30 abril, 2021

Escola Maria Augusta - por Maria Claudete Simões Feitosa


Fevereiro de 1969, volta às aulas!

50 anos de agradecimento, felicidade, problemas perdas e muito amor.

Em Fevereiro de 1969 chegávamos de outras cidades, onde concluímos o magistério que, Custódia ainda não tinha.

Com a inauguração do Hospital, o Maria Augusta era um posto de saúde que passou para o Hospital começado por José Florêncio e inaugurado pelo prefeito Silvio Carneiro.

Chegamos com um diploma na mão e um anel no dedo, Creuza, Claudete, Ivonete Sousa, (Netinha) e Joselita Bezerra.

O prefeito Silvio Carneiro com sua inteligência de um grande mestre, já preocupado com a educação de Custódia, reformou e adaptou o posto de saúde para primeira Escola Municipal na cidade.

Nos nomeou com carteira assinada (C. L. T. ) pela prefeitura.

Então, começamos a ser funcionárias do município.

Em Setembro de 1970, fizemos concurso do estado, onde fomos apossadas no mesmo ano.

O prefeito Silvio Carneiro sem vaga também para o estado, cedeu o Maria Augusta para o estado, ficamos lá até que foi inaugurado a Escola José Pereira Burgos pelo Governador Marco Maciel e o prefeito Luiz Epaminondas Filho.

E para lá rumamos, ficando até me aposentar em 1993, como Diretora do Estado.

Continuei com a peregrinação do município até 2006.

Hoje, vendo os estudantes pela minha calçada recordei um pedacinho da minha história.

Abraços.

Sou feliz com uma família maravilhosa.

Por Maria Claudete Simões Feitosa

28 abril, 2021

Biografia: Josefa Lins de Souza "Dona Nita"


A senhora Josefa Lins de Souza, mais conhecida por Dona Nita, nasceu em Custódia-PE, em 28/04/1922. Filha de João Florêncio e Dona Maria Florêncio. Casou-se com o ex-prefeito e comerciante Adauto Pereira de Souza, dessa união tiveram dez (10) filhos, foram eles: Denildo Pereira Lins, Maria Lenilda Lins Pereira, Denilson Pereira Lins (falecido), Maria Lenira Pereira Lins, Lenilza Pereira Lins, Gilson Pereira Lins, Gicélia Pereira de Melo, Genildo Pereira Lins (falecido), Gilma Pereira Rodrigues e Adauto Pereira de Souza Filho. 

Muito nova perdeu o pai e a mãe, onde passou a exercer a função de Professora Leiga do município  como uma maneira de sobrevivência. Lecionou no sítio Timbaúba, Riacho do Gado, Samambaia, Quitimbu, todos do município de Custódia-PE. Quando se casou, fixou residência em Maravilha, lecionando por vários anos, até a sua aposentadoria. 

Foi uma pessoa que ajudou muito a comunidade daquele povoado, em uma época que não havia médico, com sua experiência de vida. Era católica fervorosa, se dedicou bastante por zelar a capela de Nossa Senhora Aparecida, padroeira de Maravilha. Acolhia em sua residência padres, bispos e até Frei Damião, quando o mesmo fazia as Santas Missões pelos interiores do estado. 

Por motivo de necessidade de acompanhar os filhos nos estudos, mudou-se para Custódia, já aposentada, passando agora a exercer a função de comerciante juntamente com seu esposo, sendo assim sua última atividade. Foi uma esposa e mãe muito dedicada, como também uma pessoa de coração generoso, ajudava bastante as pessoas menos favorecidas, por conta dessa generosidade, tinha uma lista incalculável de afilhados. 

Faleceu no Recife-PE em 11/05/1994.

Texto: Maria Lenilda e Maria Lenilza (filhas)

Hoje tem LIVE Clube da Poesia Nordestina com participação de poetas custodienses.



 PARA ASSISTIR, CLICAR ABAIXO, A PARTIR DAS 20H

Live Clube da Poesia Nordestina - 
"SAÚDE É TUDO NA VIDA / COM DEUS DANDO PROTEÇÃO!"

27 abril, 2021

Campanha Doe Alimentos para nossos artistas


Diante da necessidade dos artistas de nossa cidade, o Manifesto Cultural de Custódia, na pessoa de Plínio Fabricio, pede ajuda de todos, em relação à doação de alimentos. Quem puder ajudar, pode deixar no seguinte endereço:

Local de Entrega:
Casa do Músico 
Av.: João Verissimo n°148 Loja
Custódia-PE
Contato: 87999786261

 

Coqueiro da Bahia - Poeta Marcos Silva



Estou passando no grupo
Para mostrar cada verso
Graças ao Pai do universo
Eu passo aqui nessa hora
Através dessa sonora
Eu faço a minha poesia
Coqueiro da Bahia
Quero ver meu bem agora.

Sou da terra de valia
Meu querido Pernambuco
Terra de Joaquim Nabuco
O lugar que o povo adora
E se um dia eu saí fora
Voltarei pra lá um dia
Coqueiro...

Falo do fogo e da água
Falo da água e do fogo
Eu já sei qual é o jogo
E falo aqui sem demora
Fogo quente não vigora
Ao topar com água fria
Coqueiro...

Leão é o rei da selva
Tubarão é rei do mar
Onde o tal gato chegar
O rato já cai é fora
Em lugar que cobra mora
Sapo não tem garantia
Coqueiro...

Me casei com a Kioko
Filha do mestre Kiojo
Não fazia nem miojo
Mamãe não gostou da nora
Logo a mandei ir embora
Pro Japão com sua tia
Coqueiro...

Marcos Silva.
Lá de Custódia PE.

25 abril, 2021

Homenagem a Hiran Burgos (Izaias Moura)


Foto: Hiran Pereira Burgos


Hiran partiu nos deixando
sem direito a despedida,
Em cada custodiense
vejo a face entristecida,
Por ter perdido Hiran Burgos
um grande exemplo de vida.

