27 junho, 2023

A euforia das travessuras (Sevy Oliveira)


Niralda Campos

Éramos meninas da mesma idade. Na busca do desconhecido, pensávamos ser livres como a natureza. Descalças, cabelos em desalinho, corríamos pelas ruas, estávamos em todos os recantos e nos acontecimentos locais. E a quebra dos limites impostos não era por rebeldia ou afronta às regras: apenas ignorávamos o porquê do proibido. Acompanhávamos as bandas de músicas nos dias de festa e os palhaços nas propagandas dos circos. Havia excesso nas brincadeiras do pega, do chicote queimado, nas cantigas de roda, nos jogos de competição, sendo inevitável as briguinhas com as colegas de classe.

A bica do telhado da igreja...que tentação! Lá, com os meninos de rua, molhávamos nossos corpos nos dias de chuva e nos banhos na correnteza dos riachos. As palmadas era constantes das mães preocupadas. Felizmente, por onde andávamos havia o carinho e os cuidados das comadres e amigas. Possivelmente, saciamos a curiosidade de nossas inquietações, encontramos as possíveis respostas e desenvolvemos habilidades.

Tornamo-nos alunas exemplares, criativas nas cantigas de roda e competitivas nos jogos escolares. Gostávamos de ler e dramatizar as estórias de príncipes e fadas sendo inesquecível a estória da Princesa Nagadinha, que tão bem contas, suscitando lágrimas nas crianças que te ouviam. Queríamos somente brincar e desafiar os perigos existentes, talvez de um modo diferente dos padrões de bem-comportadas.

O tempo passou, ficamos jovens e seguimos caminhos diferentes. Tua partida precoce do nosso convívio deixou uma lacuna na minha seleção de amizades. Quando volto a Custódia, a minha alma entristece por não mais sorrir com teu sorriso e nem poder relembrar nossas travessuras. Minhas orações reverenciam tua memória. Que a tua alegria descanse em paz.





Sevy Oliveira - Livro "Caminhos do Afeto". Página 49. Edições Bagaço

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