13 novembro, 2021

Família Ferreira de Lima - por Fernando Florêncio



A natureza com a sua infinita capacidade de criar situações as mais diversas possíveis, pregou-me uma peça. Imaginem leitores deste blog, que eu pertenço biològicamente a uma família que tinha, (alguns ainda têm), uma intimidade formidável e quase mágica, de trabalhar a madeira. A genética quis apenas que eu herdasse daquela família, tão somente a humildade, a retidão, o caráter e a simplicidade de colocar o coração na frente de tudo que me proponho fazer.

Como eu gostaria de ter sabido operar “um torno” de madeira tosca, desenvolvido e fabricado por mim mesmo, acionado mecanicamente pelo pé, num movimento cansativo de vai e vem, pra cima pra baixo. Com a ajuda de escopo (formão) eu teria me realizado, criando e fabricando meu próprio “pião” que, desde que fosse de pau de goiabeira, era “inlascável”. No jogo onde aquele que errava, deitava sua peça para ser atingida e levando “bicoradas” dos outros participantes até a entrada do “boi” (Um círculo feito no chão), onde os derrotados na refrega eram colocados para serem postos para fora debaixo de muitas “chapuletadas” como se dizia na época. Lascavam-se muitos peões, mas nenhum feito de pau de goiabeira. As pancadas de peões com bico de parafuso eram mortais.

Eu me refiro à Família FERREIRA DE LIMA, cujo patrono, João Ferreira, foi o mestre de uma plêiade de filhos, pessoas simples, simplórias até, aos quais delegou o dom de trabalhos em marcenaria. Creio que em Custódia e distritos, as famílias da época tiveram o primeiro guarda-roupas, a primeira estante, as camas, a cristaleira todas desenhadas e fabricadas por “Seo” João e filhos. Inclusive os meus pões.

BENEDITO, o mais refinado no trabalho artesanal da madeira, destacou-se dos demais, com uma atividade paralela sendo Pastor da Primeira Igreja Evangélica de Custódia. Mesmo com parca escolaridade, leitura claudicante, era detentor do dom de envolver as pessoas na explicação do evangelho. 

CÍCERO, mais turrão. Acho que por ser mais forte, companzudo, se encarregava de fabricar as pranchas, serrando manualmente toras de angico, baraúna, aroeira e umburana de cheiro, esta última, a preferida dos moveleiros por ser uma madeira bonita, macia e fácil de ser talhada. Era bonito vê-los trabalhar. A entrega dos móveis era a domicilio, e o transporte, a cabeça. Como não havia funerária, os irmãos via de regra eram instados a fabricar urgente, um caixão para alguém que resolveu partir de repente. 

O outro filho do “Seo” João Ferreira, (também João), não sei por que tinha um apelido estranho; JOÃO KAKI OITO, Se transformava numa fera quando alguém o chamava pelo apelido. Esse também trabalhava a madeira, mas era Expert em fabricar instrumentos musicais de corda. Violões, Cavaquinhos, Rabecas, fez até um Violino. Era craque na matéria. Foi o primeiro voz e violão de Custódia. Era muito solicitado para tocar e acompanhar com seu violão algum “bebum” apaixonado nas serestas das madrugadas custodienses.

Atualmente, todos residem em Arcoverde. BENEDITO estive com ele por ocasião da minha visita a Custódia, vive sempre emocionado e chorou bastante ao receber o meu abraço. Parece estar enfrentando um problema sério de saúde. Esclerose acentuada, talvez.

O CICERO, está sóbrio e conversamos bastante. Ocupa-se ainda fazendo alguma coisa relacionada à madeira. Um tamborete, uma cadeirinha… 

O JOÃO, desde que se acidentou, caindo do andaime de uma obra, vive numa cadeira de rodas. Está paraplégico. 

Como não tenho idéia quantos filhos compunham aquela família, vou limitar-me apenas a mais um componente. Os demais hão de entender. 

MARIA FERREIRA, minha mãe biológica, que hoje, 09 de maio de 2009, véspera do dia dedicado às MÃES, A ELA; “MESMO POST MORTEN” dedico esses escritos, como que me redimindo de uma omissão que durou anos. O porque dessa omissão envolve uma série de fatos de amplo conhecimento de todos da minha geração, citá-los seria cansativo, exaustivo e principalmente sem sentido. 

Minha mãe ainda menina, foi trabalhar como criada (por ser menor) em Arcoverde, na casa de uma família abastada e de sobrenome pomposo. Corria o ano de 1942. Num relacionamento infantil e naquela hora tido como inconseqüente, (até porque ela tinha 14 anos), com um dos filhos da casa, (que tinha 17,) engravidou, foi posta no olho da rua, porta a fora. Naquela época, moça engravidar fora do casamento era um escândalo. 

