10 junho, 2022

[Biografia] Padre Arlindo Laurindo de Matos Júnior

 


JC Online

Arlindo Laurindo de Matos Júnior, o Padre Arlindo, aprendeu desde muito cedo a transformar os desafios de sua vida em superações. Desde o seu nascimento, em 19 de julho de 1975, em Rio Doce, Olinda, Pernambuco, teve que lidar com as dores e as adversidades que a vida lhe impôs, por ter nascido em família muito humilde. Sua mãe, Cícera Benigna, a Dona Ziza, saiu da cidade de Barreiros, para ir trabalhar como empregada doméstica em Recife. No contexto da época, trabalhar em casa de família representava uma situação em condições adversas, inúmeras obrigações e direitos de acordo com o humor do patrão. 

Já o pai, era jornaleiro e dono de uma das primeiras bancas de revistas do centro do Recife, na Rua Nova, ao lado da Matriz do Santíssimo Sacramento, no bairro de Santo Antônio. A banca, que ocupa as memórias do Padre Arlindo, existe até hoje, porém está localizada atualmente, em frente ao célebre Edifício Arte Palácio, onde funcionou o antigo Cinema Trianon,  na Avenida Guararapes, com o nome de Banca Fernanda.

A garra e a determinação de Dona Ziza fizeram a diferença na vida de seu filho caçula. Apesar das dificuldades familiares, sobretudo da busca da subsistência, ela encontrou uma força interior sem precedentes, fruto da fé em Deus. 

Diante do projeto de Deus, seu Arlindo, já viúvo com 4 filhos pequenos, e Dona Ziza, mãe solteira de uma menina, encontraram-se e resolveram construir uma vida juntos. Pouco tempo depois da nova família constituída, Dona Ziza passa pela dolorosa experiência de perder sua filha Betânia por afogamento. Logo em seguida, ela é abençoada com o nascimento de dois filhos, Fernanda e Arlindo Júnior, que teve com seu Arlindo. 

Para criar os 4 filhos de seu Arlindo, os dois filhos em comum do casal e mais duas filhas de criação, Lidiane e Fabiana, a banca de revista era a única fonte de sustento da casa. Porém, nem sempre era suficiente para suprir a necessidade de uma família tão numerosa. Inflação, crises econômicas, escolhas administrativas mal sucedidas do pai refletiram diretamente nas relações familiares e nas finanças domésticas. Esses fatos obrigaram Dona Ziza a buscar a ajuda da irmã que morava no Tururu, uma favela no Janga, na cidade de Paulista, Pernambuco. A tia Grinalda tinha uma casa bem abastecida de alimentos, apesar do contexto de pobreza. Na visão do pequeno Arlindo, entre os seus 9 e 10 anos, essa tia era rica, pois em sua mesa de fartura, havia coisas como iogurtes e salames. A surpresa do menino foi descobrir que aquela comida vinha do lixão de Maranguape II. 

A descoberta da CEASA aos sábados foi a saída honrosa do lixão. Mais uma vez, a fé fazia Dona Ziza sair de casa às 3h30 da manhã, com os dois filhos pequenos, apenas com a passagem de ida para a CEASA. Lá, conseguia comprar fiado a borreia de melão, muito maduro ou amassado, e voltar com o lucro de sua venda. A esperança de pagar o fiado, comprar alimentos e custear a passagem de volta, era um desafio semanal a ser vencido e o suficiente para comprar o básico necessário para o sustento da família. Porém, muitas vezes, até o básico ainda faltava. 

Enquanto lutava pela sobrevivência, Arlindo sabia que eram os estudos que iriam fazê-lo vencer na vida. Aluno exemplar, sempre se destacou pela inteligência e por boas notas. Já adolescente, trabalhou em um posto de gasolina enquanto cursava enfermagem no Colégio Almirante Soares Dutra e ainda estagiava em diversos hospitais. 

O sonho de ser padre surgiu por volta dos seis anos de idade. Foi a piedade do avô materno do pequeno Arlindo, que levou Dona Ziza a cumprir um pedido de seu pai: após a sua morte, colocar na Missa a intenção de sua alma, semanalmente, durante dois anos. Este foi o encontro do menino com a Igreja, que despertou sua vocação. Foi quando conheceu o padre Paulo Cabral, que o acompanhou e o apresentou ao Cristo. Fato que despertou o desejo do sacerdócio ministerial em seu coração.

O jovem Arlindo entrou para o Seminário aos 16 anos e lá se destacou pela simplicidade e pelo desapego, mas também pela intelectualidade e pela inteligência. Com isso, ganhava o respeito dos professores. Após 9 anos de estudos, foi ordenado padre no dia 02 de fevereiro de 2001, assumiu a Vice Reitoria na formação dos seminaristas religiosos, da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, em Paulista-PE. Nas palavras de Dom André Vital, atual Bispo de Limoeiro do Norte, Ceará, “o Padre Arlindo, enquanto Vice Reitor, foi como um raio: em pouco tempo brilhou intensamente na formação dos seminaristas”.  

