20 maio, 2021

O Rádio em Custódia - por José Melo


Por José Melo

Comentava-se que o primeiro rádio (receptor) que chegou a Custódia, foi do Senhor José Pereira, que vem a ser bisavô do Paulo Peterson, do Blog “Custódia, Terra Querida”, utilizado exclusivamente para ouvir as notícias, posto que aquele senhor era uma das raras pessoas que acompanhava o que se passava no Brasil e no Mundo. Ainda recordo que, já nos anos 50/60, era único assinante de um Jornal Diário, não sei o Diário de Pernambuco ou o Jornal do Comércio.



Comentava-se que naquele início da década de quarenta, juntava muita gente para ouvir no “Repórter Esso” as notícias da Segunda Guerra Mundial. Era o único receptor na cidade. Na ausência de luz elétrica, o rádio era alimentado por uma espécie de bateria, a que chamavam de “pilha seca”, enormes, que foram diminuindo de tamanho até as dimensões atuais dessas pilhas para aparelhos eletrônicos (rádio, lanterna, calculadoras etc.). Depois é que surgiram alguns outros rádios receptores na cidade.

Portanto a primeira parte da história do rádio em Custódia resume-se a chegada dos primeiros receptores. Creio que ainda na década de quarenta, chegou a Custódia o antecessor das emissoras de rádio: a Difusora. Implantada por José Ferraz de Oliveira, “Duda Ferraz”, pai de Adamastor Ferraz, o “Serviço de Auto-Falantes Duas Américas” foi durante décadas a “rádio” de Custódia. Sua programação era múltipla: haviam os pedidos e ofertas musicais, - ferramenta para jovens realizarem suas conquistas, onde o cliente mandava sua mensagem para seu par, mais ou menos assim: “Atenção muita atenção “fulano (a) de tal. Ouça essa gravação que fulano(a) lhe oferece com muito carinho.” Ou os mais românticos que caprichavam: “Atenção fulano (a): assim como a flor se abre para receber o orvalho da madrugada, abra o seu coração para ouvir essa música”. Já os mais tímido apelavam para o anonimato: “Atenção alguém que está de saia azul e blusa vermelha. Ouça essa página musical que outro alguém lhe oferece.”

Servia também para a divulgação de notas fúnebres, sepultamento ou missa. Servia para propaganda comercial, avisos diversos, e principalmente para acirrar os ânimos das campanhas políticas.



O equipamento da Duas Américas consistia em uma rede fios espalhadas pela cidade, levando o som para as famosas “Bocas de Aço”, que é como chamavam os alto-falantes tipo corneta, instalados em postos nos principais pontos da cidade. Havia um na esquina da Avenida Manoel Borba com a Rua Onze de Setembro, um na esquina da Av. Inocêncio Lima com a Praça Padre Leão, um na própria Praça Padre Leão, e um na Rua Tenente Moura, o que garantia a cobertura completa da cidade pelo estridente da “Duas Américas.” 

O “Stúdio” ficava na atual Rua José Ferraz de Oliveira, mais conhecido na época como “Beco da Difusora”, e dispunha de um amplificador sonoro, que fazia às vezes de transmissor, dois toca-discos, um microfone, uma campainha que acionada indicava a mudança de notas ou textos divulgados, e centenas de discos de 78 rotações, fabricados de cera, pesadões, e que com uso constante provocavam um ruído desagradável quando tocados. Detalhe: constantemente era necessário substituir a “agulha” do toca-discos (na época Pick Up), danificadas pelo cera do disco. 


Depois surgiu uma concorrente, implantada por José Florêncio, para divulgação de suas idéias políticas.

            Com o advento do transistor, houve uma verdadeira revolução no mundo das comunicações, principalmente nas cidades do interior. Surgiram os Carros de Sons, a princípio Jipe, Rural ou Kombi, equipados com toscas caixas de som e geralmente quatro ou mais “bocas de aço”.  O primeiro carro de som de Custódia foi montado em 1976, para a primeira campanha de Luizito: uma Kombi amarela, equipada com um amplificador transistorizado, um motor elétrico pequenino, uma caixa de som enorme, um gravador cassete, e só. Causava sensação na zona rural, onde apoiava a realização de novenas, festas, comícios etc. agora dotados de som e iluminação elétrica.  Depois é que surgiram os modernos carros de som montados em camionetes  D-10 ou Veraneios.

            Vindo de experiência na “Duas Américas”, fui o primeiro locutor de carro de som de Custódia. Anunciava desde festas, notas oficiais, sepultamentos, missas, publicidade comercial até – a maioria, propaganda política. 


