15 junho, 2025

[Bilhetes do Sertão: Luiz Cristovão dos Santos] O Roteiro Perdido


Imagem Internet


De repente. Custódia me apareceu na curva da contra seca. A noite havia me surpreendido em plena viagem. E a luz das estrelas sobre o mágico céu dos sertões, sentindo cheiro agreste da terra revestida de pereiros e de quixabeiras, todas engalanada no milagre do inverno. Na noite embalsamada de junho eu vinha evocando passado, os itinerários da infância tão cheia de marcos indeléveis de fatos de acontecimentos que nunca mais saíram da lembrança.

Ali estava diante dos meus olhos a Vila de Custódia, hoje cidade recolhida ao seu sono, sem rumor nem agitação como eu amava, que a noite ia alta e as estrelas esmaeciam.

Lembrei-me de Proust. Dos roteiros perdidos e dos caminhos ausentes, riscados no mapa do país da infância.

Em verdade amigos, eu não passo de um sentimental. Quem pode matar o garoto que vive no coração de cada homem?

Quem pode fazer silenciar a canção distante vinda do fundo dos tempos, doce canção de embalar que as mães cantam junto aos berços nota suavíssimas de ternura que se destilam no coração, como o orvalho das madrugadas nas corolas abertas?

Por isso eu estava ali, que minha terra era aquele "sertão brabo" de baraúnas e seriemas e quixabeiras e chapéus de couro do pajeú e do moxotó. Eu vinha para romaria ao passado. Para olhar novamente a paisagem amiga que os meus olhos ficaram, quando os abri para o mundo.

A "Fazenda Cangalha", as águas do Bebedouro, a casa grande de "seu"  Né da Barra, o alto do Preto Fogo-Pagô, do velho Benício, que fazia o chapéu de couro como ninguém. Muita coisa havia mudado. O tempo destrói. A vontade dos anos tem fome e tudo devora. Onde estava a igrejinha branca do padre Leão Verzeri ,onde as corujas gemendo de madrugada e mal assombradas passavam sobre as telhas escuras e o sargento Goiana rifle à mão, autoridade até debaixo d'água? E Erasmo de seu Samuel, alfaiate de ventre redondo e sopro macio no bombardinos?  E o fogueteiro João de Barros, de voz rouca contando "causos", caçadas de onça, encontros com Lampião, visitas ao meu padim "Padre Cicero" e tanta história que ele colocaria com a imaginação, fértil, trepado nos fardos de algodão de seu Antônio do Junco?

E o soldado Mané Galo, sentado no tamborete e descascando cana caiana com a faca de ponta, dizendo a Lampião, num rasgo de audácia - "Vossa senhoria só entrou aqui na vila sem dar tiro, porque eu sou um sordado destacado e tomo conta de seis preso, mas se tivesse outro, eu deixaria ele aqui vigiando os detido e antes de entrar na rua, nós ia ver quem era mais homem" 

Evoquei os meninos de "seu" Joaquinzinho da Cangalha", do açude da Rua da Várzea, criados ao sol e chuva companheiros de travessura e dos bancos de escola da professora dona de seu Serapião, senhoras do mundo e da vida nos longos passeios pelas fazendas vizinhas e nas retiradas dramáticas de seu Antônio Junco, pedindo dinheiro e jurando bala de papo-amarelo e de rifle cruzeta. Evoquei os amigos primeiro das travessuras banhos de açude, caçadas de arribaçãs, nas quais Catonho Florêncio era o rei da pontaria e das mentiras de arrepiar. Por certo que já não existiam mais moirões das porteiras onde trepados, vimos o gado recolher a tardinha. E as novenas do mês de maio?

Festa de São José com as zabumbas roncando e o foguetórios espantando os cavalos da matutada, alguns dos quais amarrados ao pé do coco catolé, que havia de fronte a casa do velho Gomes e do tamarineiro de seu "Joaquinzinho".