Padre Arlindo foi Vigário Paroquial na Paróquia de Paratibe, Paulista – PE e administrador paroquial em Catende. Em Catende, já se destacava como grande realizador, na dimensão de grandes construções, como várias igrejas, uma praça e aquisições de vários imóveis para a Paróquia. Designado, em 2006, Pároco da cidade de Tamandaré – PE, permanece até hoje. Por onde passou, sempre teve uma presença marcante na comunidade, em todas as pastorais e movimentos 

As experiências dolorosas foram todas como uma grande faculdade em sua vida, um dos maiores processos de aprendizagem. Foi onde encontrou forças para a construção da nova matriz de Tamandaré, que tem capacidade para 1.000 pessoas sentadas, feito iniciado quando só tinha uma picareta. Para viabilizar o sonho, usou de muita criatividade. Buscou mobilizar um maior número de pessoas, independentemente de classe social.  Tornou-se então um projeto de todos, do povo. Dessa forma, conseguiu levantar recursos necessários para a conclusão da Nova Matriz. Um fato, aos olhos de muitos empresários da construção civil, impossível de ter sido realizado apenas com doações. 

É prova de que a ressignificação de sua história depende de uma escolha pessoal. E padre Arlindo escolheu dar um novo sentido à sua. Tornou-se uma pessoa versátil, capaz de lutar por seus sonhos particulares. Inspiradas por seu exemplo despertou em muitas pessoas a coragem para realizar seus próprios sonhos.

A igreja se tornou ponto turístico na cidade e todo o comércio se desenvolveu ao redor. Turistas dos mais diversos lugares têm a construção como referência nacional no turismo religioso. Depois da Nova Matriz, mais 7 igrejas foram construídas na zona rural da cidade. Com o tempo e a presença maciça do padre, Tamandaré está se transformando numa referência no turismo religioso.

Se a resiliência é a capacidade de superar as adversidades e dores, Padre Arlindo soube transformá-las na forma de realizações pessoais que não ficam para si, mas para o próximo, para a coletividade. Desafio e superação mostraram uma pessoa que não se tornou vitimizada. Passou pelo processo de superação que o capacitou a construir uma vida extremamente frutífera, de maneira real e concreta. 

Vieram o reconhecimento nacional e a projeção em todos os meios de comunicações sociais por todos os trabalhos que realizou, tendo um currículo admirável como: Cidadão Catendense; Cidadão Tamandareense; Comendador com Placa, concedido pelo Grande Oficial da Ordem do Mérito Consular, assinado nos 25 anos da Convenção de Viena, Ordem fundada no Palácio de Hoefburg na Áustria, Medalha do Mérito Prestígio e Popularidade Comunitária, da Câmara Municipal de Tamandaré, pelos relevantes serviços prestados às comunidades menos favorecidas de Tamandaré e do Estado de Pernambuco; Diploma de Cidadão Agapeano pelo Caxangá Ágape; Medalha Pernambucana do Mérito Policial Militar, concedida pelo Governador do Estado de Pernambuco, Diploma Amigo dos Bombeiros, do Comando Geral do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco; Pessoa Amiga do Turismo, concedida no Prêmio Pernambuco de Turismo, promovido pela Secretaria de Turismo, do Governo do Estado de Pernambuco. 

É o idealizador do projeto SEMENTES DE BEM, um grande projeto que hoje se concretiza em forma de assistência profissional, em diversas especialidades, para atender à população carente, gratuitamente. São médicos, advogados, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros, todos voluntários que doam seu tempo a serviço dos que precisam.

Tradicionais shows populares eram realizados durante o período de veraneio na cidade. E o padre Arlindo teve a ideia de realizar um evento religioso que pudesse levar as famílias para rezarem e também se divertirem juntas. Foi então que surgiu o DIA DA CONSCIÊNCIA CRISTÃ. Sempre realizado no quarto sábado do mês de janeiro, com um público aproximado de 10 mil pessoas, o evento é marcado pela celebração da santa missa e pelos shows com atrações religiosas e populares conhecidas nacionalmente. O evento tomou uma dimensão tão importante para a região que foi inserido, mediante lei, no Calendário de Eventos do Governo do Estado de Pernambuco, por iniciativa do Deputado Estadual, Clodoaldo Magalhães.

 

Toda a renda do evento é direcionada para a CRECHE PADRE ENZO que presta assistência a cerca de 500 crianças em situação de risco da cidade de Tamandaré. A creche é mais um dos trabalhos em que o padre Arlindo está completamente envolvido, como Diretor, acredita que cuidar das crianças é uma maneira essencial de cuidar da cidade. 