A família reunida
lhes prestam última homenagem,
Deus chamou, Hiran ouviu
por isso fez a viagem,
Hiran cumpriu sua meta
pra outro plano fez passagem.

Hiran leva na bagagem
seus atos de cidadão,
Tratou os custodienses
cada um como um irmão,
Hiran não morreu, mudou-se
brilhar noutra dimensão.

Vou guardar cada lição
que de Hiran recebi,
Mestre igual Hiran não tem
ser como Hiran, nunca vi,
Obrigado Hiran por tudo
que de você aprendi.

Izaias Moura:
P/ Família Burgos, como homenagem
a Hiran Burgos.

Postado originalmente no perfil do poeta Izaias Moura em seu Facebook

Hiran Burgos foi pedalar em outra dimensão

Foto: Arquivo Familiar
Texto: Jussara Burgos
Luziânia-DF
Abril/2021


Meu irmão dos "bons dias bonitos" foi pedalar em outra dimensão. Saiu apressado sem se despedir de ninguém, tal qual nosso pai.

Seguiu sua viagem levando na bagagem o amor que devotou ao próximo e a certeza que fora da caridade não há salvação.

Era uma pessoa extremamente organizada, produtiva e capaz.

Bem humorado e fez coisas que até Deus duvida.

Estou tranquila pois sua crença o preparou para esse momento. A vida continua...

Como diz Gibran: "Se acaso nossas mãos se tocarem noutro sonho construiremos outra torre no céu."

O significado do nome Hiran é: meu irmão é excelso. Costumava chamá-lo de excelso. Ele fez jus ao nome que carregou.

Vá em paz meu excelso irmão Hiran Burgos. Você viverá no meu coração enquanto ele pulsar.

Há Deus!

Jussara Burgos (Irmã)

17 abril, 2021

Janúncio Siqueira em seu começo de carreira


Foto: Rubinho


Esta é a banda RJ7, de Rubinaldo José, conhecido em nossa cidade como Rubinho de Sítio dos Nunes

As apresentações da banda Baile, durava até 7 (sete) horas por  noite. Com uma hora de intervalo. 

Nesta foto, aparece o grupo tocando no povoado de Fátima, município de Flores-PE, em 1980. 

Na foto acima da esquerda para a direita: Gilmar (baixo), Cesinha (Bateria),  Onofre (guitarra), Rubinho e Janúncio nos vocais. Por trás do palco, o saudoso Zé Mochila. Tinha ainda Chico nos teclados.

Este foi o começo de uma carreira musical de 35 anos de Januncio Siqueira, também conhecido como Janúncio Custódia. 

16 abril, 2021

Crônica: O Aniversário surpresa

 

Texto: Jorge Remígio
Recife-PE
Abril/2021

O dia 30 de maio de 1973 caiu em uma sexta feira. Logo cedo daquela manhã, ao levantar-se da cama ainda preguiçosa, minha irmã Eliane não esqueceu que aquele dia era muito especial para ela, estava completando dez primaveras.

Correu para aprontar-se e tomar café na correria para não chegar atrasada na Escola Maria Augusta. A minha mãe, Ozanira, sempre foi uma pessoa muito dedicada a todos os seus rebentos e demonstrava um amor imensurável e igualitário a todos. Fazia questão de exaltar essa atitude propalando para as amigas que filhos tem que ser criados iguais, sem distinção e favorecimento.

Seria até uma norma para evitar conflitos futuros. Deu um apertado abraço na filha, lembrando-a que havia terminado o seu vestido e que à tarde iria fazer uma festinha/lanche para comemorar o aniversário. Era tudo simples, mas não poderia passar em branco uma data tão emblemática. Era os dez anos da sua primeira filha. Inicialmente teve quatro meninos, encerrando a sua maternidade com duas lindas meninas. Eliane, a aniversariante e Ana Cláudia, um ano mais nova.

Naquela época não se costumava fazer grandes festas de aniversário para os filhos. Geralmente as famílias eram constituídas de grandes proles, então, seriam muitas festas e isso acabaria sendo inviável do ponto de vista econômico, salvo raras exceções de pessoas com muitas posses e poucos filhos. Na escola, foi impossível concentrar-se na aula.

A todo instante vinha-lhe imagens de guloseimas. Ao chegar em casa, tratou logo de almoçar, lembrando que tinha um compromisso. Brincar de bonecas no quintal da casa da amiga Rejane. Pediu a permissão para mãe, no que foi consentido, porém, foi recomendado que não demorassem, não esquecessem a hora da festinha.

Estava pensando em cantar os parabéns às três horas da tarde. Eliane achou muito cedo, mas não ponderou. Antes de sair, foi ao quarto contemplar o seu vestido novo sobre a cama. - Que lindo! É laranja e tem umas partes xadrez da mesma cor. Ao passar na sala a mãe ainda alertou para o horário, pois tinham que chegar antes da hora marcada, porque ainda iam tomar banho e botar o vestido novo.

Aproveitou para informar que os preparativos já estavam bem encaminhados, tinha feito bolos de goma e mandado assá-los na padaria de Dona Jovelina e os guaranás já estavam acomodados na geladeira. O bolo de laranja no forno do fogão exalava um aroma apetitoso, incensando todos os cômodos da casa.

Falando em guaraná, abro aqui um parêntese: as crianças dos anos sessenta e setenta eram aficionadas por esse refresco. Ouvi muitas vezes na minha infância amigos relatarem que achavam muito bom ficar doentes. Isso porque os pais liberavam essa iguaria em junção com a bolacha cream cracker.

Morávamos ao lado da Igreja Matriz de São José e o grande relógio afixado em sua torre gótica anunciou duas badaladas. - Duas horas, já era para as meninas terem chegado. Vou mandar Isabel chamá-las. Isabel trabalhava na nossa casa já há alguns anos. Por não ser distante, logo retornou e disse ter avisado da hora para as meninas que brincavam animadamente com bonecas. Estavam fazendo um cozinhado.

