24 março, 2023

[História Política de Custódia] Conversa do Major Inocêncio Gomes de Lima sobre Lampião ao Diário de Pernambuco(1936)


Foto:
O fazendeiro Henrique Lúcio depois de fazer compras na feira de Custódia(1936) dirigi-se para casa. Fotografia feita na estrada de Custódia para Águas Belas, em frente a residência do Major Inocêncio Gomes de Lima prefeito daquele município. Armados os transeuntes previnem-se contra os assaltos.


Com o prefeito de Custódia

Quando estava em Custódia, o repórter do Diário de Pernambuco, esteve na residência do prefeito local, o Major Inocêncio Gomes de Lima, com quem palestrou a cerca do banditismo. Na ocasião passou pela estrada o fazendeiro Henrique Lúcio, residente no Sabá, o qual se dirigia para sua casa, depois de ter feito a feira na cidade. 

Ia um seu conhecido na frente, montado e armado com um rifle. Atrás,um trabalhador puxando um 'jegue' carregado. Depois vinha um empregado do fazendeiro com um rifle na mão e outro a tiracolo. Por último, o sr. Henrique Lúcio montado e também armado. (foto acima)


A vida de Lampião

O major Inocêncio Gomes de Lima disse-nos haver conhecido Lampião desde menino. A seguir, passou a contar histórias do bandido. - "O nome de Lampião é Virgulino Ferreira de Souza. Seu pai chamava-se José Ferreira, criador e proprietário em "Poço do Negro", no município de Floresta.
 

 De almocreve a Cangaceiro

Na mocidade Virgulino Ferreira era almocreve e muitas vezes carregava  caroá de Betânia para Rio Branco (Arcoverde). Nesse tempo conheci-o muito. Entretanto, como o assassino do pai Virgulino resolveu vingar-se e essa vingança foi para o cangaço. Seus irmãos, Levino, Antônio Ferreira e Ezechiel acompanharam-no na nova fase de vida.

 

O cangaceiro e eleitor em Floresta 

Como o repórter mostrou interesse pelos detalhes da vida do conhecido cangaceiro, o Major Inocêncio esboçando um sorriso, disse: "Ele e os irmãos são eleitores em Floresta. Agora é que o titulo deve estar sem valor por causa da reforma"

Devoto do Padre Cícero, jejum todas as quartas feiras

Prosseguindo, o Major Inocêncio contou: "Quando Lampião esteve em minha casa, por ocasião de uma visita a Betânia, agindo como um cangaceiro,me contou que jejua todas as quartas feiras se reza muito para o Padre Cícero. Ele me disse que em virtude de não haver peixe no sertão para guardar preceito na quarta-feira, não come nada. Só bebe água." Seguiu falando: "Na ocasião do almoço, em frente dos seus comparsas, Virgulino, segundo disse, bota um punhado de farinha na boca afim de que ninguém saiba que ele jejua. Entretanto, a farinha é jogada fora as escondidas. O seu chapéu de couro tipo de vaqueiro é levantado na frente, ostentando um retrato do padre de Juazeiro. No seu pescoço traz orações fortes, escapulários, rosários e medalhas de santos. Nas abas do chapéu conduz medalhas de ouro e prata. É um místico, extremamente confiante nas suas orações fortes. Acredita que assim se possa livrar do qualquer perigo".

Lampião tem 43 anos e esta ainda forte, levando uma vida tão acidentada

Foto:
A filha da fazendeira de Queimadas quando fazia declarações ao repórter
do Diário de Pernambuco. Foto feita em Custódia,
consta ainda um outro fazendeiro e uma senhorita da sociedade local.


A filha da fazendeira de Queimadas (foto acima) quando conversou com o repórter em Custódia, disse ter visto o 'Major' Virgulino. Os cangaceiros estiveram na fazenda Queimadas onde intimaram as moças, filhas da fazendeira, a dar-lhes comida. Foi assim, que uma delas viu Virgulino. Contou-nos ele ser um indivíduo alto, magro,moreno tostado do sol, com um olho perdido, escorregando água, usando óculos. Na calça traz quatro galões dourados, que significam o seu posto de major. Os demais, quando de sua confiança tem o título de capitão. Assim, Corisco e o Virgulino, este morto pelo cabo Alves, no encontro em Jeritaco.

Matéria publicada no Jornal Diário de Pernambuco, edição do dia 12 de Dezembro de 1936

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