Grande e estranho mundo de aventuras de liberdade de sol ardente. As vezes passavam as redes dos defuntos, enfiados em caibros longos, gotejando sangue, que o morto "brigará até morrer", como diziam os acompanhantes. Então a meninada seguia o enterro, subia a encosta ao nascente da vila, penetrava no pequeno quadrado do cemitério e via depositarem na terra vermelha, o corpo dos que morriam por dá-cá-aquela palha". Tomava-se parte da vida, em tudo: nas suas dores, nas suas amarguras, nas suas alegrias

Luiz Cristovão dos Santos
Arcoverde,-PE
12 de Fevereiro de 1950
Bilhetes do Sertão, coluna no Diário de Pernambuco

13 junho, 2025

[Bilhetes do Sertão: Luiz Cristovão dos Santos] Evocação de Custódia



Este recorte de Jornal, foi encontrado por Fernando José nos arquivos pessoais de Osminda Carneiro. Foi escrito por Luiz Cristovão dos Santos e publicado na Revista do Agreste (Arcoverde, 1949). Também foi publicado em 
Bilhetes do Sertão, Poemas e versos sobre o sertão Nordestino.


Meu pai era farmaceutico na vila. O velho Manuel Cristovão dos Santos atendia vinte leguas ao redor, montatado numa fubica Ford, curando mazelas, ajudando a nascer os caboclos ser­tanejos, as vezes operando milagres, como no salvamento de Antonio Caipora, que lcvou um tiro de fuzil, na "taba-da-venta" do soldado Euclides e hoje esta vivo para contar a história e a pericia do velho Cristovao.

Naqueles mundos, sem recursos medicos, meu pai era um herói anônimo, atendendo a quern o procurava, de noite ou de dia, correndo risco de vida como na vez que Lampião mandou buscá-lo, noite alta, por um mensageiro suspeito, pretextando um parto nas vizinhanças quando em verdade, bem pertinho, o bandido estava com três "cabras" baleados.

A hora da saída, por intuição, minha mae desconfiou daquele chamado a "peso de ouro" na madrugada deserta. No outro dia sabia-se da realidade: Lampião tencionava incorporar a tropa "um doutor" para tratar dos feridos nos tiroteios. Naquela vida aspera de terra bár­bara, com as volantes do tenente Higino batendo as estradas, as alpercatas rangindo e o sol faiscando no aço dos mosquetões, no meio ambiente agrcssivo onde as notícias dos tiroteios sangrentos agitavam a vila, como o estrondo dos trovões de março, havia algo de es­tranho e novo para minha sensibilidade.

Era um homem baixo e moreno, cujo nome esqueci, que invariavelmente nos dias de feira chegava logo cedo a casa do comerciante Leopoldo Mafra. Entrava em silencio e tranquilamente se encostava ao balcão. Tambem em silencio tomava a sua "bicada". "Seu" Leopoldo trepado num tamborete, tirava da prateleira ao lado direito uma sanfona e a entregava ao homem. Ele se sentava, cruzava as pernas, ascendia um cigarro, pendia a cabeça sobre o "foIe" e corria os dedos ágeis sobre o teclado, nas variações.

Entao vinha a música, doce e envol­vente, feita das amarguras da gente humilde, irrmã da alma dos retirantes e do canto maguado das juriti . "Seu" Jose Guilherme - hoje profícuo Coletor em Pesqueira - quedava-se, mãos nos bolsos, os olhos perdidos no além, extasiado com a sanfona hurnilde. Eram valsas chorosas, o baião, as toadas dolentes que vivem no coração do povo e a sanfona as arranca para a vida exterior.

Eu estava de lado, imovel e embevecido. Nenhuma força hurnana era capaz de me tirar dali. Nern os cantadores no pateo fronteiro no meio da feira, cantando a História do Capitao do Navio, o Encontro do Satanaz com o Padre Cicero, a Donzela Teodora, ver­sos do imenso poeta negro Catingueira e de Romano da Mãe d'Agua. Nada me arrastava dali. Eu ficava ouvindo a musica pre­so a mensagem poética daquele artista bárbaro que fascinava a minha sensibilidade de criança com a música que anos depois, deu fama e dinheiro a Luiz Gonzaga.