A Segurança de Tamandaré também é uma das preocupações do padre Arlindo. Ele tanto lutou e conseguiu que o Batalhão da 10ª companhia da Polícia Militar de Pernambuco fosse instalado na cidade. Tornou-se orientador espiritual dos policiais e, assim, mais uma vez, está cuidando do seu povo. Tal fato foi registrado em Voto de Aplauso, aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, em 16 de agosto de 2017, mediante proposição do então Deputado Estadual Aluísio Lessa.

 


Além disso, foi o homem que inaugurou o movimento de voluntários para limpar as praias do Nordeste quando da invasão do óleo em 2019. Ele lançou um áudio nas redes sociais que viralizou e dizia: "se chegar a gente limpa", em alusão ao óleo que chegaria no dia seguinte à Praia de Tamandaré. Quando o óleo tomou primeiramente a Praia dos Carneiros, Padre Arlindo foi o primeiro a chegar e a retirá-lo com suas mãos. Com sua liderança, atraiu as pessoas para, junto com ele, limpar a praia, justificando assim o título de Pessoa Amiga do Turismo, da Secretaria de Turismo do Governo do Estado de PE, em reconhecimento ao ato heroico e inovador.

 

A vida que o fez passar pela experiência dolorosa da fome, levou-o a alimentar milhares de pessoas. Em 2019, ao celebrar na área rural da cidade, descobriu que as pessoas estavam sem comer. A região, cuja economia canavieira está em declínio, recebeu 80 toneladas de alimentos distribuídas à população, pela Campanha “A Fome Não Pode Esperar”. 

Torcedor do Sport, conseguiu, com seu espírito articulador, unir os três clubes de Pernambuco em nome da solidariedade. Sport, Náutico e Santa Cruz abraçaram a campanha e levaram a “A Fome Não Pode Esperar” para os estádios e também para os engenhos de Tamandaré, onde realizou um campeonato de futebol de engenho contra engenho.

Com o início da pandemia do Coronavírus, para atender às centenas de pessoas que batiam na porta de sua casa diariamente, reeditou a campanha “A Fome Não Pode Esperar” e distribuiu cerca de 120 toneladas de alimentos entregues à população, durante 10 domingos seguidos, em forma de 8.000 cestas básicas, 48.000 ovos, 10.000 mortadelas, muitos voluntários e milhares de doadores.

É um padre que teve a confiança e a coragem de sair da sacristia e ir ao encontro do povo em todos os momentos, principalmente nesse momento de pandemia. Ele não descuida de sua função primeira que é rezar e manter a fé e a esperança no coração das pessoas. Diariamente, são missas, transmitidas pelas redes sociais, como também inúmeras mensagens de força, de amor, de otimismo, palavras de esperança, descobrindo assim, um instrumento eficaz de evangelização. Mas, em tempos normais, com seu espírito incansável, chega a celebrar sozinho 11 missas todos os finais de semana, nas igrejas que a Paróquia possui entre o centro e a zona rural. 

Além disso, realiza, há cerca de três meses, caminhadas pela cidade em oração com um carro de som, para que as pessoas que não podem ir à missa, escutem a voz do padre e ele possa estar próximo do povo. Tudo para manter a fé em tempos difíceis.

Sendo padre da igreja católica, sua imagem ultrapassa o ambiente religioso e atinge hoje vários setores da sociedade, em todas as suas dimensões. Consegue se comunicar, interligando o mais amplo aspecto social, ao nível subjetivo e intimista do ser humano. 

Padre Arlindo tornou-se um grande líder religioso e, há muito, deixou de ser uma referência apenas dos católicos, mas sim, para as pessoas que precisam de uma palavra, de uma expressão, de uma pessoa que demonstrou a superação em relação a todo o histórico de vida. É mais do que um líder religioso, é um testemunho de superação pessoal.

(*) Desde os 13 anos, Padre Arlindo passa as férias em nosso município, quando jovem ficava as tardes na Praça Padre Leão e, até frequentava o Pau do Urubu, situado ao lado da Igreja Matriz de São José. Celebrou algumas Missas junto ao Padre Roberto Luciano. Como Coroinha, frequentou a Igreja desde a época do Padre José, com Padre Orlando, inclusive a primeira Missa celebrada foi em Custódia com o saudoso Padre Pedro. Tem um carinho enorme por Padre Roberto, pelo acolhimento e pelo povo de Custódia que o recebeu tão bem. Segundo ele, é um lugar que sabe receber e acolher, um lugar que o calor humano é muito especial. Por isso, sempre que pode, qualquer folga, vem a Custódia descansar um pouco.

Agradecer a José Sérgio de Araújo Silva (Serginho da Lotérica) pelo envio da Biografia.

2 comentários:

  1. Exemplo de vida , de fé , de amor! Não 9 conheço pessoalmente mas o admiro incondicionalmete🙌❤ Meu respeito e afeto. Deus seja sempre contigo , Pe. Arlindo 🙏❤

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  2. Sou ovelha do rebanho de Custódia

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