Minha mãe não gostou, pois calculou que tinham que tomar banho, botar roupa nova, o tempo ficaria atropelado. Mas, continuou nas arrumações. Duas e meia e nada das meninas. Já demonstrando impaciência, pediu para que Isabel fosse novamente até elas e fizesse uma intimação. Viessem urgente. Os minutos se passavam, a tensão aumentando, e nada das meninas. Tonho, Jânio, Sérgio e Antônio Erasmo, afilhado e acolhido por minha mãe para estudar na cidade, já estavam postos, na expectativa.

O desapontamento da minha mãe já era explícito, pois já era quase três e meia da tarde, ela estava realmente magoada. Nesse momento chega em casa Maria de Joca. Sempre foi uma pessoa muito íntima, pois tinha sido a babá das meninas. Ela disse. - Eita dona Ozanira, e vai ter festa? Di Assis fez aniversário ontem, dia 29.

É não, Maria. É só um lanchinho. Hoje é o aniversário de Eliane, mas eu já estou é com raiva. Faz um favor para mim. Vai ali na casa de Totonho e chama as meninas. Diz que já está tudo pronto e só falta elas. Quando Maria chegou, minha mãe já lhe esperava na porta da entrada da casa. - E aí, Maria?

Elas falaram que estavam terminando uma brincadeira, depois “vinha”. Aí foi a gota d’água, paciência tem limite, mãe “pegou ar” mesmo. Ela falou. - Maria, você falou que Di Assis completou ano ontem, vá chamar ele. Manda ele tomar banho e botar uma roupa nova. Vai logo e não demora, já passa das quatro horas. Maria realmente foi muito veloz, chega com Di Assis, ainda sem compreender o que sucederia.

Minha mãe disse. - Bote um tamborete aqui para Di Assis ficar mais alto. Venha, meu afilhado, a gente vai comemorar o seu aniversário que foi ontem. Di Assis ficou atônito, impactado com aquela informação surpreendente. Subiu no tamborete sem caber de emoção. Cantaram parabéns para você e quando estavam degustando os bolos com guaraná, chegam Eliane, Ana Cláudia e Rejane, desconfiadas, com as caras mais lisas que espinhaço de pão doce.

Então nossa mãe falou. - Entrem meninas, venham comer do bolo de Di Assis. O aniversariante ainda em êxtase falou. “Madrinha, eu queria dizer uma coisa”. - Diga, meu afilhado. “Eu estou muito contente e queria dizer que nunca na minha vida eu tinha comemorado um aniversário meu. Muito obrigado para a senhora”.

- Não foi nada, meu afilhado. E tem o seguinte: Ano que vem, se houver atraso, você ganha outra festa de aniversário.

Recife, 12 de abril de 2021

Jorge Remígio

Homenagem ao Colégio Técnico Joaquim Pereira



Foi na década de oitenta
em Custódia meu sertão
Eu ingressei em um colégio
que ganhou meu coração

Dr. Pedro Diretor
Homem culto e educado
Dava aula de Direito
eita tempo bom danado.

O colégio Joaquim Pereira
Foi um marco em Custódia
Formou muitos alunos
Um deles conta esta história

Dona Cecília abria a porta
Mulher humilde e de valor
Sempre gentil e educada
agradece o Professor

Francisco de Assis Bernardo
Secretário nota dez
Ao lado de dona Rosalva
que mexia nos papéis

Também tinha Cicera Germano
na Secretária
esta mulher competente
Pagava a todos em dia

As aulas de Dr. Pedro
eram um show de transmissão
eu sentava lá frente
prestando muito atenção
Como é que eu ia
perder um poliglota em ação

A turma de Sitio dos Nunes
vinha em peso toda noite
Betânia Duarte que o diga
hoje é Juíza na Corte

Na noite da formatura
Custódia parava para ver
todos de bata preta
para o diploma receber

O Clube ficava pequeno
Muitas festas e alegria
Dr. Pedro discursava
sempre com muita energia

Hoje com muita saudade
Me lembro do Joaquim Pereira
Colégio que muito fez
pela educação brasileira

Obrigado Paulo Peterson
Por esta oportunidade
Sou Ronaldo Professor
filho desta cidade

Amém


José Ronaldo da Silva (Professor de História), é filho de João Clemente (Soldado João Gaguinho), e Maria Amaral, conhecida como Dona Messias. Irmão de Suelene, ex-vereadora municipal em Custódia. Primo das famílias Leite e Moura.


 

14 abril, 2021

O Casarão Azul - autor José Melo (inédito)

O CASARÃO AZUL

José Soares de Melo

A imagem ficou para sempre fixada na minha memória. Da estradinha dava para ver nitidamente aquele majestoso casarão azul, no topo de um monte, tendo ao lado direito enormes pedras e em uma delas um Cruzeiro abrindo seus braços para a vastidão à sua frente, e ao esquerdo uma vasta várzea, sempre verde com seu arrozal permanente, que atraia centenas de galos de campina e outros pássaros.

Na ingenuidade dos meus oito anos, não concebia o que se passava naquele casarão. Nem porque meus pais não permitiam que eu, como todas as crianças da família e da redondeza, frequentassem aquela casa, mesmo sendo seus donos os meus bisavós. Só anos mais tarde é que fui compreender a proibição. O motivo era a minha própria bizavó, a quem todos os seus bisnetos chamavam de Madrinha Benvinda.

Era uma senhora já chegada nos anos, alta, morena, cabelos brancos, sempre vestida com longos vestidos floridos à moda das ciganas, e amparada em um bastão. Todos os dias se dirigia à cidade, mesmo sem ter nada para fazer lá. Era o tormento de meu bizavô, Batistinha, cujo nome combinava perfeitamente com sua estatura. Baixinho, moreno, uma fera no trabalho.

