28 março, 2022

Antonio do Junco - por José Melo


Jose Melo
Recife-PE
Setembro/2013



Naqueles tempos antigos, corriam muitos boatos interessantes. Mentira ou verdade, não se deve assegurar, mas pela curiosidade dos fatos, muitos deles devem ser lembrados.

Conta-se que a maioria dos grandes fazendeiros, com medo de ataques de cangaceiros, sempre que arrumavam dinheiro, escondiam muito bem escondido, na maioria das vezes enterrados próximo a um lugar de boa segurança, e de um ponto de referência fácil de ser reencontrado. Um lajeiro, uma pedra, uma lagoa, enfim, qualquer ponto que assegurasse que o local não seria esquecido por quem enterrasse o dinheiro. E aí surgiu a lenda das Botijas.

Dizia-se que se um desses proprietários morresse sem desenterrar a botija, a sua alma ficaria vagando, penando, até que alguém desenterrasse a dita cuja. E que muitos eram escolhidos por essas almas, para desenterrar aqueles tesouros. Teria que ser alguém muito corajoso, pois a botija só poderia ser desenterrada a meia-noite em ponto, e o sortudo teria que ir sozinho, e ainda ter que aturar as aparições do demo, que tentaria espantar o mesmo, para que a alma do dono da botija fosse para o inferno. E não adiantava levar alguém ou desenterrar o tesouro durante o dia: nesses casos, a botija era encontrada, porém todo o ouro, prata e dinheiro se transformaria em carvão.

Essa explicação talvez justifique o boato que correu há muitos anos em Custódia. Contava-se que um velho fazendeiro, rico, de tradicional família local – conhecido por Antônio do Junco, juntou uma verdadeira fortuna durante a sua vida, com a venda de gado criado na caatingas do Moxotó. Dizem que o Fazendeiro era mais seguro que papagaio no arame: não gastava com nada, e tudo que ganhava, era amealhado em local desconhecido.

Aliás, dizem que certa feita ele vendeu uma grande boiada a boiadeiro desconhecido, por um preço bem acima do mercado, porém com pagamento para alguns dias depois. Passadas semanas, meses e meses sem que o boiadeiro esperto voltasse para efetuar o pagamento, seus vizinhos começaram a questionar o velho fazendeiro

– “ E aí, Seu Antônio, parece que o cabra lhe enganou!

Ao que ele, inocentemente retrucava, afirmando:

– “É, ele pode ter me enganado, mas ele também vai ter prejuízo, pois eu vendi a boiada muito caro!!!”

Como disse anteriormente, verdade ou mentira, nada se pode provar. Apenas repassei o que ouvi várias vezes. Como repasso o que ouvi durante muitos anos, sobre a botija de Antonio do Junco.

Contavam que um parente dele, desconfiado de que ele estaria escondendo o dinheiro, procurava por todos os meios descobrir onde ele guardava aquela fortuna, sem nunca conseguir.

Dizem que certa vez, esse parente estaria caçando pelas caatingas, quando avistou o velho Antonio do Junco, sorrateiramente, aproximar-se de uma velha baraúna, subir em seu tronco enrugado, e, cuidadosamente enfiar polpudos maços de contos de réis no oco da baraúna, recobrindo cuidadosamente o buraco com cascas e folhas, e retornando para casa.

O parente esperou que ele fosse embora, acompanhou sorrateiramente, e quando o velho entrou em casa, ele voltou correndo para a baraúna que lhe aguardava com uma fortuna.

Em pouco tempo corria a notícia de que “ fulano” tinha achado uma botija, pois ele que nada tinha, já estava rico, morando na rua, em casa cara, no centro da cidade, com um bom comércio e dinheiro a rodo. Verdade? Mentira? Não sei. Só sei que ouvi contar que foi assim.

Texto:
José Soares de Mélo
jotamelo@exatta.com.br

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