Ainda hoje ao ouvir uma san fona recordo o artista anônimo, o musico humilde que transmitiu ao meu coração de menino a poesia da alma da minha gente.

12 junho, 2025

[Bilhetes do Sertão: Luiz Cristovão dos Santos] Frei Damião em Custódia (1950)


Imagem ilustrativa
Fonte: Portal São Mamede



Vi Frei Damião pregando na missão em Custódia, voltava de Betânia e notei desusado movimento nos caminhos onde as cruzes em quantidade assinalam as mortes e as emboscadas. 

Depois de "Sítio dos Nunes" inquiri de um dos viandantes apressados qual o motivo da "romaria" e ele me respondeu com a face cheia de Santa indignação por minha ignorância:

- Pois o senhor não sabe? Frei Damião vem aí descendo de Maniçoba.

E sem mais atenção fustigou a burra cardã e abalou pela estrada, pisei no acelerador e entrei em Custódia onde a multidão se esparramava galgando os degraus da matriz enchendo as ruas derramada na praça em bandeirada. Foi quando Frei Damião chegou. O progresso havia modificado o profeta. Porque o frade austero já não percorre os caminhos batendo as estradas com as sandálias humildes, a poeira braba lhe acinzentando a estamenha parda posando nas barbas grisalhas, como os profetas que outrora palmilharam os caminhos do mundo.

Frei Damião saltou de um jeep ultra moderno. Um chauffer (motorista), um frade moço, risonho e corado, de barbas cor de mel, a voz do tenor lírico, lembrando um jovem capitão do Cesares que houvesse abandonado via Appia e andasse desgarrado naqueles mundos.

Na parte traseira da viatura, fios, arames, transmissores, ferramentas, alto-falantes, pick up, e todo arsenal necessário a retransmissão e ampliação da voz temível do frade nas pregações que abalam o sertão. Colocaram uma tribuna na calçada da matriz, o frade moço, mecânico e o chauffer ligou os fios, preparou a engrenagem e a voz de Frei Damião rolou sobre a multidão estarrecida. A princípio o taumaturgo descreveu as delícias do céu, os querubins tocando harpa e uma nuvem de incenso vagando no azul entre anjos e santos. A multidão ouviu em silêncio, maravilhada e boquiaberta, então de repente o frade mudou. Sacudiu os braços e soltou a maldição tremenda:

- Homens sem Deus, mergulhados na lama do pecado. Amancebados! Mentirosos! Adúlteros! Arrependei-vos dos vossos pecados.

E passou a descrever as torturas do inferno. Labaredas subiam, tochas ardendo, um relógio marcando: - "Sempre!" Sempre! Nunca! Nunca! que são as horas da Eternidade. E no meio da fornalha, o suplício tremendo do fumaceiro de enxofre sufocando tudo. Aí a multidão se abateu, lábios ciciavam "Eu pecador me confesso a Deus", as almas tremendo de pavor como corpo sacudidos de maleita. 

Junto de mim um Matuto de Quitimbu, tinha os olhos esgazeados.  Cheguei mesmo a ver o suor lhe empastando afronte morena. Uma velha trancou o chale com força, cobrindo a cabeça toda, temendo uma baforada do Satanás. E ao meu lado um praça desatou o lenço que trazia ao pescoço, como se a coisa ele abafasse a respiração. E voltando-se para um companheiro avisou que ia tomar uma bicada pois o cheiro de enxofre estava lhe sufocando a garganta. 

Depois Frei Damião baixou os braços, serenou a voz, nunca na minha vida visilêncio maior. A praça parada, o povo de lábios chumbados, os olhos fitos no frade, só o vento inocente agitava de leve as bandeirinhas de papel seda que trapejavam acima das cabeças e livres do fogo do inferno. Então o frade rezou e a multidão respondeu contrita e imóvel, como se ao invés de milhares de boca ali, estivesse apenas uma pessoa postada diante do pregador famoso, na hora aguda do "Juízo Final", prestando contas ao Altissimo. 