Madrinha Benvinda sofria das faculdades mentais, e vivia perambulando todos os dias pelas ruas da cidade, soltando impropérios contra tudo e contra todos. Só voltava para casa já tarde, sempre reclamando de tudo. Aliás, Cacimba Nova tinha fama de ser terra de doido, muito mais por ser a localidade mais densamente povoada na região, e obviamente concentrar alguns doentes mentais. Entre eles, Madrinha Benvinda, e Chica Doida, e outros que se não aparentavam doença mental, eram praticamente deficientes: entre esses, Zé Bogó, e Manoel Bogó, irmãos, cujo apelido Bogó vinha dos inseparáveis sacos dependurados a tiracolo, com toda uma parafernália para suprir o vício do fumo: o fumo, a palha de milho para enrolar o cigarro, o quicé para picar o fumo, o “tabaqueiro” que vinha a ser o mais antigo isqueiro do mundo. Consistia em uma ponta do chifre de boi, devidamente raspada e polida, munida de uma tampinha feita de cuia, recheiada de algodão, com um acessório preso ao tabaqueiro, que era chamado de fuzil. Tratava-se de uma pequena haste de ferro, usada para acender o tabaqueiro. Acender o tabaqueiro exigia treinamento. Segurava-se o dito cujo entre os dedos indicador e polegar abertos, juntamente com uma pedra, geralmente preta. Aí vinha a tarefa mais difícil: com o fuzil, raspava-se a pedra com movimentos vigorosos, tirando faíscas de fogo que caíam sobre o algodão, provocando o fogo. Aceso o “pacáia” (cigarro de fumo), era só tampar o tabaqueiro que a ausência de ar provocava o seu apagamento.

Zé Bogó era um caboclo forte, gordo, baixo, e tinha a fama de ser o mais preguiçoso da família e da região. Nunca deu um dia de trabalho a ninguém. Vivia pedindo a um ou outro, sempre, uma ajudinha.

Já Manoel Bogó – também conhecido por “Mané Migué” era chochinho, extremamente baixo, mirrado, porém era um exímio trabalhador. Competia na agilidade, na limpa de mato, com muitos caboclos altos e fortes.

Ambos mal abriam a boca. Sempre calados, pensativos, como se estivessem meditando.

Chica Doida era a mais agitada de todos. Sempre esmulambada, por vezes ficava seminua, correndo pelas ruas e estradas da região. Pouco vinha à cidade, diferente de Madrinha Benvinda.

Voltando ao meu bizavô, Padrinho Batista para todos os netos e bisnetos, como já disse, era uma fera no trabalho. Pai de uma enorme família, levou todos eles ao trabalho ainda jovens. Joaquim Batista, José Batista, Manoel Batista, Anísio Batista, Chico Batista, juntamente com minha avó, Maria Batista, foram todos encaminhados ao trabalho logo cedo da vida.

Em frente ao casarão azul de Padrinho Batista, do outro lado da estrada e às margens do Riacho Marrecas, havia uma enorme olaria, onde a família trabalhava constantemente. Tijolos, telhas e ladrilhos eram fabricados com esmero. Um grande forno também servia a meninada, que aproveitando a sobra do barro confeccionava bois, cavalos, bonecos, e quando havia a queima de telhas, colocava lá no forno e saiam vermelhinhos, bonitos mesmo. Também as mulheres fabricavam panelas, bacias, jarros e outros utensílios doméstico para uso próprio.

Durante toda a minha infância, mesmo quando morava na cidade, sempre ia brincar no sítio do meu bisavô, onde ficava a Olaria. Bananeiras, goiabeiras, mangueiras e praticamente todos os tipos de frutos da região abasteciam a família. Em todo esse tempo, nunca vi Padrinho Batista zangado, salvo uma vez em que um dos seus netos ou bisnetos estavam atrapalhando a correria dos trabalhadores com enormes bolos de barro nas mãos para colocar nas formas de tijolos. Mesmo assim, apenas mandou que todos nós fôssemos brincar noutro lugar.

Não consigo lembrar os últimos dias de Padrinho Batista e Madrinha Benvinda. O tempo apagou de minha memória essa fase da vida.

Mas acompanhei sempre a vida da família. Adolescente, sempre ia as festas de São João, promovidas por Zé Batista, na sua imensa casa, com cerca de doze janelas na sala de visitas. Era um animado forró, sempre animado pelo maior tocador de oito baixos da região: Manoel de Oscar, pai do Sanfoneiro Antônio Marcelo, com quem cheguei a compor uma música gravada e não lançada. Era o mais autêntico Forró pé-de-serra que existia. Vinha gente de toda a região, o terreiro ficava lotado de caboclos animados com os festejos de São João.

Muito batalhador, Zé Batista – ou Tio Zé, como eu chamava, adquiriu uma das melhores casas de Custódia – à época, e continuou com sua fazenda em Cacimba nova, vendendo-a depois a Seu Né da Barra. Já na cidade, iniciou a Rua Dr. Fraga Rocha, construindo uma garagem, uma das primeiras edificações daquela rua. Quando perguntavam porquê uma garagem, ele dizia que tinha planos de comprar um caminhão, sonho quase impossível para a grande maioria dos habitantes de Custódia naqueles tempos. Sonho realizado, foi o primeiro comprador de uma caminhão zero quilometro da cidade.

Mas Zé Batista queria mais. Foi o pioneiro no ramo imobiliário, construindo um grande número de casas e revendendo-as. Acredito que ninguém até hoje construiu mais casas em Custódia que Zé Batista, a despeito da fama de má qualidade dos imóveis, muitos deles até hoje de pé.

Como caminhoneiro, Zé Batista viveu momentos inusitados. Contam que para economizar, durante as viagens ele protelava o horário do café da manhã, até que chegasse a hora do almoço, economizando assim a despesa do café dele e do motorista. Dizem que certo motorista aprontou com ele. Antes de saírem de manhãzinha, o motorista fez um café da manhã super reforçado, sem Zé Batista saber. Já depois das dez horas, Zé Batista estranhou o motorista não ter reclamado do horário do café perguntou se ele queria tomar o café, tendo o motorista respondido que já estava perto do horário almoço, portanto é melhor esperar. E tome estrada, até que lá pelas duas horas Zé Batista pediu para ele parar para almoçar, tendo o motorista pedido para ir mais para a frente. Morto de fome, Zé Batista aguentou até mais ou menos quinze horas, quando almoçaram. A partir daí, nunca mais ele protelou o horário do café. 

