10 setembro, 2021

"CUSTODIA, UMA CIDADE EM FESTAS PARA TODAS AS IDADES" - Por José Melo

José Melo
Recife-PE
Setembro/2021
 

 “CUSTODIA, UMA CIDADE EM FESTAS PARA TODAS AS IDADES”


(Slogan criado por Dr. Pedro Pereira, para festividades do cinquentenário de Custódia, de 01 a 11 de setembro de 1978)

Guardo vivas na minha memória, cenas da Custódia de ontem. Final da década de cinquenta, início da de sessenta. Cidadezinha pequena, vivia seus dias modorrentos, quentes e praticamente sem nenhum movimento. Os dias se arrastavam numa lentidão de dar dó. No período de aulas, a única movimentação era de poucos alunos que se dirigiam ao GRUPO ESCOLAR GENERAL JOAQUIM INÁCIO, único educandário público da localidade. Afora isso, somente nas segundas feiras se via algum movimento. Aliás, um grande movimento se comparado aos outros dias da semana. A Feira livre de Custódia, já decantada em crônicas e textos de saudosistas da terra, era realmente um dia muito especial para a meninada, que tinha o que observar, e para os adultos, que cumpriam religiosamente um ritual quase que automático, e que atingia praticamente a todos da cidade: ir ao açougue público, comprar a carne da semana, percorrer as bancas de verduras, de cereais, de miudesas, confecções, calçados e tudo o mais necessário a manutenção das famílias. Com o fim da feira, lá pelas cinco horas da tarde, a cidade voltava ao seu ritmo normal: parada no tempo e no espaço.

A movimentação diária da cidade se resumia a uma poucas “bodegas” abertas, as “botadeiras d`água” equilibrando suas latas na cabeça, num permanente vai-e-vem subindo e descendo a ladeira da Várzea, quando o chafariz não estava quebrado. Quando dava pane no chafariz, o abastecimento era feito nas cacimbas, nos terrenos de seu Apolônios, Dona Nita, Dona Isaque, ou no Açude de João Miro.

Diversão? Só nas “quatro festas do ano”. No carnaval, os pagangus quebravam a monotonia da cidade, com seus chocalhos e o estalar de seus “rêios”, assustando a criançada e pedindo dinheiro ou bebida nas bodegas. Na tradicional festa de Março, em honra ao Padroeiro São José, ocorria a melhor festa do ano. Novenário, com disputa dos Noiteiros – patrocinadores da organização das festividades por um dia, para ver quem organizava a melhor noite. Mané Fogueteiro se desdobrava na fabricação de fogos de artíficio e chamava a atenção com seus balões, rodas de fogo, girândolas de fogos de lágrima, um verdadeiro espetáculo para visão da molecada da época. Após a novena, ocorria a queima de fogos, os leilões de prendas, apresentação do pastoril, e a festa acabava com o tradicional “passeio na praça”, quando jovens enamorados, casais, rapazes e moças em busca de seus amores, passavam horas andando em volta da praça, ou se divertindo no carrossel de João Preto ou na Onda e nas canoas de Duda Ferraz, depois de Adamastor.Já na década de sessenta, o Parque Lima causava excitação na meninada com seus equipamentos “modernos”, e na juventude, com seu sistema de som “de última geração”, tocando “A namorada que Sonhei”, com qualidade incompavelmente superior aos acordes sonoros da “Duas Américas”, a Difusora de Téa, como era conhecida. Na véspera do dia dedicado a São José, a elite da cidade participava do Baile de São José, inicialmente no Bar Fênix, depois no Centro Lítero Recreativo de Custódia, sempre animados pela OARA JAZZ ou Orquestra Marajoara, sob a batuta do Maestro Demétrio, de Sertânia. E no dia de 19 de março, havia a procissão, geralmente animada pela Bandinha de Zé Biá, ou quando a situação estava um pouco melhor, com a participação da Banda de Música de Belo Jardim, que animou inúmeras festas de São José em Custódia. Eram assim as festas que assisti nos meus tempos de criança e adolescente.

No período junino, as únicas diversões que as crianças tinham, era “soltar” bombas, “peido-de-véia”, ou atirar de “Roqueira”. Isso, sem falar nas fogueiras, nas vésperas dos dias dedicados a Santo Antonio, São João e São Pedro. Os adultos tinha a opção de participar dos grupos de bacamarteiros – que se apresentavam na cidade e por sítios e fazendas da região. Ou fazer como a maioria: “balançar o esqueleto” num forró pé-de-serra pelos muitos sítios e fazendas do Município. Forrós que não raro, terminavam antes da hora prevista, devido as constantes brigas de faca peixeira que deixavam vítimas feridas ou mortas.

