19 dezembro, 2020

Origem dos Tenórios do Sul do País - Luizinho Tenório

Foto: Acervo Familiar


Recentemente foi levantado por um colaborador deste blog um questionamento sobre qual seria a ligação de minha família com Henrique Tenório de Melo, vulto da história de Custódia, dado o lugar de destaque que o amigo Paulo Peterson tem generosamente nos dado, estreitando, assim, nossos vínculos com nossa saudosa terra natal. 

Pois bem, meu nome, Luiz Tenório de Melo, foi escolhido por minha avó paterna, em homenagem ao velho coronel Luiz Tenório de Melo (Dodô). Quando estive visitando Custódia em meados dos anos 90 conheci, somente em Quitimbú, outros seis Luiz Tenório de Melo, todos batizados com esse nome pelo mesmo motivo. 

O Coronel Luiz Tenório de Melo, Dodô, era tio de minha avó paterna Maria Tenório de Melo. Foram criados na região de Mimoso-PE, ela era prima em primeiro grau de Henrique Tenório de Melo, filho de Luiz, tendo herdado até mesmo o apelido do pai. 

Luiz Tenório de Melo fundou o Distrito de Quitimbú e juntamente com padres jesuítas fundaram Custódia, que recebeu essa denominação porque existia no lugar, que era um ponto de boiada e uma pensão, uma senhora de nome Custódia, entretanto existe uma outra versão de que tal nome se deu para homenagear os padres que estavam custodiados, porque estavam fugindo da inquisição. 

Como se pode verificar, Quitimbú é mais antigo que Custódia, tendo sido sede da Lagoa de Baixo, hoje Sertânia. 

O filho mais velho do coronel Dodô, Henrique, tinha seis irmãos, se não me falha a memória, entre homens e mulheres. Foi casado, mas não teve filhos biológicos, adotou alguns, que para ele eram mais que filhos ... assim dizia! 

Maria Tenório de Melo, minha avó, conforme citei acima, casou-se com Gabriel Ferreira Arcanjo. Deste matrimônio nasceram nove filhos, sendo cinco mulheres e quatro homens. As mulheres são: Maria Tenório Veras (apelidada de Mocinha, apelido que a acompanhou até sua morte em avançada idade!); Solidade Ferreira Cirilo; Rita Tenório da Silva, Antonia Tenório da Silva, já falecida; e Francisca Tenório de Melo, que vive em Afogados da Ingazeira. Os homens são: José Tenório de Melo, foi delegado de polícia em Custódia na década de 40 e comerciante próspero de secos e molhados em Novo Cravinho-SP, distrito de Pompéia, onde faleceu; Antonio Tenório Sobrinho, foi vereador em Custódia na década de 40 e comerciante em Quitimbú, Rosalia-SP e em Cassilândia, sempre no ramo de secos e molhados, assinava sobrinho em homenagem a um tio do mesmo nome; Sebastião Tenório de Melo, falecido em Rondonópolis-MT, onde morava; e Joaquim Tenório Sobrinho, que também assinava sobrinho em homenagem a um tio. 

Deter-me-ei com maior acuidade ao último rebento por uma questão óbvia, trata-se de meu saudoso pai. Joaquim foi o primeiro da família a migrar para o sul, embora nunca tivesse deixado de proclamar sua paixão por sua terra. A circunstância, porém, assim o exigia, não chovia naquela região há algum tempo e desta forma tornou-se ele mais um retirante da seca. Foi vaqueiro, agricultor, comprador e vendedor de caprino e suíno, além de marchante (açougueiro) em Quitimbú; trabalhou em lavouras da região de Novo Cravinho, distrito de Pompéia-SP e no município de Marília. Mudou-se para Mato Grosso uno no ano de 1955, seu destino desde que saiu de sua terra natal, o que não aconteceu no primeiro momento porque o dinheiro findou-se por completo em São Paulo-capital, tendo sido obrigado a procurar na Estação da Luz o serviço de migração e de lá, acompanhado da esposa grávida e dos filhos Luizinho e Marizalve, tomar outro rumo e não o que projetara inicialmente. 

Chegou a Cassilândia tempos depois, no dia 12 de abril de 1955. Sua família havia proliferado (coisas do sangue nordestino) haviam nascido mais três filhos: Lourdes, Cícera e Francisco de Assis, nascidos no interior do Estado de São Paulo. Deu uma volta na cidade, quando pode verificar não existir nenhuma carroça para fazer frete, sem pensar muito voltou ao interior de São Paulo, mais precisamente na cidade de Rubiácea, adquiriu uma com animal e tralha e rumou de volta a Cassilândia. Lá se foram 10 dias de viagem, dormindo ora embaixo da carroça ora em galpões ou paióis de fazendas. 

