15 maio, 2023

O dia em que eu vi o Rei - Rogério Gonçalves

Rogério Gonçalves Pessoa
Olinda - PE
Maio/2020


Quanto mais vamos caminhando ao longo da vida e a neve do tempo teimando em cobrir nossos cabelos, mais distantes ficam as lembranças do nosso passado. Porém, existem fatos que, comprovadamente não saem da nossa memória, que não são vencidos pelo passar dos anos, como sua primeira bicicleta, seu passeio inesquecível, sua primeira comunhão, suas professoras do primário e ABC.

Claro que, muitas destas emoções remetem da época em que vivemos neste pedaço de chão que nos envolve, mesmo a distância, embora a um longo tempo sem pisar nesta terra abençoada por Deus, Custódia – PE.

E é justamente desta época que vou falar, lá pelos idos de 1976, 1977, onde um dia comum na vida daquele garoto começara e que deixaria entalhado em sua memória este encontro inusitado com o rei do baião.

Era costume na maioria dos finais de semana irmos até o Hotel Macambira, almoçar com a família, recebidos por Tio Gerson e tia Teca. 

Por lá, onde caminhávamos por todo os lugares, lembro da cozinha a todo vapor, preparando as delícias, as carnes de sol temperadas por meu avô Amaro estendidas no quintal, vovó Maria inspecionando tudo, os adultos conversando e os primos? Ah, esta equipe não parava um segundo: 

Os filhos de Gerson e Terezinha se juntando com os de Nicinha e Rui, meu Pai do céu. Pegava fogo! Não tinha um lugar do terreno em que a gente não explorasse. E Virgínia, nossa eterna cuidadora ainda tinha que ouvir piadas em que ficava vermelha e pedia pra gente parar. Ah, Virgínia, quantas lembranças boas.

Acredito que antes do almoço parou uma comitiva na frente do hotel e como todos sem exceção eram bem recebidos, um senhor alto chegou no balcão e pediu rapadura batida, produto bem vendido no hotel. Eu vinha saindo da cozinha e parei diante do balcão, identificando aquela voz. 

Sim, era ele, seu Luiz Gonzaga, rei do baião, aquele que cantava a “Apologia do Jumento”, que eu repetia tanto. Já que não tinha vergonha de nada mesmo, olhei pra ele e disse: 

-Seu Luiiiiz, comi seu mi, e como, e como, e como...

Já junto da portinha que dividia os balcões. 

Aí todo mundo se virou e queria saber de quem era aquela voz, e o rei do baião, solícito e muito simpático, colocando sua mão em minha cabeça falou:

-Fi da peste, comeu mesmo! 

Risos no salão do hotel e eu realizado! O rei tocou minha cabeça e falou comigo!

Pronto, deste dia para cá, ao escutar suas músicas, este fato se repete na memória, onde já contei inúmeras vezes, o que aviva mais esta linda experiência: 

O dia em que vi o rei.

Um comentário:

  1. Farão parte da terceira edição do meu livro Foi Assim 1, um relato semelhante enviado por Jussara Burgos e outro enviado por Petronio Eugênio. Ambos são engraçados, porém com desfechos diferentes. (Fernando Florêncio)

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