11 abril, 2022

É mentira Terta? - por José Melo



Na Custódia de décadas passadas, havia um grupo de amigos que costumeiramente se reuniam nos finais de semana para botar o papo em dia e molhar a garganta. Um dos pontos preferidos da turma era o Bar de Joaquim Cabral, primeiro na antiga Bomba, como se chamava o centro da Avenida Inocêncio Lima, por abrigar um famoso posto de gasolina, depois na antiga Rua do Açougue, a Avenida Luiz Epaminondas, onde trabalhei auxiliando no atendimento aos clientes.

Entre os muitos freqüentadores, recordo Zé de França, Chefe do escritório local do IBGE, Zé Honorato, eletricista de autos, Manoel do Cortume, Firmino, funcionário Público, Chico Eugênio, Coletor Estadual, entre muitos outros.

Um dos passatempos a que assistia frequentemente, era a disputa pela mentira mais cabeluda. Das que ainda recordo, selecionei estas:

O cara fez uma curva tão rápido no seu caminhão, que o passageiro que ia na boléia chegou a ver a placa traseira do veículo;

O motorista contou que subiu uma ladeira tão íngreme no seu caminhão, que a cinza do seu cigarro, que estava na boca, caiu nos seus olhos;

A roça de dez hectares que o Avô de Zé de França preparou, quando ele botou fogo na broca (queima da vegetação derrubada para a roça), a bicha queimou tanto, mas tanto mesmo que a terra encolheu de dez para nove hectares;

Já outro motorista aloprado fez um curva tão rápido, na esquina do PTB, que o caminhão deu um grande tombo, deixando a marca do pneu no calçamento, com o nome” Firestone”;

O caçador só tinha um cartucho na sua espingarda, quando passou um bando de arribaçãs próximo Então ele rapidamente apontou para o bando, e no momento em que apertava o gatilho, balançou o cano da espingarda, espalhado os chumbos. A idéia deu tão certo, que dos oitenta chumbos que tinha do cartucho só um errou o alvo. Ele abateu setenta e nove arribaçãs com um só tiro. Quando viu aquilo pensou ser um milagre, e levantou as mãos para o céu, agradecendo. Nesse momento ia passando um grande perdiz que ele pegou facilmente. Deu um passo à frente e levou uma baita de uma topada. Era um imenso tatu, que ele segurou na hora.

Já o outro caçador contou: “ fui caçar de espera, de madrugadinha na bebidas das Juritis. Quando o dia vinha amanhecendo, apareceu tanta Juriti, mas tanta mesmo, que eu não podia parar de atirar, era “pei, pei, pei,”, foi mais de cinqüenta tiros.

Ao que o seu ouvinte pergunta:

“ – Você nem recarregava a espingarda?

A resposta foi imediata:

“ – E quem disse que dava tempo/”.

Texto: José Soares de Melo (jotamelo@exatta.com)

2 comentários:

  1. SENHOR JOSE MELO
    EU SOU FILHO DE CHICO EUGENIO, FIQUE AGRADECIDO AO SENHOR POR LEMBRAR DO MEU PAI NO SEU TEXTO "É MENTIRA TERTA? AGRADEÇO SINCERAMENTE A SUA LEMBRANÇA
    NÃO SOU DE CUSTODIA, MAIS É COMO SE FOSSE, FOI CRIADO POR UM BOM TEMPO NA RUA DA VARZEA, E MORAVA JUNTO AO MESTRE LUNGA DE SOUDOSA MEMORIA.
    JÁ TIVE O PRIVILEGIO DE LER OS SEUS ARTIGOS NO BLOG, CADA UM MELHOR QUE O OUTRO. MEUS PARABENS POR ESSE SUA INICIATIVA.

    MARCOS EUGENIO

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  2. Um bom livro! Li e reli e não sei onde foi parar o perdi. O Pantaleão Pereira Peixoto, a sua esposa Terta e seu criado Pedro Bó. Belas histórias escritas pelo gênial Chico Anysio. Parabéns pela matéria José Melo. E pela postagem amigo Paulo Peterson.

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