Aquilo não era Custódia, era o Vale do Josafá.


Luiz Cristovão dos Santos
 Arcoverde-PE
Janeiro de 1950

11 junho, 2025

Relembrando o Monsenhor Urbano Carvalho


Filho de José Bernardino de Carvalho e Sá e de Lourança Gomes de Sá Carvalho, o monsenhor Urbano sertanejo da gema, nasceu no dia 25 de maio de 1895 em São José do Belmonte na vila de Santa Maria (hoje Tupananci e pertencente a Mirandiba), sendo descendente dos Carvalhos que se fixaram no Pajeú, luziram em feitos e trabalhos, quando levantaram os primeiros currais e as primeiras fazendas que depois foram as vilas e as cidades, nos primórdios da civilização sertaneja, a que mestre Capistrano de Abreu chamou pitorescamente a “civilização do couro”.

A mãe do monsenhor Urbano, dona Lourença, era irmã de Eustáquio Gomes de Sá Carvalho, assassinado em 21 de outubro de 1907 por Manoel Pereira da Silva Filho (Né Dadu), em decorrência da titânica briga de Carvalho com Pereira em princípios do século passado, portanto monsenhor Urbano era sobrinho do finado Eustáquio Carvalho.

Antes de entrar para o seminário, o jovem Urbano passou uns tempos na fazenda Oiticica em Belmonte, propriedade do casal Joaquim Leonel e Donana, seus primos. Ao tempo que passou na dita fazenda, manteve uma escola e preparou os filhos do major Quinca para ingressar no Ginásio Diocesano de Triunfo.

Fez curso eclesiástico no Seminário de Olinda com ajuda de fazendeiros parentes seus, inclusive, do major Joaquim Leonel Pires de Alencar cuja esposa Ana Pires Brandão o presenteou com a sua primeira batina e uma teca de prata para hóstia. Foi ordenado em 26 de abril de 1925 em Pesqueira.

De estatura mediana, forte, gestos mansos, olhar penetrante, a Diocese de Pesqueira tinha naquele vigário humilde um dos seus grandes valores. Corria mundo a fama do monsenhor Urbano de Carvalho como orador e profundo conhecedor do vernáculo. Monsenhor Urbano foi professor no velho “Colégio Cardeal Arcoverde” de Pesqueira. O Colégio do então padre Urbano recebia os meninos dos sertões, que chegavam espantados, agressivos, pés comprimidos nos sapatos ringidores, lanhados de espinhos e queimados de sol. Então padre Urbano os recebia, risonho e afável para desbastar as arestas nascidas na liberdade do pátio das fazendas, na vida livre dos campos. Dizia o escritor e jornalista Luiz Cristovão dos Santos que “aquele sacerdote era um São Francisco caboclo pregando aquelas aves agrestes que esvoaçavam de encontro aos janelões do velho sobrado.

Não usava de violência nem erguia a voz. Persuadia com os gestos e as palavras da imensa ternura humana que lhe brotavam do coração. E tal era a orientação que imprimia aos estudos, promovendo reuniões literárias, levando a cena pequenos dramas, incentivando, abrindo as almas e clareando as inteligências infantis, que pouco tempo depois bugrezinhos do Pajeú e do Moxotó declamavam versos de Castro Alves, de Olavo Bilac e de João de Deus, com a voz desacostumada dos aboios”.

O Bispo da Diocese, Dom José de Oliveira Lopes, certa vez mandou que constasse em ata, ter sido o padre Urbano “educador emérito de várias gerações sertanejas”.