“Chegando de volta à casa dos pais teve o mesmo tratamento. ”Pé na bunda.” Não poderia ser de outra forma, porque aquela família, mesmo humilde, sentiu-se atingida nos seus dogmas de virtude e retidão moral. O poderio familiar/financeiro do outro lado, não dava chances a qualquer reparação. Família de sobrenomes extensos. Dignos de figurar em placas urbanas dando nomes a alamedas de cidades decadentes. 

Consta que diante do exposto, minha mãe seguiu o caminho da prostituição, até me parir, e numa madrugada chuvosa e fria, colocar-me recém-nascido, enrolado em trapos, na porta da casa de Zé Daniel e Laura Florêncio. Por esta atitude muitos a condenaram. Quanto a mim, pelo contrário, naquela situação, gesto mais coerente; impossível. Por isso, sou-lhe grato sempre e eternamente. 

O tratamento e a criação que me deram os adotantes, é de amplo conhecimento de todos. Portanto me abstenho de comentar. Seria cair na mesmice.

Mas, passados muitos anos, vou sintetizar a epopéia: 

‘PROCURANDO MARIA’. 

Já morando em Salvador (BA) assumi a Gerencia Regional de Vendas de uma Indústria Multinacional Americana, líder mundial na fabricação de Resinas Sintéticas, Colas e Adesivos, que com muitas fábricas espalhadas pelo Brasil, uma das quais ficava em Abreu e Lima. (PE). Numa das reuniões em Abreu e Lima, resolvi procurar Maria. 

Após a reunião, fui ao Alto José do Pinho, em Casa Amarela, era a única pista que eu soubera. Percorri todos os becos e vielas. Ninguém conhecia Maria. Quem “tinha uma vaga” lembrança, não sabia o paradeiro. 

Passados mais alguns anos, resolvi telefonar para a Rádio Clube, e relatei o meu desejo de encontrar Maria. Por sorte, num programa de boa audiência, um senhor chamado “MANOEL PIUTÁ” a quem eu gostaria de conhecer e agradecer telefonou para a rádio, dizendo onde estava Maria. 

Localizei onde estava minha mãe. “Morava” numa palafita. Num barraco horroroso, que quando a maré vinha no preamar, a água podre lambia-lhe os pés. Uma podridão insuportável vinda dos alagadiços de um bairro hoje urbanizado chamado Coqueiro Seco. 

Visão prejudicada pelas cataratas, um estado diabético avançado. Localizava as coisas tateando pelo barraco. Em contraste com o local, o barraco de Maria era de uma limpeza sem igual. 

Em consonância com os irmãos, transferi minha mãe para Arcoverde, que sob os cuidados da família, já sem aquele ranço moralista dos anos 40, passou a viver com decência. Até então houvera apenas sobrevivido. 

Aqui abro um parêntese, para agradecer a prestimosa colaboração de um médico e administrador do antigo INPS em Arcoverde, que coincidentemente vem a ser irmão do meu pai biológico. Sabedor de toda história, se prontificou a cuidar da saúde de minha mãe, providenciando para ela fosse operada da cataratas e monitorando o diabetes. Assim foi feito. 

A vida tem disso. Quando eu resolvi tomar “a atitude de ADOTAR MARIA” , pagando assim a minha dívida, involuntária, mas minha, acontece o imprevisível. 

Quando Maria já estava vendo quão bonito era o céu, a exuberância da natureza, a alegria das ruas, vendo o filho moleque feito homem, conversando com todos de igual para igual, indo ao banco sem precisar de procurador para receber os proventos de uma aposentadoria, eis que um Acidente Vascular Cerebral (AVC) a leva para o andar de cima.

Às fatalidades dessa ordem, dá-se o nome de coisas do imponderável. 

Hoje, MARIA FERREIRA DE LIMA, minha mãe, repousa e reina soberana numa gaveta do campanário de Arcoverde com uma placa de Granito Andorinha a identificar sua penúltima morada. Penúltima, porque estou em entendimentos com a família para transferir os despojos da minha mãe para o solo, aí sim sua última morada, e lá construir o mausoléu da: 

FAMILIA FERREIRA DE LIMA. 

EM TEMPO: Neste relato não faço maiores alusões ao lado paterno, pela insignificância que representa no contexto desta história. 

