28 agosto, 2021

O milagre sem o santo - por José Melo



Meu pai era caminhoneiro, e por várias vezes eu o acompanhava nas longas viagens que eram, naquela época, o percurso de Custódia-Petrolina e de Petrolina a Caruaru. O Velho transportava gado, e naqueles tempos existia uma verdadeira irmandade entre os motoristas, que faziam o percurso em comboios, não para fugir da violência, inexistente naquela época, mas em função das longas distâncias entre uma cidade e outra, e a estrada deserta, com pouco movimento e praticamente desabitada, o que representava um sério problema no caso de acidente ou mesmo avaria nos veículos.

Tínhamos os pontos previamente definidos para o café da manhã, o almoço, o jantar e o pernoite. Não se pode esquecer os tipos de restaurantes existentes ao longo da rodovia de terra batida, a BR 25, atual BR 232: choupanas cobertas de palha de coqueiro, um vasto terreiro que servia de estacionamento, algumas latadas, tipo de galpão improvisado para proteger os veículos do sol inclemente do sertão. Era muito apreciado pelos caminhoneiros o café da manhã, tipicamente sertanejo: cuscuz com leite, carne de bode assada na brasa, queijo de coalho, ovos fritos em banha de porco, bolo de milho etc.

Em um desses pontos de parada obrigatória, certa feita nosso grupo parou para o café da manha. Um dos motoristas, cujo nome omito por razões óbvias, ao se preparar pra polvilhar a farinha sobre os ovos fritos, inadvertidamente pegou o açucareiro, pensando se tratar do farinheiro. Chico Donzelo, gozador de marca maior, observou e cutucou os companheiros ao lado, apontando a “melada” que ia acontecer, enquanto o desatento despejava o açúcar sobre os ovos. Quando viu a turma se esbaldando de rir com a mancada, o descuidado motorista tentou se esquivar do fora, dando uma desculpa não muito inteligente:

– “Lá em casa, quando eu peço ovos fritos, “Dona Fulana” (sua esposa) trás logo o açucareiro, pois ela sabe que gosto muito de ovos com açúcar!”

Por: José Soares de Melo



Um comentário:

  1. Consta que o Sr.Antonio Firmino, pai do Zé Melo, aprendendo a dirigir o caminhão, com Seu Tonho de Mestre Alfredo como instrutor, na descida do Grupo, o carro ficou sem freio. Precisava-se engatar uma "primeira" na raça,(o caminhão era "queixo duro", ainda não existia sincronizador) para reduzir a velocidade do "bicho".
    Naquela agonia, vendo a Praça Velha "chegando", teria dito o aprendiz de motorista: "Lebrea, seu Tonho, que eu seguro na roda grande".
    Fernando Florencio
    Ilheus/Ba
    PS:Lebrea significava debrea.
    Roda Grande era o volante.
    Luizinho da Oficina conhece bem
    esta "estória".

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