Na Catedral de Santa Águeda em Pesqueira em solene celebração, com a presença do clero diocesano, familiares e fiéis, foi-lhe entregue o título de Monsenhor. A honraria foi concedida pelo Papa Bento XV, atendendo pedido feito por Dom José de Oliveira Lopes e o Conselho de Presbíteros. Esta concessão do título de monsenhor concedida pelo Santo Padre foi uma forma de reconhecimento os relevantes serviços prestados pelo sacerdote Urbano Carvalho na sua comunidade e a Igreja.

Em anos de fé, o monsenhor Urbano peregrinou a Roma mais de uma vez.

Em 31/08/1933 embarcou para Salvador para participar da grande solenidade do 1º Congresso Eucarístico Brasileiro na Bahia.

Em substituição a Antônio Correia da Cruz, foi nomeado prefeito do município de Floresta em maio de 1931 e por imperativo do seu sacerdócio, em janeiro de 1933 foi chamado a dirigir os destinos da Diocese de Pesqueira, em substituição ao saudoso bispo D. José de Oliveira Lopes que havia falecido. Desta forma, a vaga de prefeito de Floresta foi então ocupada pelo coronel João Novaes.

Presidiu o “1º Congresso Econômico do Sertão” ocorrido em Triunfo, em princípios do mês de julho de 1934, destinado a discutir e promover medidas de interesse para o progresso e desenvolvimento daquela vasta região. O referido congresso foi uma iniciativa de um comitê central composto das seguintes pessoas: Monsenhor Urbano Carvalho, presidente; Dr Deocleciano Pereira Lima, vice-presidente; Dr. João da Luz, 1º secretário; Dr. José A. de Souza Ferraz, 2º secretário, e Dr. José Cordeiro. À assembléia compareceram pessoas de destaque inclusive os prefeitos de todos os municípios do Sertão; registro aqui a participação no referido evento do prefeito de Belmonte, Sr. Jacinto Gomes dos Santos.

Monsenhor Urbano Carvalho, uma das mais destacadas figuras do clero pernambucano, no entanto foi na Paróquia de Sertânia que o mesmo realizou um trabalho invulgar assinalado por um intenso movimento religioso e por esplêndidas obras sociais que o tornam um benemérito da terra onde havia se fixado há vários anos, alvo da estima, do respeito e da admiração de todos os seus paroquianos.

Em Sertânia monsenhor Urbano construiu um santuário na cidade. Fundou um albergue para os pobres. Construiu nova Casa Paroquial. Ergueu a golpes de tenacidade um Centro de Estudos em Custódia. À frente de duas paróquias, ainda encontrava tempo para, no meio dos seus livros e dos seus quadros familiares, no gabinete modesto, onde uma caveira em cima de uma mesa sorria da humana vaidade, meditar, estudar e escrever artigos para os jornais.

No dia 1º de maio de 1965 Sertânia festejou os 40 anos de vida sacerdotal de monsenhor Urbano. Na ocasião os fiéis daquela cidade prestaram carinhosa homenagem ao velho pároco. Todos que o conheceram sabem de seu espírito de abnegação e verdadeiro amor pelas suas ovelhas. Monsenhor Urbano, pelos serviços prestados ao Clero brasileiro, por duas vezes mereceu o acesso ao posto de bispo tendo declinado, por não se considerar merecedor de tão alta distinção.

Por ocasião das comemorações dos seus 40 anos de sacerdócio, o reverendo fez distribuir, entre os presentes uma linda poesia de sua autoria e transcrita a seguir:

OFERTÓRIO

(À meus afins pelo sangue, sacerdócio, amizade e trato espiritual)

Senhor! Senhor! As minhas primaveras,
Que são belas, porque sacerdotais,
Recebei-as, Jesus. Tornai-as veras
Com os vossos carismos paternais.

São quarenta eras vividas. E, deveras
Passados tão somente entre os trigais
Das almas mais humildes, mais sinceras
Da terra sertaneja. Roseirais.

Em todo esse passado no Sertão
Neste dia, no altar, agradecido.
Enviai-me, ó Deus! – eis-me o pedido:

A benção do SANTÍSSIMO CORAÇÃO.