Assim que retornou, iniciou o trabalho duro juntamente com seu filho mais velho, Luizinho; poucos dias depois estava de volta a Rubiácea para comprar outra carroça, o que foi feito sucessivamente durante 18 meses, período em que comercializou algo em torno de 40 destes veículos, tendo adquirido recurso suficiente para comprar um sítio, loteá-lo e homenagear seu estado de origem dando o nome do novo bairro de VILA PERNAMBUCO - o maior da cidade. Comprou fazendas, chácaras, sítios, gado, jipes, caminhonetes, caminhões e até aviões. Também foi o primeiro corretor de fazendas de Cassilândia. 

Foi vítima de um acidente de avião quase fatal, no dia 02 de julho de 1968, no aeroporto de Ribeirão Preto-SP. Inexplicavelmente a aeronave caiu logo após decolar. Passou meses na UTI, teve seu rosto completamente deformado, o que não pôde ser corrigido a contento por cirurgias plásticas, dada a gravidade do acidente. Ainda assim não se deixou abater, dado seu carisma e coração devotado ao bem de seu próximo, tornou-se político por imposição do povo. 

É, até hoje em dia, proporcionalmente o vereador mais votado da história de Cassilândia, obteve 35% dos votos válidos em sua primeira eleição. Para que tal votação seja superada, hoje, são necessários algo em torno de 4.500 votos! Foi Presidente da Câmara Municipal, uma vez vice-prefeito e duas vezes prefeito. 

Maria Tenório de Melo, minha avó, a prima de Dodô, faleceu aos 77 anos, no dia 15 de abril de 1962, em Volta Redonda-RJ, vítima de um acidente, quando retornava ao estado de Pernambuco, depois de uma visita aos filhos em São Paulo e Mato Grosso, respectivamente. Ela pretendia fazer uma visita ao seu primo Tenório Cavalcante, o lendário “Homem da Capa Preta”, em Duque de Caxias, para onde seguia antes de voltar para sua terra, vez que na adolescência residira por aproximadamente 4 anos na pequena propriedade rural de seu tio, pai de Tenório, de quem a mesma cuidou. 

Acalentava o sonho de conhecer um avião, achava, conforme ela mesma dizia: interessante ver aquelas máquinas voando como pássaros. Seu filho, Joaquim, sabendo disso a esperou em Jales-SP, no final de 1961, com um avião de sua propriedade. Lembro-me, como se fosse hoje, de lhe perguntar se havia gostado da viagem, ela respondeu que adorara, mas que havia ficado mouca (surda). Este foi o primeiro e único reencontro de Maria Tenório com Joaquim e sua família, dado o desfecho no Rio de Janeiro. 

Os contatos anteriores a esse reencontro eram apenas por correspondência, via cartas, que demoravam de 30 a 60 dias para chegarem ao seu destino. O sistema de telefonia (interurbano) praticamente não existia, quando muito se falava de uma capital para outra ou de uma cidade grande para outra também grande, com demora nunca inferior a 10 horas. 

O interurbano chegou a Cassilândia somente nos idos de 1976, com Pernambuco na prefeitura, quando fez questão que o então Pároco da cidade, Pe. Jhon Pace, fizesse a primeira ligação internacional para um parente residente em Washington, capital dos EUA. Na sequência, ele próprio ligou para o último governador de Mato Grosso uno, o sergipano José Garcia Neto, em Cuiabá. 

Dois dos filhos de Joaquim Pernambuco enveredaram na política, eu, Luizinho Tenório, em Mato Grosso do Sul; e o caçula, Francisco de Assis Tenório, no Mato Grosso. As filhas são educadoras e também moram em Cassilândia. Concomitantemente a política, fui Fiscal de Rendas até me aposentar e hoje, enquanto economista, presto consultoria a diversas empresas, câmaras e prefeituras. Assis é empresário do setor madeireiro com atividades em diversos Estados do país. 

Espero ter sido o mais esclarecedor possível, é muito bom, mesmo que a distância, sentir-me com um pé em minha terra, em meu berço! Aos conterrâneos custodienses um abraço fraterno do sempre sertanejo.

Luizinho Tenório 

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