Os filhos de Zé Batista – Zezinho, Bidó e Biu, se tornaram caminhoneiros, apenas Ozório não abraçou a profissão.

Bidó contava casos curiosos na sua vida de motorista. Contava que certa feita foi pegar uma Nota Fiscal de uma carga de cimento no Grupo João Santos, junto com Zé Batista. Subiram de elevador, e quando Zé Batista olhou pela janela e viu que estavam a mais de 30 metros do solo perguntou:

-“Oxente, Bidó, como foi que gente chegou aqui sem ter subido em escadas?”.

Já Ozório contava rindo que quando Zé Batista construiu uma casa no final da Av. Manoel Borba, de frente para a BR 232, instalou uma lâmpada vermelha na frente da casa, como ornamento, tendo Ozório advertido:

-“Pai, com essa luzinha aí, daqui há pouco vai ficar cheio de caminhoneiro querendo vir praqui, pensando que é um cabaré!”.

Outra grande paixão de Zé Batista era o Bacamarte. Na gestão de Luizito na Prefeitura de Custódia, que muito apoiou as manifestações folclóricas, Zé Batista chegou a reunir um batalhão de mais de duzentos bacamarteiros, para as festividades de inaugurações que sempre ocorriam naquela época de ouro da cidade.

Esse o Zé Batista com quem convivi, junto aos demais familiares.

Já Anísio Batista – Tio Anísio, o qual o Fernando Florêncio tão bem retratou, era uma pessoa mais recatada, mais ligado ao comércio. Convivi pouco com ele. Nos seus últimos anos, comercializava uma banca de “mangáio” bem em frente à casa de meu sogro, Adamastor, na Rua da Várzea, e parecia não me reconhecer, pois diversas vezes falei com ele e como não tomava a “benção”, acredito que ele não me reconhecia. Tinha alguns filhos, Joãozinho, Sizenando, fora as mulheres, cujo nome não recordo.

Dos demais, apenas acompanhei a vida de Chico Batista, o mais rápido pedreiro que Custódia já teve. Tinha uma capacidade enorme de “assentar tijolos”, construindo pequenas casas em poucos dias.

Prefeitura de Cassilândia tem nome de Custodiense



Essa é a Prefeitura de Cassilândia-MS, para nosso orgulho, batizada com o nome do conterrâneo Joaquim Tenório Sobrinho, nascido no sítio Lajedo, distrito de Quitimbú, e pai do nosso colaborador Luiz Tenório de Melo, conhecido como “Luizinho Tenório“. 

É uma honra para qualquer custodiense, saber que num lugar tão longínquo, uma prefeitura tenha o nome de um filho da terra, fruto do trabalho desempenhado pelo político que foi, e pela pessoa que foi, para cada cidadão de Cassilândia.

Qualidades herdadas pelo filho Luizinho Tenório, onde foi secretário da mesma, foi Prefeito de 1989/1992 e por fim, Deputado Estadual por dois mandatos pelo estado de Mato Grosso do Sul.

Texto: Paulo Peterson
Foto: Acervo Luizinho Tenório

13 abril, 2021

Livros Festival Vamos Fazer Poesia




Estes belos livros são do Festival Vamos Fazer Poesia, organizado pelo poeta Iranildo Marques, de Serra Talhada PE. Por indicação do poeta Marcos Silva, a cidade de Custódia se fez presente pela primeira vez nesse importante festival. 

No Volume 5, o poeta Izaias Moura e a poetisa Silmara Feitosa participaram do volume 7. E no Volume 8 consta a participação dos três: Marcos Silva, Izaias Moura e Silmara Feitosa.  

Postado Originalmente: Marcos Silva

Mais informações: 

Site: Festival Vamos Fazer Poesia.

11 abril, 2021

Grupo de Danças Luar do Sertão lança vídeo sobre expressões da cultura popular de Custódia

O Ponto de Cultura Grupo de Danças Luar do Sertão, localizado no município de Custódia, lançou nesta semana o vídeo “Pernambuco falando para o mundo”, no YouTube. 

Com a participação de jovens da cidade, o trabalho, que foi contemplado pelos recursos da Lei Aldir Blanc em Pernambuco, mostra as principais manifestações da cidade, como maracatu, coco, ciranda, xote, xaxado, caboclinhos, quadrilha junina. 

Aperte o play e confira:



07 abril, 2021

Dois poetas de Custódia


Izaias Moura. 

Fiz da fé minha estrutura

Da bíblia o meu pergaminho,

Da verdade minha base 

E do amor fiz meu caminho, 

Da família uma certeza 

Que não vou andar sozinho. 

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Marcos Silva. 

Jesus é nosso caminho 

E com Ele, a gente vai,

Porque sem a ajuda dEle

De lugar algum se sai, 

É só através do Filho

Que se chega até o Pai. 

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Izaias Moura.

Custódia terra querida 

És berço de boa gente, 

Do sertão és a mais bela 

Teu povo é tão sorridente,

Tuas terras são oásis 

Que Deus te deu de presente. 

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Marcos Silva. 

Custódia terra da gente,

Terra boa de verdade.

Foi fazenda Santa Cruz, 

Hoje é uma bela cidade, 

Eu ser um custodiense

Pra mim é felicidade.

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Izaias Moura 

Minha Custódia querida,

Terra de grandes valores.

De Marcos Silva poeta, 

De grandes compositores,

Onde Divon Amorim

É rei dos aboiadores.

---------------------

Marcos Silva.

Custódia que tem valores

Pra lá volto qualquer dia.

