ACREDITE EM VOCÊ.
Silmara Cristina Feitosa é o seu nome, gosta de ler, escrever, estudar, olhar as estrelas, admirar as flores, ouvir músicas do Roberto Carlos, contar histórias engraçadas e sorrir com seus filhos. Adora refletir para se auto avaliar. É coordenadora, pedagoga, psicopedagoga, porém antes de tudo educadora. Trabalha com crianças chamada “Normais”, tem o privilégio de aprender com pessoas com D.M. (deficiência mental), educação especial. Abomina todas as formas de preconceitos, defende a oportunidade e igualdade em todos os aspectos necessários ao ser humano, acredita que somos mutáveis e ilimitados. Somos filhos de Deus. Acredita que ter conhecimento e não transformar, não é inteligência.

Publicado no Recanto das Letras em 19/02/2009

Artista Plástico Lidio Marinho


Pintura : Tela a óleo, tamanho: 1.20 x 0.95 
Tema: Pietá


Tema: Catedral de Custódia
Pintura: Tela a óleo, tamanho :1.10 x 0.90


Lídio Marinho
Nascimento: 13/02/1966

Biografia: Nozinho Veríssimo



Cognominado afetivamente de Nozinho, tanto no âmago familiar, quanto no círculo de amigos. Custodiense nato, nasceu em 11 de novembro de 1914, filho de Euclides de Góis Amaral e Maria Tereza Amaral.

Nozinho casou-se com Olindina de Queiroz Amaral. Dessa união, constituiu uma prole de oito filhos, que lhes transmiti o primeiro legado de autoridade, simpatia, carinho e responsabilidade.A sua descendência é pautada pelo seu exemplo de dignidade, trabalho e respeito ao semelhante.

Como cidadão, enveredou no campo político social com o objetivo de defender os destinos de sua terra e dos custodienses. Foi um dos constituintes da Primeira Lei Orgânica Municipal. Foi eleito para o seu primeiro mandato de vereador em 18 de Agosto de 1963

Tomou posse em 15 de Novembro do mesmo ano. Em 20 de Fevereiro de 1967, ficou à frente dos destinos da Câmara de Vereadores de Custódia, como presidente. Defendeu o seu mandato com honradez e trabalho. 

Político incansável na luta pela causa pública, em 15 de novembro de 1982, foi eleito para o seu segundo mandato de vereador. Tomou posse em 31 de janeiro de 1983, terminando seu período legislativo no ano de 1989.

Nozinho foi um vereador politicamente incompreendido por muitos, no entanto, defendia veementemente os direitos dos seus conterrâneos. Também exerceu a função de agente arrecadador da Secretaria da Fazenda.

Viúvo, casou-se com Maria do Socorro Siqueira, companheira que jamais se afastou do cumprimento de suas obrigações matrimoniais, até dar-lhe o seu último adeus. 

No dia 30 de Julho de 2008, despediu-se involuntariamente dos seus entes queridos, parentes e amigos, num vôo eterno, em busca da paz espiritual.

O Sr. Nozinho escreveu seu nome nos anais da nossa história como político que ama a sua terra e o seu povo, deixa com legado o seu exemplo de homem honesto e trabalhador.

*Texto originalmente publicado no Informativo da Câmara de Vereadores de Custódia, edição n° 026 de Setembro de 2008. 

Abílio José Duarte e a Avenida Inocêncio Lima


Meu avô, Abílio José Duarte (quem abordei em uma pequena Biografia em postagens anteriores), morava na Zona Rural e mudou-se para a cidade. Ele, com a minha avó - Juvina Alves Duarte - e seus filhos, já residiram em diversas casas, de diversas ruas, mas sempre no atual Centro de Custódia. O caso do meu avô com a Avenida Inocêncio Lima começou quando a minha avó queria criar galinhas, porcos e ter um muro para plantar. Para isso, ele teria que se mudar de casa, já que a sua então casa não permitia espaço para isso. 

Na época, a Avenida Inocêncio Lima ainda não era calçada e muitos menos pavimentada: era um verdadeiro "tapete de terra". Mesmo depois de sua morte, em 1972, a Meu avô morou na atual casa de Chico Elizeu até 1940, já morou na Várzea (Avenida João Veríssimo) e ao lado da Igreja Matriz, mas foi lá, na Avenida Inocêncio Lima, na "Artéria Aorta" de Custódia, que o meu avô e toda a sua família se estabeleceram definitivamente. Na casa dele, a qual passei toda a minha infância, atualmente funciona o CREAS, que é de funcionamento da Prefeitura de Custódia.