Sertânia – PE – 26/04/1965 – Monsenhor Urbano de Carvalho.

Aos 83 anos de idade, já suspirava pela união definitiva com seu Deus. No dia 2 de abril de 1978 depois de receber a Unção dos Enfermos, com o rosário nas mãos e nos lábios os nomes de Jesus e Maria, sua alma voou ao Céu.

Por: Valdir José Nogueira de Moura
Publicado no Blog Alvinho Patriota

[Campanha] Vida nova a sanfona de Zé Caboclo



Meu nome é José Pereira, mais conhecido como Zé Caboclo por toda Pernambuco! Percorri todo o Nordeste tocando por varias cidades trazendo alegria e felicidade para o coração dos nordestinos.

Passei anos da minha vida levando alegria de feira em feira, de festa em festa, puxando minha sanfona e fazendo o povo sorrir, dançar e se emocionar com o som da minha música. Onde tinha um canto nordestino, lá tava eu com meu fole, cantando as belezas dessa terra e o calor desse povo.

Mas em 2017, a vida me pregou uma peça: sofri um AVC que me obrigou a parar de tocar...

Foi um baque, daqueles que a gente sente no fundo da alma. As limitações físicas vieram, e junto com elas, minha sanfona — companheira de tantas histórias — foi se acabando também.

Hoje conheço a palavra de Deus, e vivo guiado por Sua luz. Meu maior sonho agora é voltar a tocar, mas não mais para o mundo, e sim para louvar e glorificar o nome de Jesus! Só que, pra isso, preciso da ajuda de vocês. Minha sanfona já não aguenta mais, e pra continuar espalhando a mensagem de fé e esperança, preciso de uma nova.

Com uma sanfona nova nas mãos, volto a tocar não só notas, mas corações. A música que sai do fole não é só som — é emoção, é cura, é saudade, é amor.

Se você puder ajudar, seja com quanto for, já é uma bênção!E se não puder doar, compartilha com os amigos, com a família, com quem ama a música e a fé nordestina.

Vamos juntos realizar esse sonho de Zé Caboclo voltar a tocar — agora, para Deus!

Deus abençoe cada um de vocês! 


CLIQUE AQUI PARA AJUDAR

Você também pode contribuir via Pix usando a chave: 5549878@vakinha.com.br

08 junho, 2025

[Biografia] José Rodrigues de Almeida "Lola"



Em 14 de setembro de 1937, na Fazenda Lagoa Cercada - Custódia-PE, nascia JOSÉ RODRIGUES DE ALMEIDA, mais conhecido por Lola.

Terceiro filho do casal JOAQUIM RODRIGUES DE ALMEIDA (Quinca da Barra) e QUITÉRIA QUEIROZ DE ALMEIDA.

O casal, tiveram 7 filhos: Margarida, Manoel (Netinho), José (Lola), Josué (Leca), Judith (Nicinha), Davi e Socorro, todos com o sobrenome RODRIGUES DE ALMEIDA.

Infelizmente, Quitéria faleceu ainda jovem, deixando sete filhos, ainda de menores. Tinha 13 anos quando ficou orfão de mãe. Sua tia cuidou dele com muito carinho com seus 

Após o falecimento de sua esposa, Quinca da Barra casa com sua cunhada CAPITULINA, que ajudou na criação dos sete sobrinhos, que ficaram órfãos de mãe.

Dessa união conceberam mais 4 filhos:

Maria das Graças (Gracinha), José (Zezinho), Fátima e Arimathéa (Ary); e todos com os mesmos sobrenomes, Rodrigues de Almeida, um total de onze filhos.

Conforme informações recebida de minha Mãe, Nilda Campos, minhas tias e demais amigos que com papai conviveram; sempre me passaram a seguinte imagem sobre ele: Lola foi um jovem muito fechado, sério, destemido e de poucas palavras. Ou seja, um homem antipático! Assim ouvi essa frase por diversas vezes.