A partir de então, só monotonia, durante boa parte do ano, só quebrada pelos ensaios e desfiles estudantis de sete e onze de setembro. E finalmente chegava o fim de ano, com as últimas opções de laser que a cidade oferecia: O Natal, com o Pastoril, o passeio na praça, as barracas de jogos de azar e de comidas típicas, sem esquecer os bolos de Dona Aurora, os parquinhos de diversão, e por vezes um Baile no CLRC, ou os tradicionais forrós pelos arredores da cidade.

Já no final década de sessenta e incío da de setenta, ocorreu uma verdadeira revolução com relação as festas da cidade. Zezita Queiróz -  a quem Custódia deve muito, pelo incentivo à Cultura e organização de festas, comandou inúmeras festas memoráveis, estilizadas em costumes de outras plagas, a exemplo de “Uma Noite no Havaí”, “Festa Espanhola” entre outras, sem contar o inestimável apoio  que foi dado por ela na preservação de nossa cultura, com a implantação da Festa do Folclore e outras atividades que marcaram época.

A festa do Cinquentenário de Custódia deu um implulso extraordinário na implantação dos calendários festivos em Custódia. Podemos afirmar que Luizito deu a maior contribuição para a consolidação da cidade como verdadeiro polo festeiro, com a realização das festividades do Cinquentenário, e com a modernização da tradicional festa de São José. Ao invés de apenas o leilão, a queima de fogos e os passeios na praça, a juventude passou a contar com shows de artistas regionais, como Novinho da Paraíba, Assisão, Israel Filho, Zeto,  inúmeras Bandas de Forró Moderno, e nacionais, a exemplo de bandas famosas, como Orquestra Armorial, Quinteto Violado, Asas da América etc.

Paralelamente, surgiram as famosas barracas, nascidas com a Barraca de Zé de Arnoud, que deu origem a proliferação destas durantes as festas, chegando a causar tumulto com o barulho das disputas de sons dos equipamentos das barracas. A Prefeitgura então interviu, dotando a festa de barracas padronizadas, com som único, todas com banheiros, além da construção de banheiros públicos provisórios. Lembro bem que no primeiro ano das barracas padronizadas, batizei todas elas com nomes de músicas de Luiz Gonzaga. Assim, o usuário poderia se divertir na Barraca “Serrote Agudo”, “Vozes da Sêca”, “Asa Branca”, ou “Cacimba Nova”, esta requisitada de imediato pelo impagável Ozório Amaral, que a manteve durante um bom tempo, em todas as festas.

Organizada, a festa passou então a exigir uma programação cada vez melhor, o que sempre foi feito, com shows musicais durante todo o novenário de São José. Recordo que faziam imenso sucessos umas Bandas do Ceará, que antecederam a Mastruz com Leite e outras mais recentes.

E assim nasceram as famosas festas de Custódia, hoje um polo indiscutível de atração de turistas festeiros, que se deslocam das cidades vizinhas e até de outros Estados para participar de festas em Custódia. Essa transformação de Custódia em polo festeiro, fez com que uma nova atividade passasse a ser desenvolvida profissionamente: a atividade musical. Anteriormente, o acervo musical de Custódia se resumia a alguns sanfoneiros espalhados pela cidade e zona rural do município, poucas bandas de pífano, e só. A partir da década de setenta foram surgindo novos talentos, a exemplo de Zé Caboclo, Janúncio Siqueira, Plínio Fabrício e tantos outros que hoje formam uma verdadeira legião de bandas, conjuntos, cantores, compositores, interpretes e músicos que agitam a cidade e levam o nome de Custódia por todo o território brasileiro. Tivemos nomes de destaque nacional na música regional, a exemplo de Zé Caboclo – ganhador de um festival Regional de Música, Antonio Marcelo, Zé Newton, que mesmo não tendo nascido em Custódia, residiu no Município na sua adolescência, os componentes do Trio do Nordeste, que fez muito sucesso no Norte do país, principalmente em Brasília, entre outros que fazem ou fizeram sucesso na música. A cultura da cidade hoje é manifestada através da música por grande número de artistas, que mostram o celeiro musical que é nossa terra.


Obs. É evidente que citei apenas alguns dos artistas da nossa cidade, pelo fato de eu estar afastado da terrinha há mais de vinte anos, e apenas acompanhando a movimentação da cidade pelas redes sociais e notícias esparsas. Não poderia, portanto, citar todos que na realidade compõem esse rico quadro de artistas que nossa terra possui.

José Melo, 09 de Setembro de 2021.

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