Fevereiro-2021
As figuras populares formatam a face de uma cidade, por vezes deixando marcas profundas na lembrança de seus conteporâneos, ou mesmo eternizando fatos e causos para sempre na memória de uma gente.
Custódia tem acervo rico de figuras populares, que marcaram a face da cidade em seu tempo, que pelos seus dotes, suas habilidades, suas características, suas curiosidades, enfim, pelo seu modo de ser.
Esta semana, vendo uma fotografia de um informe publicitário da Prefeitura de Custódia, sobre a vacinação dos idosos contra o Corona Virus, reconheci de imediato um desses personagens: Zé Brito, em uma foto promocional, no Abrigo de idosos de Custódia. Um simples nome, indiferente para a grande maioria da população atual da cidade, mas uma figura marcante para quem já está chegado nos anos.
Servente de pedreiro da equipe de obras da Prefeitura, Zé Brito era sempre requisitado para trabalhos penosos e pesados, rejeitados pela maioria de trabalhadores da época. Chamava a atenção, no vigor de seus quarenta anos, por duas qualidades que possuía - uma delas chamava a atenção de todos pelo sua peculiaridade: Além de ser conhecido pela sua incrível disposição para o trabalho pesado – insuperável nessa qualidade, ele tinha outra que era motivo de admiração e gozação pela turma de gaiatos, seus contemporâneos: seu apetite era insaciável. Diziam que ele comprava um “quarto de bode” - prá quem não sabe, uma das quatro partes em que o caprino é divido para venda, e cozinhava de uma só vez, e consumia em apenas uma refeição. Um quarto de bode na média pesa entre dois e meio a três quilos. Não posso assegurar que é verdade, mas que ele comia bem, isso é indiscutível.
Assistí uma brincadeira de mau gosto que certa vez fizeram com ele. A Mercearia de Evilácio, sob a batuta de Ticaquinha, nosso amigo Zé Carlos, na esquina da Fraga Rocha com a Praça Padre Leão, era ponto de reunião da galera, pra bate papo. Numa dessas reuniões, Zé Brito estava lá e a turma começou a provocar ele, dizendo que ele era incapaz de comer uma lata de doce pequena, que eles mostravam, apontando para uma lata de extrato de tomate. Desafiado a comer o conteúdo todo daquele “doce” sem beber água, Zé Brito aceitou, e virou o conteúdo em pouco goles. Terminado o lanche, alguém perguntou se o doce era bom e ele respondeu:
- É bonzinho, mais é mei azêdo!!
Tomou cerca de um litro de água e disse que agora estava pronto pra almoçar.
Calejado pelo trabalho e pelo sofrimento, Zé Brito vivia sozinho. Não recordo de nenhum familiar dele, apenas que morava sozinho, sempre trabalhando diuturnamente, numa rotina cansativa, estando hoje, conforme o informe mencionado com cem anos de idade, descansando no Abrigo Público.
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