Lola casou, aos 22 anos, em 19 de março de 1960, com a jovem, Nilda Campos de Queiroz, ela com 19 anos, na Igreja Matriz de São José, de Custódia.



Foto tirada na Missa de 7º dia


Dessa união houve quatro filhas:

Verônica Maria Campos de Almeida - 11.02.1961
Mônica Zaíra Campos de Almeida - 20.02.1962
Francisca Valéria Campos de Almeida- 05.03.1963
Rogéria Marília Campos de Almeida - 18.07.1964.




O casal não perdeu tempo na concepção dos seus quatro rebentos. Até parece que previam a partida precoce de Lola! A uniao do casal durou apenas 5 anos.




Ainda segundo alguns relatos familiares:

Era boiadeiro, negociava e vendia gado na região. Gostava de apostar em corridas de prado e de Festas de Pega de Boi no mato. Saia para o campo encourado e só voltava com a uma "reis," garrote ou novilha da qual se propusera a trazer, mesmo com a "cara" toda rasgada e sangrando, devido aos ramos da caatinga. Teve um timpano de um de seus ouvidos atingido, o que resultou na perda auditiva. 

Ele não era político, nunca se candidatou a nenhum cargo público.

Era um HOMEM fiel aos seus princípios, a sua família e aos amigos. Pois os defendia fervorozamente.

Porém, em 6 de junho de 1965, foi alvejado novamente, por conta de brigas políticas. Todavia, dessa segunda vez, foi fatal! E às 5h da manhã, do dia 7 de junho de 1965, faleceu vítima de hemorragia interna, devido aos projéteis de arma de fogo, no hospital da cidade de Sertânia - PE. Morreu conversando e chamando por seu compadre e amigo Zé Burgos.



"Cada uma de nós compondo sua história"


Faleceu muito jovem, com apenas 27 anos. Deixando viúva, sua esposa Nilda de apenas 24 anos, e filhas com as seguintes idades: Verônica 4 anos, Mônica 3 anos, Francisca 2 anos e Rogéria com apenas 10 meses.

Foram tempos dolorosos e difíceis, em todos os aspectos. Lola não deixou herança suficiente, a fim de que suprissem as necessidades básicas para criação e educação de suas pequenas, na época não havia pensão para viúvas.

Contudo, Deus na sua infinita misericórdia não nos abandonou! Pois, Mamãe e nossos avós materno, Izaías de Queiroz Amaral e Francisca de Siqueira Campos (D. Feinha), deram todo suporte necessário para seguirmos com dignidade, e nada de necessário nos faltasse. Melhor falando, eles não nos deixaram sentir a orfandade.

Minha mamãe foi guerreira, foi valente, incansável e uma referência para suas filhas, meu maior orgulho é ela!


Nilda Campos e suas filhas


Portanto, há exatos 60 anos perdemos nosso pai, Lola, não posso dizer que guardo dele recordações, so informações de sua personalidade e seu porte físico: de um Homem sério, destemido, "barriga cheia", que gostava de uma mesa farta e cheia de amigos pra almoçar, pois era um amigo fiel, deixando 4 filhas pequenas (de cobrir com um balaio) para honrar, as perdas de seus entes e amigos queridos, com seu próprio sague, isto é, deu sua sua própria vida! Até hoje é lembrado por seus amigos ou que conviveu.

Infelizmente, era muito jovem e sem "juízo", ainda melhor dizendo: um jovem inconsciente e inconsequente.

De seu porte físico tenho poucas fotografias, algumas mais fiéis e outra um pouco produzida. Das quais nos retrata um Galego da Barra bonito, sisudo, alto, estatura mais ou menos 1,85 m. Minha mãe dizia que ele parecia com o ex-goleiro da Seleção Brasileiro, o gaúcho Tafarel.

Perdemos nosso PAPAI, ainda um menino; o prejuizo, infelizmente, foi nosso.