Fernando Florêncio
Ilhéus/BA (09/Mai/2009)

32 comentários:

  1. Oi Paulo.
    Bem aventurada esta tua ideia de republicar casos e fatos de um passado não muito distante.
    Só não revive o passado, quem não o teve.
    Fernando Florencio
    Ilheus/Ba

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  2. Sou neto de Vicente Ferreira de Lima, minha mãe Maria Gloria de Lima. Meus avós e família, se mudaram para Juazeiro Do Norte-Cariri Brasil , mais ou menos, na década de 1930. Não conheço ainda esta nobre terra mas, digo também ainda espero fazer um roteiro de viagem por aí. Grande Abraço à todos.
    http://custodia-pe.blogspot.com.br/2011/05/tributo-as-maes-e-familia-ferreira-de.html#links

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  3. Estou a procura da familia do meu avo, que Deus o tenha Expedito Ferreira lima ele saiu da cidade Araripe-PE ou Araripina-PE nao sei muito sobre seus familiares mais sei que seu pai se chama Pedro e de alguns irmaos jose, alcide, maria so sei estes se alguem souber do paradeiro de algum sitado acima favor (https://www.facebook.com/profile.php?id=100007956432252&ref=bookmarks) este e o link do meu facebook mande msg que eu respondo assim que ler.

    ele saiu de sua cidade natal com 12 anos de idade, em busca de trabalho moramos no Tocantins sou neto dele, tenho 23 anos Douglas Ferreira lima.

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  4. Estou a procura da da família do meu avô Antonio Ferreira de Lima que morou em Mamanguape na Paraíba, ele não falava da família, pois o pouco que sabemos é a família dele não queria o casamento com minha avó, então ele abandonou a família pra fugir com minha avó.Por favor se vcs souberem, eu estou indo pra lá, tentar achar alguma informação.
    Tenho 51 anos
    Lucia

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    1. Boa noite
      Sou portuguesa tambem sou da familia Ferreira de lima que eram naturais de ANTES MEALHADA PORTUGAL,poderia me dizer algo mais;

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  5. Estou a procura da da família do meu avô Antonio Ferreira de Lima que morou em Mamanguape na Paraíba, ele não falava da família, pois o pouco que sabemos é a família dele não queria o casamento com minha avó, então ele abandonou a família pra fugir com minha avó.Por favor se vcs souberem, eu estou indo pra lá, tentar achar alguma informação.
    Tenho 51 anos
    Lucia

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    1. Boa noite!Por acaso voce sabe o nome de sua avó?Você e filha de quem? Meu avô chamava Antonio Ferreira de Lima.Sou filha de Gercina .Cida

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  6. Meu avô Ovídio Ferreira Lima minha avó Mônica Maria de Jesus tinha muitos parentes na Bahia gostaria de saber de alguma parte deles pois muitos já se foram

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    1. Boa noite.Por acaso seu avô tinha irmãos chamados Expedito Ferreira de Lima, Antonio Ferreira de Lima , Adrina e tervina?

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  7. Estou buscando os familiares da minha mae ela se chama josefa ferreira de Lima

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    1. Estou procurando a família de meu avô, Manoel Ferreira de Lima. Ele nasceu na Paraíba e meu pai e tios nasceram em Bodocó-Pernnambuco.

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    2. Meu avô não nasceu na Paraíba e sim, Pernambuco. Manoel Ferreira de Lima, pai dele, meu bisavô se chama Severino Ferreira de Lima, bisavó se chama Joaquina Ferreira de Lima.

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    3. Meu avô não nasceu na Paraíba e sim, Pernambuco. Manoel Ferreira de Lima, pai dele, meu bisavô se chama Severino Ferreira de Lima, bisavó se chama Joaquina Ferreira de Lima.

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    4. Alice meo nome sou da familia ferreira de lima Portugal email prontoalice@gmail.com

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  8. Qualquer información meu hotmail franfran_barcelona@hotmail.com

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  9. Boa noite! Procuro por meu avô Vivaldo Rufino de Lima, ele é filho de João Ferreira Lima e Maria Rufino de Lima

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  10. Oi Fernando você tem algum tio ou primo ou qualquer parentesco com Romão Alexandre Ferreira ou conhece algum familiar por favor me de um toque por favor obrigado desde já

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  11. Estou a procura de meu pai Emílio Ferreira de Lima que não conheço e gostaria muito de conhecer

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    1. oi eu tambem queria encontrar meu pai ele se chama Emilio Ferreira de Lima

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  12. Sou filha de tereza ferreira LIMA
    Neta Maria Ferreira Lima
    Tereza foi a primeira filha de Maria Ferreira Lima quando ela tinha seus 14 é gostaria de conhecer meus parentes que Mora em custódia _ pe

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  13. Sou filha de Teresa Ferreira Lima a mãe dela era Maria Ferreira Lima custódia Pernambuco ela foi a primeira filha de Maria Ferreira Lima dela que ela teve com 14 anos e gostaria de entrar em contato com a família

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  14. Eu sou a filha de tereza ferreira LIMA
    Ele foi a primeira filha de Maria Ferreira Lima ele tiver Tereza ferreira LIMA quando ela tiver seus 14 em custódia eu queria entrar em contato com a família

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  15. Olá Fernando e demais descendentes de Ferreiras Lima, ou Ferreiras de Lima.
    Que história de resgate e restituição belíssima Fernando. Parabéns pelo seu gesto humano, fraterno e de filho também.

