Por EDGAR MATTOS
Acreditem vocês, minha intenção é apenas a de lhes contar um “causo” divertido. Para fazê-lo, no entanto, tenho que situar o cenário, explicar as circunstâncias. E isso vai implicar numa inevitável autolouvação. Porque vou ter que lhes falar de um dos pioneirismos que marcaram meus tempos de Secretário de Educação de Pernambuco. No caso, a informatização da administração escolar. Com um investimento relativamente modesto, conseguimos implantar um eficiente banco de dados que se constituiu num valioso instrumento de gestão, contribuindo, decisivamente, para a maior eficiência e rapidez do processo decisório
Para que vocês possam avaliar a dimensão daquele progresso tecnológico para a época basta que lhes diga que aquele nosso sistema eletrônico não diferia quase nada do que hoje, 25 anos depois, funciona na Secretaria Estadual de Educação..
Um monitor colocado em minha mesa de trabalho possibilitava-me, não só ter uma visão completa da situação de cada unidade de ensino, como também controlar todas as transferências de recursos para os Municípios.
É que, naquela época, os investimentos municipais na Educação dependiam, essencialmente, das verbas do Salário-Educação repassadas por intermédio das Secretarias Estaduais de Educação em forma de dinheiro ou de bens ( equipamentos e mobiliário escolar ). Cabia à Secretaria adotar critérios para que essa distribuição de recursos se processasse da forma mais equânime e justa possível, e eu, pessoalmente, me empenhava em fazê-lo sem qualquer ranço de discriminação política..
Como alguns prefeitos, independentemente da sua posição partidária, eram mais agressivos do que outros no seu reivindicar, era preciso procurar equilibrar as doações, evitando o favorecimento daqueles em detrimento dos mais tímidos. Havia até uns que, empenhados em beneficiar mais e mais seus municípios, eram capazes de tudo, inclusive de artifícios e burlas. Diante dessas matreirices era preciso ficar atento.
Dentre esses mais espertos estava o saudoso Luizito, simpática figura que tal qual um dos papas do nosso mundo cultural, se empenhava em “fazer o tipo’ pitoresco do matuto folclórico. Então Prefeito de Custódia, nosso Luizito para favorecer aquele município sertanejo, não media esforços, nem respeitava princípios.
Certa feita, chegou ele ao meu gabinete, pedindo, com a veemência de sempre, 100 bancas escolares. De memória, eu ponderei que, no mês anterior, eu já tinha repassado 200 bancas para a sua Prefeitura, a de Custódia. Ele, sem qualquer cerimônia e até de maneira ríspida como era do seu estilo, me contradisse, negando peremptoriamente que tivesse recebido da Secretaria aquela doação.
Foi então que vendo a discussão descambar para um impasse, nesse confronto de palavra contra palavra, resolvi recorrer ao computador que se encontrava ali mesmo no meu birô. Coloquei o código do município e consultei quais os repasses e doações feitos para Custódia nos últimos três meses. E, ali na tela do monitor, á vista de todos, de forma irrefutável, confirmava-se o que eu estava dizendo: 200 carteiras escolares haviam sido repassadas recentemente para o município.
Sem argumento para contrapor-se à tecnologia, Luizito, com a maior cara de pau, declarou alto e bom som para espanto dos circunstantes:
- É danado. Agora com esse tal de computador a gente não pode mais nem mentir…
Link do texto: Segunda dos Sábios
Colaboração: José Soares de Melo
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