Descendentes de Lola:

5 filhas, sendo a primeira filha, fruto de sua adolescência chamada Maria de Lourdes, atualmente tem 12 netos e 23 bisnetos.

E é isso. "Morre o homem e fica o nome"...

LOLA da Barra!



Rogéria e sua mãe Nilda Campos

Biografia feita por:

Rogéria Campos
Custódia-PE
Junho/2025

05 junho, 2025

Morre minha titia amada! Oscarina era seu nome.




Como cristãos, sabemos que a morte não é o fim.

A morte é um mistério insondável que desafia as nossas tentativas de compreensão e explicação.

Vivemos a vida com suas poucas certezas, sendo uma delas a de que nada é definitivo. Só temos como certo o minuto presente. Passado esse instante, já não se tem certeza de mais nada. É dessa incerteza que vem a forma poética e metafórica de dizer que a vida é passageira. "É um sopro", comparada ao sopro do vento e à nossa respiração.

Com toda a incerteza, ninguém quer partir. E entende-se que a vida é preciosa, trazendo a cada dia uma oportunidade de ser melhor que o dia anterior, de aprender e crescer em todos os aspectos — sem jamais ser escravo do trabalho. De que vale acumular tanto dinheiro, fama, influência e poder, se não somos donos do futuro?

Ah, titia, como eu queria ter falado tudo o que a senhora representou para nós.

O coração e a emoção não deixaram. Não consegui coordenar a minha fala. O choro me sufocou.

Sua história é um exemplo de coragem e resiliência a ser seguido. Casada com Adamastor Ferraz e mãe de sete filhos: Zenilda, Emanoel (Neto), Ana Lúcia, Eliane, Maria da Conceição, Marcelo e Márcio. Seu semblante sereno e firme mostrava que a senhora nunca transpareceu sentimentos de comiseração. E ontem, no sono eterno, seu rosto mostrou a serenidade de uma vida inteira, de uma mulher que viveu metade dos seus dias com a tristeza pela perda de seus cinco filhos: Zenilda, Neto, Maria da Conceição, Márcio e Marcelo. E dois netos: Charles e Cristiano. Dor igual a essa não pode existir para quem é mãe.

Minha titia teve o privilégio de viver noventa e sete anos. E viu a continuidade da sua semeadura nos seus netos e bisnetos. Uma geração que tem dado muito orgulho aos pais e, com certeza, os pequeninos seguirão o mesmo caminho.

Antes de tantos desafios e tristezas, titia era muito divertida. Não perdia festas, não faltava aos bailes de carnaval. Sua presença e a de seu esposo, Adamastor Ferraz, traziam alegria aos foliões. Ela era uma mulher bonita e bem branquinha. Sua vaidade lhe dava requinte e fineza. Suas joias enfeitavam delicadamente seu busto, braços e dedos das mãos. As roupas finas e de linho não tinham nenhuma dobrinha.

Ontem também me lembrei do nosso São João, na Rua da Várzea. Na sua casa ficavam todos os doces, bebidas e comidas típicas. Em frente à sua casa e à nossa, ficava a fogueira, que com seu grande clarão iluminava toda a Rua da Várzea. O São João era bem organizado; a rua ficava toda enfeitada. As crianças brincavam soltando fogos sob a vigilância dos pais. Os adultos, ao redor da fogueira, se aqueciam do frio e viam as chamas e centelhas subirem até o céu. As mulheres faziam suas preces a São João. A quadrilha trazia a alegria de um “Viva São João!” Toda a família dançava ao som das músicas de São João. Os nossos vizinhos também faziam parte dessa festa linda que é o São João.

Destaco ainda o seu amor pelo seu irmão mais velho, meu pai, o Mestre Lunga. Era bonito ver a dedicação de um para com o outro. E, nesse dia três de junho, titia partiu para o encontro de todos que partiram antes dela.


Descanse em paz, titia.
Sua sobrinha,

Lindinalva – Nenê
Amo-te!

Custódia, junho de 2025.