    Também procuro informações sobre um bisavô chamado Felippe Manoel de Lima. Não sabemos de onde veio, qual estado ou município. Este se casou em Areia (hoje é a cidade de Ubaíra, Bahia) em 1866 com Caetana Maria da Conceição.
    No momento do seu casamento (1866), seus pais já eram falecidos, conforme registrado no registro da paróquia, e se chamavam Manoel Ferreira de Lima e Maria de Jesus do Amor Divino.
    Acredito que o Manoel Ferreira de Lima tenha nascido por volta de 1800-1830.
    Onde?, não sei.
    Será que viveu no recôncavo bahiano? Salvador?
    Será que veio de Pernambuco, Sergipe, Paraíba, Alagoas?
    Quem puder ajudar, sou imensamente grato
    Email: frankprs@gmail.com

    Frank

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  16. Olá proucuro parentes de José ferreira lima meu avô que era filho de manoel ferreira lima minha mãe nao foi registrada com o nome do pai ele desapareceu quando ela era pequena o nome da minha mãe e Ana maria da silva filha de engracia maria da silva ela tinha dois irmãos ja falecidos Jorge e nestor ferreira da silva , nao sei muita coisa do meu avô José ferreira lima sei que veio para o rio de janeiro na guerra de mais ou menos no ano 1931 e conheceu minha vo Engracia e moravam em um sitio em Tinguá no Rio de janeiro ele trabalhava fazendo segundo minha mãe em balão de carvão minha mãe diz que ele colocou esse nome nela em homenagem a mãe dele,ele tinha um tio que morava em Sao paulo na Alameda, ele veio para ficar em sao paulo na casa do tio e acabou vindo para o Rio de janeiro onde teve tres filhos c minha vo minha mãe tem 80 anos o sonho dela e conhecer a familia, ela não sabe muita coisa sobre a família pois era muito pequena ele era de Fortaleza ele tinga na época uma filha que deixou em Fortaleza tinha uma tia que se chamava Mariinha e o pouco que ela conta obrigada se alguém souber quero realizar o sonho da minh mae

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  17. Eu tam procuro meus parentes que game ferreira de lima. Meu avô e se chamava Miguel Ferreira de Lima casado com jusefa Maria da Conceição ele nacido em Conceição de Piancó se alguém for parente entre em contato comigo

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  18. Olá Fernando Florêncio, sou filha de Cícero Ferreira de Lima,infelizmente da família de João Ferreira de Lima e Rosa Ferreira de Lima,nossos avós já são todos falecidos, inclusive dos 12 filhos de Cícero ( meu pai) Só restam 5 vivos, mais a família é muito grande para enumerar,em Arcoverde só resta dois primos que ainda residem lá, o restante mora em outras cidades e Estados diferente...

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    1. Olá sou filha de Edival Ferreira de Lima, meus avós Cicero Ferreira de Lima e Juvina , ambos da Paraiba, só não sei bem sobre a cidade que nasceram. Só sei que antes de sua morte vieram para Teixeira, Paraiba.

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  19. Boa noite!Sou Maria Aparecida.filha de Gercina Dalva Ferreira de Lima.Procuro por meus parentes.Mibha mãe nasceu em Cratos.Seus irmãos chamavam Expedito Ferreira de Lima.Tervina Ferreira de Lima e Adrina Ferreira de Lima.Minha mae casou se com Benedito cicero leonel.

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  20. Avós maternos Vicente Ferreira de Lima e Umbelina Maria da Conceição, de Custódia - Pe. Viveram em, Juazeiro do Norte - Ce. Desde os anos de 1920-+.

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  21. Meu avô se chamava Antônio Ferreira de lima.minha avó Maria da Conceição.vieran do Pernambuco para o Paraná . Meu avô fes parte do cangaço do lampião ele veio de lá fugindo na época

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  22. Eu me chamo Dirce Ferreira

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  23. Sou neto de Joana ferreira de lima que foi casado com Antônio bezerra cavalcante que era de araruna minha avó foi embora para rio verde Goiás

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