Já com relação ao rádio propriamente dito,  Custódia teve a sua primeira experiência no início da década de sessenta, com a transmissão via rádio, de uma partida de futebol, realizada no campo que ficava onde hoje é o Posto Tamboril. Adolfo, radiotécnico e proprietário de um cinema, montou um transmissor, instalou próximo ao campo, e a primeira transmissão de rádio de Custódia foi realizada. Sílvio Carneiro narrou, com reportagens e comentários do Dr. Pedro Pereira, aquela partida de futebol, cujas equipes infelizmente não recordo. Era uma transmissão precária e local. Tempos depois – segundo Carlos Alberto, nova transmissão foi realizada, dessa vez do Estádio Carneirinho.

            Já a primeira transmissão através de rádio comercial, e para municípios vizinhos, aconteceu num domingo qualquer na primeira metade da década de setenta. Eu fazia semanalmente – sempre aos domingos à tarde, um programa de auditório no Centro Lítero Recreativo de Custódia. Era composto por apresentação de calouros, presença constante do conjunto “Os Ardentes”, brincadeiras, gincanas etc.


Chegando ao conhecimento da Rádio Pajeú, de Afogados da Ingazeira, a existência desse programa, foi enviado um emissário para manter contato comigo, para transmissão de um Programa. Tive que mudar o horário, devido à programação da rádio, e numa manhã de domingo fiz a primeira transmissão de rádio de Custódia para toda região. A essa altura já estava popularizado o radio de pilha e audiência foi excelente.

Com o advento da freqüência Modulada – as famosas  FMs, quando de sua regulamentação, recebi na Prefeitura um Ofício do Ministério das Comunicações informando uma freqüência reservada para a cidade de Custódia. Naquele tempo ninguém teve a visão necessária para investir no negócio. Depois, já com a chegada das Rádios Comunitárias, eu não estava mais na terrinha, desconhecendo assim detalhes da trajetória do rádio em Custódia a partir de então, ficando para os atuais comunicadores complementarem essas informações. 


5 comentários:

  1. Bela explanação, Zé Melo.
    A título de informação, queira observar que a nível Brasil, segundo pesquisas do órgão regulador, as tradicionais Rádios em amplitude modulada (AM), batem longe em audiência as FMs.
    Até porque aquelas "vão mais longe" do que estas.
    Abraço.
    Fernando Florencio.
    Em tempo: Zé, dê uma pesquisada: O primeiro rádio a funcionar em Custódia,(um SEMP), não teria o do Sr.Luiz Cajú ??

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  2. Excelente matéria, José Melo. Parabéns. Gostaria só de reforçar a citação da transmissão desta vez no Carneirinho. Lembro bem porque estava por perto e ter um rádio transmisso era o meu desejo. Eu tinha adquirido um par desse equipamento e lembro bem o que transmitiu a partida, estava envolto em uma capa preta nas mãos de Luizito, mas não sei a quem pertencia. lembro dos envolvidos orientando em qual sintonia se faria possível. Eu estava bem perto porque meu pai sempre emprestava a difusoura, amplificador e microfone para que a partida do domingo foi anunciada em carro pelas ruas.

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  3. Que belo artigo. Gostando de ver os relatos neste blogue, de coisas que eu nem sonhava de antes de mim.

    Abraços,
    Maxsuel Siqueira

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  4. Se existe alguém com conhecimento do Rádio, Chama-se Zé Melo, Desde meus tempos de menino sempre apreciei o Rádio, Sempre ouvi as emissoras nacionais,estaduais e até regional, também a famosa Duas América, me deliciava principalmente nas Segundas feiras, Quando a matutada oferecia música para seus amores. Talvez os profissionais do Rádio hoje não saibam das dificuldades que se enfrentava naquela época, enfim, Parabéns meu amigo Zé Melo.

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  5. Dificuldades sob todos os aspectos. Se ocorresse uma pane nos equipamentos, era uma dificuldade tremenda: o aparelho com defeito tinha que removido para as cidades grandes, pois não existiam técnicos do ramo em Custódia.tudo era na base da gambiarra. Isso sem falar nas limitações da qualidade dos equipamentos. Os microfones não permitiam a transmissão com a voz em tons normais, tinha que ser no "grito", sem falar nas distorções que apresentavam. Para mim, foi difícil me adaptar aos microfones mais sensíveis, das emissoras de rádio em que participei de programas, como locutor ou como entrevistado.

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