Terra de Plínio Fabrício, 

Compositor de valia, 

Berço de Izaias Moura 

Um vate da poesia.

---------------------

Izaias Moura.

E nas asas do improviso 

Meu sentimento decola.

Eu fiz pôs graduação 

Sem precisar de uma escola.

O meu mestre é Jesus Cristo,

Meu caderno uma viola.

---------------------

Marcos Silva.

Meu verso sempre decola 

No mundo do Criador. 

Aprendi brincar com verso;

Jesus é meu professor,

Pois eu trouxe o grande dom

Dado por Nosso Senhor.

(...)


Contato dos Poetas:

Marcos Silva:
E-mail: marcosas74@gmail.com

Facebook (link)

Izaias Moura:
Fone: 
87 9141-4793 (zap)
Facebook (link)


Lampião, meu Avô e o Cangaço em Custódia

 

Foto: Acervo Familiar e Internet

Por 
Antonio Marlos Duarte
Juazeiro/CE
Abril/2021

Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, e seu bando passaram pela cidade de Custódia algumas vezes durante a vigência do Cangaço em terras nordestinas, sendo a última datada em 11 de fevereiro de 1925, quando Custódia ainda não tinha se emancipado politicamente, sendo ainda considerada Vila. Durante essas visitas pra lá de indesejáveis, o destino entrelaçou meu avô, Abílio José Duarte, Depositário Público e Fiscal do Município da época, e o chefe do Cangaço. Após esses encontros, meu avô registrou, com sua linda letra enfeitando um papel hoje envelhecido, como tinha desapreço pelo bandido e que este tinha plena consciência do desprestígio que tinha junto ao meu avô. Com o tempo, foram surgindo histórias dos bastidores que rolavam nesses encontros com Lampião e, alguns, fugiam um pouco da veracidade dos fatos, mas, sem dúvida alguma, é muito curioso como, depois de quase 50 anos da morte do meu avô, as pessoas ainda lembram dele e ainda escrevem sobre ele.

O Sr. José Melo, em uma publicação neste mesmo Blog Custódia Terra Querida, neste ano de 2021, é uma dessas pessoas que conheceu meu avô. Ele narra uma dessas histórias, contando que meu avô inicialmente era amigo de Lampião. Abílio José Duarte, atuando como um servidor público, conseguia muitas vezes que o cangaceiro atendesse alguns pedidos feitos por ele e pelos habitantes da cidade da época. A amizade teria se desfeito após desavenças criadas por terceiros, tendo Lampião cortado as boas relações e feito uma ameaça de morte: “Diga a Abílio que quando eu me encontrar com ele, vou cortar a corcunda dele de facão”. 

Meu avô adquiriu uma deformidade na coluna vertebral chamada Cifose após uma queda de cavalo e, na linguagem popular, essa deformidade é conhecida como “corcunda”, daí faz sentido a suposta ameaça. José Melo ainda narra como meu avô conseguia escapar dos ataques de Lampião e de seu bando, em fugas cinematográficas, dignas de Hollywood. Embora seja uma história muito difundida entre os habitantes custodienses da época, o próprio José Melo afirma que não pode afirmar ou não se há veracidade nessas informações. Escutei esta história, inclusive, muitas vezes pelas pessoas que conheceram meu avô, porém a família não confirma tais informações. 

Segue abaixo o link da publicação de José Melo neste mesmo Blog (Recomendo leitura):

http://custodia-pe.blogspot.com/2021/03/abilio-jose-duarte-por-jose-melo.html



Outro que afirma história semelhante é o Sr. Reginaldo Pereira da Silva, conhecido na cidade pelo apelido de “Bigode”. Ele também conheceu meu avô e, em um vídeo gravado e disponível ao público pela plataforma digital “YouTube” com o título “O cangaceiro Lampião passou diversas vezes em Custódia Pernambuco Brazil”, Bigode afirma que meu avô, convocado por Lampião para arrecadar dinheiro pela cidade para abastecer o Cangaço, disse: “Eu tenho dinheiro é de bala para pegar ele. ”Sabendo disso, Lampião teria tentado diversas vezes capturar meu avô, sem sucesso. Novamente, a família não confirma tais informações. 

Segue abaixo o link do vídeo no YouTube (Recomendo assistir):


O relato a próprio punho que meu avô fez dessa inimizade foi: “O passado de minha vida talvez não seja a metade para provar que nunca conheci homem bravo. Mandei muitos recados à Lampião que ele era mais do eu somente ladrão. Passei três anos na espingarda. Ele morreu e eu fiquei.” Nascido em 1890, meu avô era 8 anos mais velho que Lampião e nunca deixou que o banditismo cangaceiro estremecesse sua vontade de ver a ordem em sua terra.

Foto: Acervo Familiar

Abílio José Duarte, sentado em um carro de boi, juntamente com seu primo, o ex-prefeito de Custódia, José Gonçalves Florêncio.

Meu avô escreveu muitos livros, mas, infelizmente, alguns foram perdidos no decorrer dos anos, porém outros foram guardados. Em um deles, Abílio José Duarte referiu ao bando de Lampião como uma “patética cangaceira”, comprovando mais uma vez que meu avô não tinha simpatia alguma pelos seguidores de Virgulino Ferreira da Silva. Ainda, meu avô descreve que viu muitos homens trabalhadores sendo destruídos durante a passagem de Lampião nos torrões custodienses. A família também confirma que Abílio José Duarte não gostava quando Lampião se escondia na Fazenda Cacimba Limpa, de seu tio que o criou, José Josino. 

Essas permanências de Lampião nesta fazenda perduravam até três dias e a insatisfação de meu avô só aumentava, referindo o cangaceiro como um homem que vivia dos sacrifícios dos outros. Essas passagens de Lampião pela Fazenda Cacimba Limpa do tio José Josino são descritas no livro “Lampião: Cangaço e Nordeste”, de Aglae Lima de Oliveira, publicado em 1970, da Editora O Cruzeiro.