Texto: Marlos Duarte (neto)

João Miro e o pintor artístico - por Francisco Alves


Eita que esse Zé Melo tem historia hein; creio que devêssemos dar-lhe o titulo de “O contador de historias", como diz Fernando Florêncio, não que não sejam verdades, é que a idade o faz ter vivido e trilhado por vários caminhos dos arredores de Custodia essa Cidade pujante. Eu mesmo sou testemunha viva deste desbravamento cultural de Zé Melo, só para recorda-lhe sou do tempo em que Você “Zé Melo” ensaiava uma banda musical com Dr. Seba, próximo à escola General Joaquim Inácio, olha que faz tempo e ele o tempo não perdoa, passa sem se quer frear pelo ou menos um pouquinho. 

Recordo-me também, que fui eu o Pintor artístico e publicitário (Letrista) por um período ai na prefeitura em tempos de João Miro, nesse tempo o Pintor era “Joãozinho pintor ou do gesso, pai de Marcos" que me viu escrevendo um letreiro na então escola "General" onde meu Pai, Seu Cícero "in memoriam" estava fazendo uma reforma, pois era o pedreiro na época, a diretora da escola naquela época, era Dona Linda, que por sinal foi quem me deu a primeira chance de (letrista), me incentivou muito e acabei sendo contratado pelo Prefeito João Miro, para pintar os nomes das escolas. 

Por indicação do próprio Joãozinho que era o letrista da época, e lá fiquei um bom tempo, até que um dia João Miro mandou me chamar e me perguntou: "Tu sois filho de Cícero né?", respondi que sim, - retrucou-o antes que eu terminasse, disse - "pois é te chamei aqui, porque tu tá ganhando mais do que o prefeito que sou eu, tu trabalha até bonzin, mas se continuar ganhando assim ou eu fecho a prefeitura ou tu toma conta dela"

Fiquei pasmo naquele momento sem saber o que dizer, pois eu ainda era muito jovem e não tinha o costume de falar com autoridades, principalmente O prefeito João Miro, que era muito direto. Fiquei a tremer igual vara verde; insistiu ele, creio que para quebrar o gelo daquela situação danou-se a ri com uma risada estranha, fiquei mais aturdido ainda, e ele me perguntou. 

-"e ai, tu vai baixar esse preço ou não? 

Não tive alternativa a não ser dizer que sim. Imaginem que naquela época o valor já era irrisório, e ele me pedia para baixar o preço era fazer de graça então. Mesmo assim resolvemos a pendência e continuei trabalhando por um bom tempo, era muito bom, era uma espécie de novidades pra mim, com aquela idade, “creio que eu era o melhor pintor da época”, pois só havia eu.(rs). 

O Joãozinho não queria mais o oficio de letrista tinha outras atividades e passou a me orientar sobre a nova profissão, espécie de Meu mestre. Olha que mordomia, o carro da prefeitura me levava pela manha para os sítios onde eu ia escrever os letreiros das escolas e a tarde ia buscar-me, só que era por empreitada, e João Miro já dizia:

-"se tu não terminar no dia o motorista vai te deixar lá". 

- Era uma loucura, claro que era uma brincadeira dele eu acho. Mesmo por que sempre terminei no prazo combinado, e eu era besta de não terminar. 

Por Francisco Alves – Limeira/SP 
Abraços a todos. 

23 novembro, 2021

Pôr de sol no açude do DNOCS




Ronaldo Ferreira enviou para o Blog Custódia, fotos de pôr de sol, da cidade que, segundo ele aprendeu a gostar.

As fotos foram registradas no açude do DNOCS.

Luiz filho de Zé Biá



Vídeo gravado na Rua Tenente Moura, após apresentação no Bar do Bengo, dia 31 de Outubro de 2011.




Todos os anos um grupo de tocadores chama atenção durante feira do final de outubro e começo de novembro, é o grupo Nossa Senhora Aparecida.

Um dos integrantes é 
Luiz José da Silva, filho do saudoso Zé Biá. Circulam pela feira e ruas da cidade arrecadando fundos para a novena da capelinha do Bairro Mandacaru I.

Foto e Vídeos: Paulo Peterson