06 setembro, 2021

Velhos Tempos - por José Carneiro (In Memorian)



José Carneiro
Recife-PE
Março/2013



Ninguém esquece os bons momentos vividos na infância e adolescência. Eles permanecem na nossa memória, por que guardam a emoção e o sentimento de um tempo mágico e de um mundo encantador. Em razão disso, todos nós estamos presos ao passado pelos laços da recordação, dos quais não podemos desvencilhar, porquanto tecidos com as cordas dos nossos corações. Daí o motivo pelo qual vivemos remoendo o passado, num constante relembrar de pessoas e coisas comuns aos mortais. Eu, particularmente, me incluo como um daqueles que vivem ligados ao antanho. Não é sem razão que se diz que recordar é viver, no que estou de pleno acordo. Pois que, quem recorda revive momentos agradáveis ou, do contrário, tem oportunidade de refazer modos e atitudes que merecem reflexão. Repetir é uma das formas que mais ajudam a aprender e aperfeiçoar.

Daqueles velhos tempos, quem não se lembra, entre outras coisas, do primeiro dia de escola, da primeira professora, da primeira comunhão, do primeiro amor, do primeiro beijo, dos colegas do curso primário, enfim, de tudo que alimentava os sonhos e fantasias de um tempo que não passa nunca, por que o passado é bálsamo que perfuma e conforta a nossa alma.

Recordo-me de muita coisa da infância e adolescência. De muitas passagens e paisagens, muitos sons e cores, homens e mulheres daquelas paragens, especialmente, dos companheiros de jornada, todos nós cheios de entusiasmos e ardentes de paixões. No âmbito social, entre moças e rapazes, menciono: Noêmia e Joany Pereira, Leny, Vanise e Laíse Rezende, Ceci, Odete e Netinha Ferreira, Neuman e Darcira Florêncio, Cacilda e Terezinha Queiroz, Safira e Nevinha Moura, Nizinha e Zélia Sá, Neide e Niralda Campos, Zefinha e Tereza Lopes, Helena Amaral e a maior dançarina de todos os tempos, Joanita Duarte, com quem dancei para valer. Essas, para citar as mais responsáveis pelos êxitos das festas, com destaque para os bailes. Dos rapazes, limito-me em distinguir José Pereira Neto e Milton Aleixo de Souza.

Zé Neto era um rapaz de forte personalidade. Embora de comportamento cerimonioso e temperamento arredio, não deixava de ser educado e tratável. Apesar de inteligente e estudioso, com um bom preparo intelectual, não chegou a se diplomar. Fazia parte de uma sociedade milenar e de grande atuação no mundo inteiro, que, a meu ver, mudou o leme do seu destino. Posto que, ainda jovem, sem muita experiência, empolgou-se com a doutrina da associação, a ponto de se distanciar do modo de vida dos jovens da sua época. Vejo e sinto que a sociedade a que me refiro, embora reconhecendo o seu valor histórico, faz com que os seus membros se achem superior aos outros, vivam um mundo particular e levem uma vida diferente dos demais. Isso, segundo meu ponto de vista, fez com que o meu velho companheiro fosse o que foi e não o que nós desejaríamos que fosse, sem qualquer crítica nem julgamento. Tivemos uma boa convivência, inclusive moramos juntos, no mesmo quarto de pensão em Recife, salientando que ele foi uma das mais sólidas amizades de minha vida social.

Quanto a Milton Aleixo, além de primo pelo lado materno, foi com quem mais convivi na meninice e juventude. Fomos colegas de classe no curso primário e juntos concluímos o curso de Técnico Agrícola no Aprendizado Agrícola de São Bento. Era um jovem alto, magro, inteligente e comunicativo. Quando voltamos do Aprendizado eu lhe disse que iria fazer o ginásio em Pesqueira e ele disse que ia também. Mas o pai não concordou. Decepcionado e revoltado foi embora para São Paulo e nunca deu notícia do seu paradeiro, vivendo no mais absoluto anonimato.

Zé Neto, lembro-me dele com admiração e apreço.

Milton Aleixo, como gostaria de reencontrá-lo.

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