No livro “Lampião: memórias de um soldado de Volante – Volume I”, de João Gomes de Lira, publicado em 1997, o autor narra várias histórias sobre as andanças de Lampião nos sertões nordestinos, incluindo a última passagem dele pela cidade de Custódia. Neste relato, o autor cita o meu avô, Abílio José Duarte. 

Segue o texto:

 “EM CUSTÓDIA

De Cachoeira, Lampião seguiu para a Ribeira do Ingá, em Custódia. Para ali, foi ele com o fim de receber o dinheiro dos comerciantes de Custódia, pois havia marcado o dia 10 de
Fevereiro, mas, neste dia, estava brigando na Cachoeira, comparecendo ali apenas no dia 11, onde só encontrou esperando o Sr. Abílio José Duarte. Lampião, avistando-o, foi logo dizendo que vinha com muita fome e sede, queria água e comida. 


Procurou pelo pessoal do dinheiro. Abílio respondeu que haviam cumprido o trato no dia anterior, 10 de fevereiro, como tinha Lampião marcado. Respondeu ele que, no dia anterior, não foi possível chegar porque estava brigando com os macacos de Nazaré, na Cachoeira. Lampião, preocupado, perguntou o que faria para receber o dinheiro. Abílio respondeu que só fosse ele até Custódia. [Lampião] perguntou se não tinha soldados. Respondeu, Abílio, que dois, somente. Lampião disse: “Dois é café pequeno para mim. Vamos até lá!” Lampião queixou-se que havia viajado muito, estava enfadado. Abílio arrumou um animal para Lampião. Chegaram em Custódia, três e meia da tarde do dia 11 (quarta-feira).

[...]

Em Custódia, Lampião redigiu e deixou no telégrafo um telegrama para o Exmo. Governador do Estado. [...] No telegrama comunicava a miúdo o Governo, a sua entrada em Custódia. Este acontecimento, disse, verificou-se sem anormalidade. Adiantou mais o bandido que tudo no sertão corria maravilhosamente bem. Pediu que o governo não mandasse mais tantos “macacos”, que já estava ele cansado de matar tantos “macacos”. Que o Governo viesse mesmo ao sertão conhecer de perto o famoso Lampião. Disse mais que o Governo mandava das “pancadas do mar” [Recife] até as “pancadas dos trilhos”, em Rio Branco (atual Arcoverde) e que ele [Lampião], mandava das “pancadas do São Francisco” [Petrolina] até Rio Branco (atualmente Arcoverde). Estava, assim, dividido o Estado em dois executivos.

[...]

Para agradar o bandido, um comerciante saiu no comércio fazendo arrecadação em dinheiro, tendo conseguido tirar oitocentos mil réis, ficando o bandido muito satisfeito com esta importância e muito mais com o povo de Custódia. Também deram ao bandido liberdade de utilizar-se, em qualquer lugar, daquilo que lhes pertencesse. A visita do bandido à Custódia prolongou-se até às doze horas da noite. Matou ali um boi, dividiu toda a carne com o grupo. Tudo resolvido, mandou tocar e, na escuridão da noite, desapareceu, seguindo na estrada de Samambaia, de onde tomou destino ao Estado de Alagoas. No dia seguinte, chegaram do Estado da Paraíba, em Custódia, os Tenentes Francisco de Oliveira e Joaquim Adauto (conhecido por Tenente Quincó), em perseguição aos bandidos. Em Custódia, os oficiais paraibanos prenderam o telegrama, sendo assim transmitiram do mesmo.”

 

LIRA, João Gomes de. Lampião: memórias de um soldado de Volante – Volume I, páginas 195-198. Floresta, Pernambuco. 1997.


 O autor deste livro, João Gomes de Lira, entrou para a Polícia Militar em 16 de julho de 1931,e depois teria se alistado como soldado na Volante contra Lampião aos 17 anos de idade, na sua cidade natal (Flores), devido o cangaço ameaçar constantemente aquela região. As filhas de meu avô, incluindo minha mãe, não confirmam os fatos narrados pelo livro,porém esses relatos de João Gomes de Lira devem ser valorizados, pois ele foi testemunha ocular do ocorrido.


Abílio José Duarte nasceu em 7 de outubro de 1890: um ano após o golpe da República, que deu fim ao Império do Brasil e algumas décadas antes da emancipação política de Custódia. Nasceu em Cacimba Limpa (próximo ao povoado Ingá) e foi criado pelo tio José Josino. Como registrou a próprio punho em um pequeno manuscrito, meu avô comentou que foi nesta fazenda que deu seus primeiros passos e brincou nas sombras dos Umbuzeiros. Frequentou uma escola particular em 1901 e no ano seguinte passou para a escola pública. Após disso, teve de assumir e zelar a Fazenda Cacimba Limpa após a morte do tio. Meu avô cresceu e tornou-se servidor público do Poder Judiciário, na posição de Depositário Público e Fiscal do Município e, nesta posição,foi colocado em prova várias vezes por pessoas que queriam vantagens em negociatas, mas nunca se subjugou a subornos ou coisas do ramo. Pessoas que queriam ser privilegiadas em divisões de terras de heranças ficavam frustradas quando sabiam que seria meu avô o responsável por iniciar o inventário. Meu avô nunca aceitou a ideia de ser um qualquer corrupto da Justiça, sendo reconhecido por todos. 



Em seus manuscritos ainda preservados, descreveu que muitas vezes “bateu nas portas alheias para ver a paz entre famílias, mas havia grande ódio e ambição de poder”. Após 48 anos de sua morte, ainda existem pessoas vivas que conviveram com o meu avô e que, além de minha mãe e minhas tias, repassam-me várias histórias confirmando um Abílio José Duarte como um homem digno, honesto, inteligente, sábio e incorruptível.Já aposentado, com 82 anos, no seu último dia de vida,
meu avô caminhava em direção ao Cruzeiro para visitar uma prima recém chegada do Recife, quando foi atropelado por um carro. 

O acidente gerou muita repercussão e revolta na cidade, mas meu avô, em suas últimas palavras, demonstrou mais uma vez sua grandeza e falou: “Deixem isso para lá! Tudo tem seu tempo!”

Há, na cidade de Custódia, uma rua com o nome de meu avô. A Rua Abílio José Duarte encontra-se próximo onde hoje funciona o BEPI (ex-CIOSAC). Esta justa homenagem foi um importante reconhecimento a este exemplo de pai, esposo e cidadão. Por fim, ficam registrados, aqui, meus fervorosos protestos de distinta admiração pelo homem de Abílio José Duarte, o homem que enfrentou Lampião em Custódia. O homem que tenho a honra de chamar de “avô”!

Sobre o autor 

Antonio Marlos Duarte de Melo é médico e atualmente reside em Juazeiro do Norte-CE. 

Trabalha nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional do Cariri, do Hospital Santo Antônio e do Hospital Geral Padre Cícero.

O Outro lado da moeda - por José Melo

Texto:
José Melo
Recife/PE
Maio/2013


Enquanto o ônibus quase vazio fazia o trajeto Boa Viagem-Piedade, veio-me a mente lembranças da minha infância na pequenina e então atrasada Custódia. E relembrei uns pobres versos que cometi recentemente, publicados neste blog, relembrando as coisas boas da infância e atentando para o fato de que só mencionei as coisas boas, as lembranças gostosas daquele tempo. Aliás, parece que ninguém gosta de lembrar o lado ruim de nenhum momento da vida. E questionei-me: porque? E comecei a lembrar alguns momentos que sinceramente não são bons de recordar. Por exemplo, topada. Qual o menino livre que naqueles tempos, brincando e correndo descalço pelas ruas da cidade, jogando bola de meia, não esfolou o dedão do pé, numa topada “da mulésta” daquelas? Pense numa dor da gota. O jeito era improvisar um curativo nada convencional: lavar o ferimento, botar pó de café e enrolar o desditoso dedão do pé com pedaço de pano. E pedir a Deus que o pai ou mãe não completasse a desdita com um novo curativo, onde seria aplicado álcool e o famigerado mercúrio cromo, que ardia pra danar.

Quer ver outra lembrança nada agradável? Era levar uma mijada de “potó” ou de “papa-pimenta”. Queimava mais que fogo, e no outro dia a grande bolha denunciava a queimadura. Mas doer mesmo era quando a bendita bolha estourava. Interessante é que hoje em dia ninguém fala mais em “Potó” ou “Papa-Pimenta” . Parece que foram extintos pelo “pogréssio”.

Outro inimigo da molecada naqueles tempos de Custódia, era um bezourinho, minúsculo, fedorento, que proliferava nos frondosos “pés-de-figo” espalhados por toda a cidade. Conhecido por “Lacerdinha”, aqueles bichinhos minúsculos causavam profundo ardor, queimava mesmo, quando caíam nos olhos. Também não vejo mais falar deles. Aliás, com a erradicação dos “pés-de-figo” eles ficaram sem o habitat natural.

Já na periferia da cidade, que se resumia a Rua da Remela e adjacências, era a conjuntivite, que não raro atingia praticamente toda a cidade, com o sugestivo nome de “remela”. Sem falar na “papeira”, (Caxumba) que segundo crença, se o menino fizesse esforço ela desceria para os “ documentos” e era morte na certa. O remédio era passar a lama de uma casa de “João-de-barro”, e mugir na porteira de um curral, de manhãzinha. Catapora (varicela) e Bixiga ( Varíola) eram os maiores temores daquela época.

Uma vez por ano Custódia recebia milhares de visitantes que, se por um lado era uma beleza aos olhos, por outro lado era um problema para a cidade. Falo das andorinhas de março. Milhares delas se aglomeravam no telhado da Igreja matriz, e sempre que sino badalava era uma revoada imensa, formando verdadeiras nuvens de aves que saiam e como sempre, despejando seus indesejáveis “presentinhos” na cabeça de quem estava por perto. Recordo que a molecada se vingava de uma maneira muito original, apesar de malvada: faziam pequenos anzóis de alfinetes, pegavam mariposas vivas e colocavam como iscas nesses anzóis, presos por uma fina linha. Quando soltava a mariposa, esta ficava batendo as asas no ar, suspendendo o pequeno anzol. Quando o olhar atento de uma andorinha via a mariposa, dava um vôo rasante e bicava a mariposa e junto a ela o anzol, era fisgada a pobre ave. Malvadeza, mas era a vingança da molecada.

Tudo isso aí era o que de pior existia para a molecada daquele tempo. Pior do que isso? Tinha, sim. Era ter o entusiasmo de ver chegar o Circo de Sêo Alegria na cidade, e na estréia do espetáculo (no verdadeiro sentido da palavra), não ter dinheiro para apreciar as piadas inesquecíveis do Palhaço Biriba ou as magias incríveis do maior ilusionista que já vi até hoje, Sêo Alegria. Era impressionante os números de magia de Sêo Alegria. Creio que ele praticava a hipnose, pois certa vez eu estava sentado em uma “preguiçosa” no oitão da mercearia de meu pai, na Av. Manoel Borba, quando ele, acompanhado da meninada passou por perto de mim. Me olhou fixamente e mostrou uma grande e reluzente moeda, que seria de ouro e perguntou-me se eu a queria. Claro que disse que sim, tendo ele soltado em minha mão a dita cuja. Levantei-me às pressas e fui mostrar a fortuna que havia ganho a minha mãe e…desilusão: estaca com um caco de telha na mão.

Não havia sofrimento maior que ficar do lado de fora do circo, e não poder apreciar aquele mundo, pela ausência de alguns míseros trocados. Ainda bem que tais lembranças raramente nos acomete, as boas lembranças se sobrepõem a essas.

José Soares de Melomelodecustodia@hotmail.com